Robert Jarrett: “Cabo Verde terá a minha atenção durante, pelo menos, mais uma década”

PorSara Almeida,17 mar 2018 7:39

Robert Jarrett, presidente do Conselho de Administração do The Resort Group
Robert Jarrett, presidente do Conselho de Administração do The Resort Group

​Chegou a Cabo Verde numa altura em que pouca gente conhecia este destino turístico, mas não se considera um pioneiro. Com o seu The Resort Group, construiu quatro dos maiores empreendimentos turísticos do arquipélago, criou parcerias estratégicas de referência e trouxe um contributo destacado para o PIB do país. Viu o sector do turismo expandir-se, mas para Robert Jarrett, há espaço para um crescimento exponencialmente maior. “Cabo Verde está apenas a começar”, diz confiante. Da sua parte os investimentos vão continuar e por bastante tempo.

Quando terminar todos os projectos que tem previstos para Cabo Verde, o total dos investimentos realizados por Robert Jarrett no arquipélago será de aproximadamente 1,25 mil milhões de euros. Quer isto dizer que o The Resort Group (TRG) irá ainda investir mais do que fez até nesta quase uma década de actividade no arquipélago e tendo em vista fazê-lo pelo menos mais outra.

É no Bikini Beach, projecto pelo qual parece nutrir especial apreço, que Rob Jarrett nos recebe. Pela postura descontraída, flûte de champanhe na mão e roupa casual percebemos que o tom da entrevista vai ser relativamente informal. Uma conversa relaxada para não destoar do espaço charmoso e agradável, que rompe mar adentro, onde nos encontramos. Mas também séria o suficiente para tratar os temas que temos no guião. Afinal falamos de investimentos na ordem dos milhões de euros, no sector que mais contribui para o PIB do país e do qual o desenvolvimento do mesmo está indissociável.

Parece ser a postura normal de Jarrett. Vemo-lo pela forma amigável e à-vontade com que fala com todos os seus empregados. “Tenho uma relação muito aberta com todos eles, mas quando é preciso ser duro também sou”, revela. Tem de ser, afinal, pelas suas contas, dele depende um total de cerca de 4.000 funcionários nas mais diversas posições hierárquicas da TRG. É, segundo o jornal português Diário Imobiliário, o maior empregador do país, depois do Estado.

E tudo começou quando David Dumble (actual International Sales Director do TRG) lhe falou de um pequeno arquipélago ao largo da Costa da África Ocidental.

“A minha percepção foi que era um sítio acolhedor para o turismo, de grandes oportunidades. Então pensei que seria uma boa ideia de uma perspectiva turística, investir aqui”.

Sol, Praia, proximidade da Europa, pessoas simpáticas, segurança. Estes são alguns dos atributos do país que atraíram o investidor. “Tudo neste lugar é cool”, resume. Mas um outro factor foi também fundamental: transporte aéreo e procura.

Pioneiros e parcerias

Investimento atrai investimento, a aposta num país atrai outros operadores. Os resorts e hotéis TRG são um marco no turismo em Cabo Verde. Mas Mr. Jarrett não se considera um pioneiro. Aliás, o facto de ter havido outros investidores de peso que já tinham presença em Cabo Verde foi decisiva para a escolha deste arquipélago.

Entre esses pioneiros, Jarrett destaca o grupo TUI (uma das maiores empresas turísticas da Alemanha, que opera com transportadoras áreas charters) e a cadeia de hotéis RIU. “Tiveram a confiança de vir. Para ser honesto, eu não sou um pioneiro”, reitera.

Não sendo um pioneiro, a sua marca é incontornável no Turismo de Cabo Verde. “Sou parte do tecido”, responde.

Entretanto, a história do Resort Group PLC é de sucesso. Foi fundado pelo próprio Robert Jarrett em 2007, depois de uma carreira que passou pelo sector bancário e serviços financeiros. Com sede em Gibraltar, filiais no Reino Unido e Cabo Verde o grupo, que recentemente abriu também um escritório em Lisboa, tem vindo a fazer sucesso no mercado imobiliário internacional, vendendo propriedades de luxo em destinos turísticos, particularmente em Cabo Verde, onde é a maior marca de promoção imobiliária.

O seu modelo de negócios, assente no investimento do turismo imobiliário – revelou ser uma boa aposta e o grupo conseguiu atrair um bom número de investidores.

