Cabo Verde já teve uma das maiores taxas de penetração de Internet em África. Teve. Actualmente, o arquipélago foi ultrapassado por países como o Quénia, Maurícias, ou Egipto, (como mostram os últimos dados estatísticos da Internet mundial e do Índex de Desenvolvimento da Tecnologia de Informação e Comunicação), apesar de ser ainda o que obtém melhores percentagens quando comparado com os outros PALOP.
Hoje, Cabo Verde é o 11º país africano em termos de percentagem de penetração da Internet – 40.5 por cento. Atrás do Quénia (que lidera com 69.6 por cento), Marrocos (60.6%), Maurícias (60%), Egipto (54.6%), Seychelles (54.3%), África do Sul (52.6%), Nigéria (52%), Senegal (51.9%), Tunísia (49%) e Zimbabué (47.5%).
Apesar da queda no ranking a nível continental, o arquipélago continua a ser o país dos PALOP a apresentar os melhores resultados, ficando muito à frente de Angola (que tem uma taxa de penetração da Internet de 29.5 por cento), São Tomé e Príncipe (25.2 por cento), e a uma distância ainda maior de nações como Moçambique (5.9 por cento) e da Guiné-Bissau (4.1 por cento).
Os utilizadores africanos, no total, representam 9.8 por cento do tráfego online mundial, o que faz do continente um mercado atractivo pelo potencial de crescimento. Mark Zuckerberg já anda de olho no mercado africano, mas já lá vamos.
Vivem em África mais de um bilião, cento e cinquenta milhões de pessoas, mas só 330 milhões estão ligados à rede, o que em todo o continente representa uma percentagem de penetração pouco acima dos 28 por cento. Em contraste, no resto do mundo – com a Europa na liderança –, praticamente metade dos seis biliões estão conectados à Internet, representando os outros 90.2 por cento de utilizadores.
A Internet chegou a Cabo Verde em 1996, através da empresa CV Telecom e, em 1997 iniciou-se a sua comercialização, com a utilização do serviço de Internet DIAL - UP (28.800 bits por segundo) e com amplitude da banda 64 Kbps através da TELEPAC [documento da ANAC – Agência Nacional das Comunicações – citado por Maria da Cruz Brito na monografia O Papel do Sector Privado para a Sociedade da Informação em Cabo Verde].
No início do processo, os clientes beneficiários eram 200, mas no final de 1997 aumentaram para 474. No entanto, os dois primeiros anos foram experimentais e sua instalação efectiva foi feita em três fases.
A primeira fase foi em 1998 [dez anos depois da primeira rede criada no continente, na África do Sul, por uma equipa na Universidade de Rhodes, liderada por Mike Lawrie] com a instalação do primeiro Router na Praia onde foi feito a conversão de RDIS primário, utilizou-se a DIAL-UP [ver caixa] analógico 56Kbs e digital 64 Kbs. Aderiram ao serviço cerca de 1139 clientes.
Em 1999, foram instalados dois Routers com conversão RDIS primária, na Praia e no Mindelo, com acesso a DIAL-UP e IP. Foi a segunda fase de implementação da Internet. Nesse ano, já havia cerca de 1654 clientes.
A terceira fase foi a da expansão do serviço a todas as ilhas de Cabo Verde. Aumentou a amplitude da banda para 1 Mbps (serviço MIDGLOBAL-MARCONI). A Telecom serviu também de backbone [traduzido para português, significa espinha dorsal, embora no contexto de redes, backbone signifique rede de transporte] à rede Internet do governo (256kbs) a 10000 utilizadores. Nesta fase, a Telecom já tinha conseguido 1863 clientes.
A partir de 2004, foi introduzido o serviço de acesso a Internet em banda larga com a tecnologia ADSL [ver caixa]. Neste ano, cerca de 283 clientes aderiram ao serviço da banda larga, com um aumento significativo, em 2005, passando para 937 clientes. Neste ano, devido ao aumento de tráfico de navegação na Internet, a gateway internacional passou para 10 Mb/s.
