Plano de negócios obriga Cabo Verde a comprar aviões para a TACV

PorAndre Amaral,17 nov 2018 7:40

1

​Acordo que o governo tem mantido debaixo de um véu de segredos prevê que seja Cabo Verde a comprar os aviões que vão ser integrados na frota da TACV, diz estudo elaborado pelo Banco Mundial. O custo da operação não está determinado “mas certamente que vai aumentar ainda mais o stock da dívida”, diz aquela instituição.

O governo vai ter de reforçar a frota da TACV com cerca de cinco aviões, diz o Diagnóstico Estratégico de Cabo Verde elaborado pelo Banco Mundial, que foi apresentado esta segunda-feira na Praia numa cerimónia presidida pelo ministro das Finanças, Olavo Correia.

O documento aponta que o governo assinou um contrato de gestão com Icelandair para posicionar o país como um centro de transporte e logística que liga Europa, América do Norte e Sul e África e que dentro do plano de negócios é exigido que “o governo assuma o custo de aquisição de uma nova frota (aproximadamente cinco aviões) para apoiar uma expansão de voos internacionais”.

“O custo deste empreendimento ainda não foi determinado, mas certamente que vai aumentar ainda mais o stock da dívida”, alerta o estudo do Banco Mundial.

O relatório do Banco Mundial, em Português
O relatório do Banco Mundial, em Português

O Expresso das Ilhas tentou obter uma reacção por parte do governo relativamente a este assunto, mas nem o ministro das Finanças nem o secretário de Estado, Gilberto Barros, se mostraram disponíveis para comentar.

Na parte em que o documento se refere às reformas necessárias para as empresas estatais, entre as quais se encontra a TACV, é apontado que a companhia aérea nacional “é uma das maiores empresas estatais do país e coloca um fardo significativo no orçamento, exigindo 2 por cento do PIB por ano para cobrir as despesas operacionais”.

Referindo-se ao negócio com a Icelandair, o Banco Mundial recorda que o governo “retirou-se do comércio da aviação doméstica em Agosto de 2017”, e quase simultaneamente deu início a “planos para renegociar as dívidas da empresa” que significavam, na altura “cerca de 7,0 por cento do PIB”. Um pouco mais de metade da força de trabalho existente na companhia aérea nacional deve ser demitida, acrescenta ainda o relatório.

Comparando Cabo Verde com países da costa ocidental africana, o Banco Mundial destaca que Cabo Verde “é fortemente dependente de serviço aéreo para o seu transporte nacional e internacional”.

“Cabo Verde faz um uso muito intenso do transporte aéreo, com 2,4 assentos disponíveis per capita, em comparação com 0,2 assentos no Senegal. O país possui quatro aeroportos internacionais e três aeródromos, mas o status dos serviços de aviação é insatisfatório”, aponta o Banco Mundial.

O relatório do Banco Mundial, em Inglês
O relatório do Banco Mundial, em Inglês

O documento recorda que a companhia aérea nacional foi, ao longo dos anos, “um fardo significativo no orçamento, com apoio financeiro recorrente do governo”. “Além disso”, prossegue a análise do Banco Mundial, “a companhia aérea está sobrecarregada com cerca de € 90 milhões em dívida, a maior parte em curto prazo, enquanto os activos valem menos de € 5 milhões. A companhia aérea tem excesso de funcionários e seus custos fixos são excessivos. As más decisões administrativas têm sido incapazes de lidar com essas fraquezas e as repetidas avaliações de consultoria concluíram que a empresa não tem futuro real como uma entidade independente, e que provavelmente continuará a representar um grande problema na receita do governo”.

No que respeita aos riscos macroeconómicos, os analistas do Banco Mundial apontam que o “último relatório sobre passivos contingentes do Ministério das Finanças (2016) classifica as dívidas da TACV como de alto risco, dado seu desempenho operacional e financeiro e as perspectivas de lucratividade no curto a médio prazo”.

Leia o relatório completo em português.

Leia o relatório completo em inglês.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 885 de 14 de Novembro de 2018.

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Andre Amaral,17 nov 2018 7:40

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  19 nov 2018 11:00

1

pub.

pub.

pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.