Mas o seu sucesso faz-se também pelas parcerias estratégicas que mantem com grandes operadores turísticos e cadeias de hotéis renomadas, em concreto TUI Travel, Meliá Hotels International, Steigenberger Hotels and Resorts e Hilton Worldwide (ver caixa).

O crescimento de um sector

Há porém um outro elemento essencial que contribui para essa história: o aumento do turismo em Cabo Verde. Um fenómeno que vai nos dois sentidos: o grupo tem o mérito de ser um dos responsáveis pelo crescimento e, ao mesmo tempo, esse aumento faz crescer o próprio grupo. Crescem juntos.

No ano passado, de acordo com o INE, a hotelaria cabo-verdiana registou mais de 716 mil hóspedes, o que corresponde a um acréscimo de 11,2% face ao ano de 2016. As dormidas cresceram mais, 12,3% (em 2016 fora de 10,3%).

Assim, e apesar de ter havido um certo abrandamento no crescimento de hóspedes em Cabo Verde (em 2016 este foi de 13,2%), é inegável que o sector continua em expansão.

São cerca de 11 anos em Cabo Verde. É bastante tempo. Vi a evolução, vi o aumento do fluxo turístico, vi a economia a mudar”, admite o PCA do TRG. E foi algo que de certa forma, olhando as características do país, conseguiu prever. E investir. Uma visão que já lhe valeu o reconhecimento expresso em duas medalhas: a medalha de mérito de segunda classe, com que foi galardoado em 2017, pelas mãos do presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca; e a Medalha de mérito para o turismo, entregue pelo município do Sal, em 2015.

O futuro é grande

Viu a economia a mudar, mas apesar da confiança em Cabo Verde que perpassa toda a entrevista, há problemas que persistem.

É o caso de alguns aspectos financeiros que continuam mal resolvidos no país.

A liquidez do mercado não é tão grande como deveria ser, dado o tamanho do desenvolvimento. Cabo Verde está a desenvolver-se mais [depressa] do que o seu sistema de serviço financeiro.”

Isto, no seu entender, é “um problema no mercado, vai sempre causar problemas. Se estás a investir centenas de milhares de euros, precisas de acesso a capital. É sempre um problema. Este não é um mercado fácil, mas Cabo Verde terá a minha atenção durante pelo menos mais uma década”.

Até porque, das conversas mantidas com o governo, retém perspectivaspositivas: “tenho uma boa confiança no futuro, em como vai operar o sistema bancário”, diz.

Aliás, olhando o cenário geral (onde, por exemplo, questões como a segurança têm grande influências nos fluxos turísticos), o relativamente calmo Cabo Verde parece ter tudo para dar certo.

Eu sinto, muito sinceramente, que este sítio está apenas a começar. Sinceramente considero. Penso que há uma pequena percentagem de turismo comparado com o que poderá ser”, diz.

Quanto às modalidades que ditarão o futuro do turismo em Cabo Verde, a diversificação da oferta, para além dos resorts e dos all-inclusive, começa a ganhar terreno. Mas para Jarrett, é esse turismo de Praia, Sol & Relax que vai continuar a ser o ser o motor do turismo no arquipélago. E é também neste modelo, que irá continuar a investir, apesar do turismo de negócios, através dos Hotéis Hilton estar também sob foco (ver caixa).

O lado Social do TGR

Mas o TRG não tem como único projecto os seus negócios.“Um dos nossos valores maiores é dar algo de volta” a Cabo Verde. Mais do que um valor é uma filosofia que acompanha esses negócios. Jarrett é um self made man, oriundo de uma família britânica pobre, que hoje detém 100% do Capital acionista emitido da PLC (Public Limited company, isto da Sociedade Anónima) – forma jurídica do TRG). “Percebo a pobreza e incomoda-me, preocupa-me. Claramente não necessito de todos os recursos que são gerados pelas minhas actividades comerciais. Então se eu posso, e devo, eu faço”. Ajuda.

Assim, uma parte do lucro das suas actividades é direcionada para essa acção social. Foi no âmbito dessa filosofia de responsabilidade social e retribuição ao país de acolhimento, que criou o The Resort Group Cabo Verde Foundation, uma instituição presidida por Analita Fernandes das Neves, a sua companheira de há vários anos.