Os dados mais recentes sobre a utilização da Internet pelos cabo-verdianos são fornecidos pelo relatório sobre a sociedade de informação (dados de 2015), um trabalho desenvolvido pela União Internacional das Telecomunicações (ITU, em inglês), agência das Nações Unidas, que coloca Cabo Verde na 96ª posição, numa avaliação de 190 países. Este documento, desenvolvido em 2008 e publicado anualmente desde 2009, combina 11 indicadores com o objectivo de conseguir três medidas principais: acesso à net, uso efectivo e capacidade de utilização. Cabo Verde, em termos mundiais, é o 97º país em termos de acesso, o 87º em termos de uso e o 100º em termos de capacidade de utilização.
A Internet na África subsaariana
A revolução digital africana começou no início do século XXI, quando a China iniciou a exportação de televisões a preto-e-branco, na altura por cerca de 50 dólares, para o continente. Foi a partir daí que as transmissões se desenvolveram fora das principais cidades. Esse novo e muito maior mercado provocou grandes alterações, mas hoje é comum a noção que a próxima grande oportunidade nos negócios está nos telefones móveis e na Internet, cuja taxa de penetração subiu 7.288 por cento entre 2010 e 2016, dados estatísticos da Internet mundial.
A chegada de três cabos submarinos a África, em 2010, quadruplicou a banda larga e diminuiu os preços em cerca de 90 por cento. E como a cobertura móvel é muito melhor do que a fixa, o telemóvel converteu-se rapidamente no computador favorito dos africanos (em Cabo Verde, dados do relatório da ITU, há 121,8 telemóveis por cada 100 habitantes).
Apesar de ser uma revolução em velocidade acelerada, há ainda obstáculos no acesso à Internet, os principais: níveis baixos de literacia informática, infra-estruturas pobres e os altos custos da ligação à net. Além destes, têm de ser levados em conta os problemas com a energia. Não vai há muito tempo, em 2000, toda a África subsaariana tinha menos linhas fixas de telefone do que Manhattan e em 2006 África contribuía com apenas 2 por cento das linhas de telefone a nível mundial. Como consequência desta falta de ligações geral, a maior parte do tráfego online gerado em África (entre 70 e 85 por cento) era dirigido através de servidores localizados fora do continente, principalmente na Europa.
A banda larga é também ainda escassa. Até 2007, dezasseis países africanos eram servidos por uma única ligação internacional com uma capacidade de fornecer 10 megabits por segundo, muitas vezes com uma velocidade inferior (só a África do Sul, na altura, tinha mais de 800 megabits por segundo). Depois dessa data, a principal rede de transporte que ligava África ao resto do mundo – os cabos submarinos SAT-2 e SAT-3, na altura – forneciam uma banda muito limitada, cerca de 28 mil megabits por segundo, enquanto a Ásia tinha 800 mil megabits por segundo e a Europa 3 milhões de megabits por segundo. Ou seja, o total da banda larga disponibilizada para todo o continente era menor do que a que alimentava só a Noruega (49 mil bits por segundo). Com a falta de banda larga através das ligações por cabo, a maior parte do tráfego em África é conseguido através de satélite, que é caríssimo e geralmente incomportável para as populações.
O factor facebook
É aqui que entra Mark Zuckerberg. Depois de no final de 2015 o chefe executivo do facebook ter anunciado, através de uma publicação na rede social, que estava a preparar o lançamento do primeiro satélite para fornecer Internet aos países africanos, em Abril deste ano o CEO reiterou que isso iria acontecer “em poucos meses”. O alvo do AMOS-6, o satélite de 200 milhões de dólares, construído pelas indústrias aeroespaciais israelitas, é bem claro: a África subsaariana.
No fundo, é o continuar da estratégia que o facebook tem adoptado para os países em desenvolvimento, que inclui a plataforma Free Basic (net grátis, que veio substituir a Internet.org) ou a construção de drones alimentados a energia solar para levar a Internet a zonas do globo sem acesso à rede. Em Cabo Verde, o serviço Free Basic é oferecido pela Unitel aos seus clientes, que assim podem navegar por uma série de sites pré-determinados sem gastar saldo (segundo informação da operadora, este serviço é grátis durante um ano e incluí sites como o facebook, Messenger, ou wikipedia, num total de treze).
