Através do administrador Rui Pires, a empresa diz, em entrevista à Rádio Morabeza, que o executivo desconsiderou todos os importadores nacionais.
“Estas medidas foram feitas à medida, no meu entender, para o benefício de uma empresa nacional. Ficamos de boca aberta. Como é possível fazer estes aumentos do nada, principalmente sabendo nós que são aumentos específicos, para benefício de uma empresa nacional”, diz.
Questionado sobre se está a fazer referência à Tecnicil - empresa da qual Olavo Correia foi administrador e que inicia este ano a produção de lacticínios - Rui Pires responde, categórico: “estou a falar da Tecnicil, sim senhor”.
“Não foram tidos em consideração todos os importadores de Cabo Verde que trazem este produto”, acrescenta.
O administrador diz que a empresa não foi contactada para se posicionar sobre o aumento dos direitos de importação de lacticínios e sumos de fruta, tendo tomado conhecimento da mesma através do Orçamento de Estado para este ano.
O vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia, diz tratar-se de uma medida para proteger a indústria nacional, baseada numa proposta da Câmara de Comércio e Indústria do Sotavento. Rui Pires considera que os consumidores não podem pagar a protecção da indústria nacional e que o aumento só faria sentido caso houvesse competitividade.
“Eu penso que não. Estamos num país em que, se calhar, 90% de tudo o que se consome é importado. Essas medidas seriam, a meu ver, de louvar numa situação em que o país tivesse alguma indústria competitiva, que não tem”, entende.
A Montanhês é a primeira empresa a introduzir o aumento de 15% nos preços de venda do leite, devido ao aumento das taxas de importação decididas pelo Governo. A empresa, com sucursais na cidade da Praia e em São Vicente, não descarta a possibilidade de abandonar Cabo Verde.
“A empresa não tem sustentabilidade para pagar cada vez mais impostos e não ter rendimento. Daqui a bocado, estamos a trabalhar para pagarmos impostos ao Estado. Não é para isso que as empresas privadas vêm montar negócios no estrangeiro. Se daqui a algum tempo chegarmos à conclusão que não vale a pena, fechamos a porta, mandamos 50 pessoas para rua e vamos para outro país onde haja rentabilidade”, avisa.
A proposta que aumenta os direitos de importação para lacticínios e sumos de fruta foi aprovada em Dezembro e entrou em vigor a 1 de Janeiro. O leite e derivados, como as natas, que de acordo com a antiga pauta aduaneira pagavam 5% de direitos de importação, passaram a pagar 20%, enquanto os iogurtes naturais e com frutas adicionadas passaram de 20% para 25%.
Os sumos de frutas não fermentados passaram de uma taxa aduaneira de 30% para os 35%. Os iogurtes e sumos de frutas comercializadas pela empresa também devem ficar 5% mais caros.
A entrevista completa pode ser ouvida hoje, às 17 horas, no Panorama 3.0, da Rádio Morabeza.