A Cape Verde Foundation, uma fundação de cariz social, por si criada na ilha do Sal há cerca de seis anos e cujas iniciativas vão da entrega de kits desportivos à doação de material educativo e bolsas de estudo às escolas e universidades e à ajuda pontual às famílias com pouca renda. Em 2017, entre outras acções e além dos donativos, a fundação conseguiu angariar 10.000 libras para ajuda às comunidade e abriu também uma escola de verão para as crianças do Sal.

Uma das suas actividades que é já uma tradição é a Festa de Natal, com distribuição de prendas, que anualmente promove no Meliã Dunas, para cerca de 350 crianças carenciadas.

Projectos TRG

Criado em 2007, o The Resort Group inaugurou o seu primeiro Resort no Sal em 2011: o Meliá Tortuga Beach Resort & SPA. Seguiu-se o Dunas Beach Resort, inaugurado em finais de 2014, com capacidade para acolher 3.000 turistas por semana. Este Resort, o maior do grupo até é composto por 1.247 propriedades – 90 ‘suites’, sendo duas de cortesia, sete vivendas de cinco quartos, 47 com três e 1.063 apartamentos de um, dois e três quartos.

Em 2016 foram inaugurados o luxuoso MELIÃ Llana Beach Resort & Spa, o TUI Sensimar Cabo Verde e ainda o Bikini Beach.

São todos eles resorts 5 estrelas, com serviço “tudo incluído”, sendo que segundo o grupo, neste momento o TGR detém 67% da quota de mercado do segmento de hoteleiro de cinco estrelas, em Cabo Verde.

Actualmente o grupo tem mais de 5.000 camas, às quais em breve se somarão muitos outros milhares, em outras paragens.

Depois do Sal, o grupo tem agora previstos vários investimentos na Boa Vista, nomeadamente seis resorts, com um total de mais de 4.000 quartos, a construir na próxima década. O primeiro deste pacote, o White Sands Hotel & Spa, de 835 quartos, já começou a ser construído.

O segundo projecto na ilha será o Hilton Boa Vista. E seguir-se-ão outros resorts, nomeadamente dois em parceria estratégica com a Steigenberger Hotels and Resorts e a Jaz, com 350 e 200 quartos, respectivamente. Estes, em concreto, serão construídos na praia de Santa Mónica e deverão estar concluídos em 2020.

Um Bikini Beach e uma Marina deverão encerrar os investimentos na ilha das Dunas.

“São cerca de 615 milhões de euros a investir só na Boa Vista, então penso que terei investido provavelmente 1,25 mil milhões em Cabo Verde quando terminar todo o meu programa aqui”, avança o PCA do TRG.

Os Hilton

Na carteira de projectos estão ainda dois hotéis Hilton. Um na Boa Vista e outro, que já está em construção, na Praia.

Este último, já em construção, é um projecto diferente dos restantes do grupo, sendo voltado para o turismo de negócios. Foi identificada uma oportunidade a esse nível na cidade da Praia, “uma necessidade, na minha opinião, dado o crescimento do país” e assim surgiu a parceria.

Sobre esse Hotel diz Rob Jarrett que será uma “experiência verdadeiramente 5 estrelas” para quem viaja em negócios para a capital.

Será, garante o grupo, o hotel de negócios mais luxuoso da capital,com 14 pisos, 201 quartos e um investimento de cerca 41 milhões de euros.

Uma cadeia de Supermercado

Robert Jarret tem, entretanto, “outros planos” que surgem da identificação de necessidades na ilha do Sal e em Cabo Verde.

“Acredito que a economia local e o mercado local, em geral, precisam de uma cadeia de supermercados. Tens de ir a cinco sítios diferentes para conseguires comprar tudo o que precisas para o mês. Então gostaria de abrir uma cadeia de supermercados”. Esta cadeia, um projecto completamente independente dos resorts, cobriria todo o arquipélago.

E no que toca ao Sal, onde passa grande parte do ano, diz que quer ainda estudar outros projectos, com fins lucrativos ou não. “Quero fazer aqui outras coisas. Então estou a estudar oportunidades diversas aqui e estou a tentar envolver-me mais com o lado social, o trabalho de solidário em várias áreas também”. Está para ficar.

De qualquer modo, ao fim de cerca de uma década é hoje, para Rob Jarrett e o seu TRG é mais fácil investir em Cabo Verde. “Naturalmente. Conhecer as pessoas é importante, e sabem que eu sou muito sério no que faço”, justifica.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 850 de 14 de Março de 2018.

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Autoria:Sara Almeida,17 mar 2018 7:39

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  17 mar 2018 16:48

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