A mesma estratégia que levou à abertura do primeiro escritório do facebook no continente, em Joanesburgo, África do Sul, em 2015, com o objectivo de encorajar os homens de negócios africanos a fazerem publicidade através da rede social, com a equipa de vendas a dirigir o foco, nesta fase inicial, novamente à África subsaariana, principalmente ao Quénia, à Nigéria e, claro, à África do Sul [na altura, foi considerado pela empresa “o primeiro passo dos nossos investimentos futuros em África e nas suas pessoas”].
Hoje, no continente, o facebook é utilizado por mais de 124 milhões de pessoas – só entre Setembro de 2014 e Junho de 2015 teve um crescimento de 20 pontos percentuais. E a expectativa da empresa é que este aumento do número de utilizadores seja exponencial à diminuição esperada dos custos.
Em Cabo Verde, 34,3 por cento dos cabo-verdianos têm um perfil na rede social, o que equivale a 190 mil subscritores, é aliás um dos sete países africanos que tem mais de 30 por cento da sua população no facebook. A Nigéria lidera o número de inscritos na rede social – mais de 16 milhões de pessoas – e há 12 países africanos (entre eles a Guiné-Bissau) onde o número de utilizadores da Internet é exactamente igual ao número de subscritores do facebook.
Apesar do crescimento do número de pessoas ligadas à rede social, África continua a ser o continente onde o facebook consegue menos dividendos (pouco mais de um dólar por perfil – na América chega a ultrapassar os 30 dólares por perfil) e Zuckerberg quer aumentar esse valor. Não há almoços grátis.
ADSL
Há várias tecnologias de acesso à internet. Uma das mais conhecidas é o ADSL, sigla para Assymmetric Digital Subscriber Line (algo como “Linha Digital Assimétrica para Subscritor”), este padrão aproveita a infra-estrutura da telefonia fixa, permitindo ligações rápidas a preços relativamente baixos.
O que é ADSL?
Quando a internet começou a popularizar-se, a maior parte das pessoas usava ligações dial up, em que era preciso ligar o computador a um modem e este a uma linha telefónica. O utilizador tinha depois que utilizar um programa específico para marcar o número de um provedor para estabelecer a conexão.
Todos nos lembramos destas ligações lentas - por padrão, suportam até 56 Kb/s (kilobits por segundo) -, que deixavam a linha telefónica ocupada, estavam sujeitas às tarifas convencionais por minuto de uso e que eram instáveis, obrigando a restabelecer a conexão ao fim de um certo tempo.
A tecnologia ADSL, que apareceu em 1989, mostrou-se uma alternativa viável porque também utiliza a infra-estrutura telefónica convencional (tecnicamente chamada de POTS, de Plain Old Telephone Service), mas sem deixar a linha ocupada. Além disso, o padrão é capaz de oferecer maiores velocidades de transferência de dados e a sua tarifa é feita de maneira diferente. Na verdade, o ADSL não é um padrão único, mas sim parte de uma “família” de tecnologias chamada DSL (Digital Subscriber Line) ou apenas xDSL.
Como funcionam os serviços ADSL?
Quando o telefone é usado para uma chamada de voz, utiliza apenas uma pequena parte da capacidade de transmissão da linha. O que as tecnologias DSL fazem é aproveitar a parte não utilizada.
Isso acontece porque, normalmente, uma chamada de voz - a parte POTS - utiliza uma frequência de onda muito baixa, entre 300 Hz e 4000 Hz, um intervalo que corresponde a uma faixa muita pequena da capacidade da linha. O restante pode então ser utilizado para aplicações que funcionam em frequências maiores.
A utilização do espectro livre, isto é, da parte não utilizada para POTS, é feita com a técnica FDM (Frequency Division Multiplexing) ou com a técnica de Echo Cancellation. Com o FDM, parte do espectro livre é destinada ao envio de dados (upstream) e outra à recepção de dados (downstream). Já com o Echo Cancellation, as partes para upstream e downstream sobrepõem-se no espectro.
Num acesso à internet via ADSL, a linha telefónica é apenas um meio de comunicação formado por um par de fios metálicos. A ligação em si acontece por causa dos equipamentos utilizados tanto do lado do cliente (que solicita a ligação e que recebe o aparelho, popularmente conhecido por modem ADSL), como do lado do provedor (que estabelece a ligação).
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 763 de 13 de Julho de 2016.