Promotores de eventos despedem-se de um ano para esquecer

PorNuno Andrade Ferreira,19 dez 2020 8:19

Sem eventos e sem receita desde o primeiro trimestre, empresas de promoção de eventos lutam pela sobrevivência. É mais um dano colateral da pandemia de covid-19.

Que 2020 foi ‘atípico’, já se sabe. Que muito daquilo que tínhamos por garantido nos escapou, também. Assim foi desde Março, assim será em Dezembro (e, pelo menos, nos primeiros meses de 2021). A quadra festiva não fugirá à regra e será diferente da tradição. A 31, as costumeiras festas de passagem de ano darão lugar a celebrações restritas, idealmente em casa, com o agregado familiar. Depois de ter perdido o verão, a indústria dos eventos perde, agora, a segunda época forte do calendário.

Foram os primeiros a parar e serão dos últimos a retomar a actividade nos moldes a que estavam habituados. Com a aglomeração de pessoas fortemente condicionada, os promotores de eventos têm um modelo de negócio que deixou de ser exequível e são obrigados a fazer contas à vida.

Anderson Soares, da DEventos, em São Vicente, fala de “um dos sectores mais afectados” pela crise sanitária e medidas implementadas para lhe dar resposta.

“Esta é a altura que costumamos chamar de época alta, onde os maiores promotores conseguem realizar os maiores projectos, produzir eventos de qualidade e com retorno em termos económicos. Devido ao actual contexto, estamos parados. Já tínhamos passado o verão parados e agora apanhamos esta outra época festiva, em que também vamos estar parados, sem trabalhar”, lamenta.

Preparada para produzir eventos de grande porte, para mais de 400 pessoas – exactamente o oposto daquilo que se pede para a contenção da propagação do SARS-CoV-2 – a DEventos está há quase dez meses sem facturar.

“É complicado. Estamos a aguentar até ao limite. O nosso tempo máximo é um ano. A partir daí, será praticamente decretar falência. A situação financeira, neste momento, é nula”, observa Anderson Soares.

Também em São Vicente, a SV Tour procurou adaptar-se. Perante um “ano diferente”, Eurico Évora redefiniu estratégias. Habituada a uma agenda preenchida por projectos de média e grande dimensão, a empresa mudou o foco para iniciativas mais reduzidas, mas também luta pela sobrevivência.

“Fomos adaptando, mantendo projectos como o Todo Mundo Canta. Temos restauração, também, mas está difícil. As coisas não são iguais a um período normal, nem se compara. Podemos dizer que estamos em sobrevivência, para conseguir manter a empresa em funcionamento, mas está muito difícil”, confirma.

“E depois, nós que somos donos de empresas, temos que cumprir uma serie de restrições, mas vemos outras entidades a não cumprirem”, lamenta.

Na ilha de Santo Antão, uma das produtoras mais activas é a N Eventos, de Nelson Bartolomeu. O responsável recorda que as expectativas apontavam para um 2020 “em grande”, depois de um 2019 promissor. O último evento foi a 3 de Fevereiro.

“Tínhamos esperança que até Junho, por ocasião do São João, que é nosso ponto alto, as coisas estariam aliviadas, mas os meses foram passando e fomos sentido que [a situação] não estava para brincadeiras”, recorda.

Um sector transversal

Músicos, dj, empresas de som, iluminação e estruturas, segurança, catering, alojamento, recintos, transportes internos e internacionais. O sector dos eventos é transversal. Não existem números exactos mas, em todo o país, estima-se em algumas centenas o número de postos de trabalho directos e indirectos garantidos pela indústria da animação e entretenimento.

Osvaldo Teixeira, da empresa praiense Sigui Sabura (SS), um dos mentores da Associação de Produtores de Eventos, queixa-se da ausência de “respostas, perspectivas e rendimento”.

“Estamos com a vida completamente pendurada. O nosso sector fomenta a economia, geramos centenas de empregos directos e indirectos e precisamos que as entidades reconheçam o nosso trabalho. Somos um povo que não se une, porque se nos uníssemos, se calhar, já tínhamos uma voz activa, que conseguisse criar algum. Sendo assim, estamos de mãos atadas, sem nenhum feedback. Não sei o que esperar do futuro”, desabafa.

“Criámos a associação para ter mais uma voz activa, fizemos um protocolo com a Sociedade Cabo-verdiana de Música, pensando que isso ajudar-nos-ia a ter algum retorno da parte da tutela, mas parece que a nossa área não tem impacto na economia. Existem muitas empresas informais e acho que isso acaba por nos afectar a todos”, reconhece.

Nos últimos meses, a SS tem feito pequenos trabalhos, tirando partido das parcerias que mantém. Actividades insuficientes, porém, para manter as contas equilibradas.

“Não dependemos só da área dos eventos. Se assim fosse, estávamos tramados”, admite Osvaldo Teixeira.

Com as festas réveillon proibidas, por força da resolução 169/2020, é já certo que para quem ganha a vida a promover eventos, 2020 terminará como decorreu: mal.

*com Fretson Rocha

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 994 de 16 de Dezembro de 2020.

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira,19 dez 2020 8:19

Editado pormaria Fortes  em  19 dez 2020 18:20

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