Empresários do turismo esperam retoma em 2021 mas sem excessos de confiança

PorNuno Andrade Ferreira,28 dez 2020 9:32

Outubro é o mês mais referido pelos empresários como aquele que marcará a retoma efectiva do sector turístico nacional.

Parada desde Março, a actividade turística começa a dar tímidos passos no sentido do regresso à normalidade possível, num percurso que será gradual e incerto. A expectativa dos operadores é que 2021 seja melhor que 2020. Os próximos meses o dirão. Para já, a situação sanitária na Europa não ajuda às previsões de curto prazo.

Dia 25, o primeiro voo charter em muitos meses, com 180 passageiros provenientes da Polónia, aterrará no Aeroporto Amílcar Cabral, no Sal. Os voos comerciais estão abertos desde Outubro e algumas companhias, como a TAP e a SATA (esta através da Cabo Verde Connect Services) reabriram as ligações regulares.

Perante isto, os empresários do ramo conservam uma posição que dizem ser realista, de olhos postos na evolução negativa da situação epidemiológica no continente europeu, principal mercado emissor.

Eugénio Inocêncio, presidente da Associação de Turismo de Santiago (ATS) recorda que o turismo é uma actividade global.

“O turismo não depende só dos países que recebem turistas. Depende também, e em grande medida, dos países de onde vêm os turistas. Temos estado a ver a situação preocupante na Europa, logo, não é de se estranhar que o turismo, que estava previsto para ter início em meados de Dezembro, comece um pouco mais tarde”, sublinha.

Patone Lobo, do Hotel Odjo d’Água, em Santa Maria, não esconde o seu cepticismo.

“Pessoalmente, sempre disse que a retoma seria em Outubro do próximo ano. Neste momento, da maneira que a covid-19 está a afectar os países emissores, com certeza, não há condições para a vinda de turistas”, refere o empresário.

Depois de nove meses sem clientes, a agência Nobai, que opera, sobretudo, em São Vicente e Santo Antão, tem agendado dois grupos para 26 de Dezembro. Serão os primeiros turistas desde Março. Theo Lautrey, proprietário, fala de um momento simbólico.

“Temos uma pequena luz de esperança. Na semana do Natal, costumávamos ter 15 grupos ao mesmo tempo, mas já é um sinal, mesmo que bastante simbólico. Agora, penso que a retoma, só em 2021”, antecipa.

Mais uma vez, Outubro será decisivo.

“Não estou a ver as coisas a acontecerem nesta primavera. Depois, o verão é época baixa, para nós. Mas pode ser que esteja enganado, não dá para prever muita coisa”, admite.

À dúvida perante um futuro incerto junta-se a apreensão, que aumenta a cada dia.

Na Boa Vista, uma das ilhas mais turísticas do arquipélago, e com uma economia totalmente orientada para o lazer, os empresários ouvidos pelo Expresso das Ilhas estão pouco confiantes sobre qualquer retoma imediata.

Júlio Lopes, da Associação dos Proprietários de Táxi, recorda a importância dos grandes tour operators.

“O destino aqui é all inclusive, dominado pelos ‘tubarões’. As grandes cadeias dominam tudo e, por isso, vai levar um tempo para se organizar e arrancar”, lamenta.

Adaptação e turismo interno

Enquanto esperam pela evolução favorável da situação epidemiológica, os operadores nacionais adaptam-se à nova realidade e continuam a tentar captar o mercado interno, criando soluções mais ajustadas à realidade económica dos cabo-verdianos.

“Os operadores estão envolvidos neste processo de criação de pacotes para o turismo interno”, assegura Eugénio Inocêncio, da ATS.

O envolvimento de todos os stakeholders, principalmente as empresas responsáveis pelo transporte entre as ilhas, é unanimemente apontado como fulcral para o lançamento do mercado doméstico.

Rúben Moreira, presidente da Associação de Guias de Turismo de São Vicente e São Nicolau, também realça a preponderância dos transportes.

“Tenho informações de nacionais, e também turistas estrangeiros, que gostariam de vir a São Vicente, ir a Santiago ou Santo Antão, mas não têm tido oportunidade, por causa de falta de lugar. Por exemplo, se vêm de Portugal para Santiago, depois não conseguem uma viagem de ligação para São Vicente ou para outras ilhas”, exemplifica.

Testes

Desde a última semana que os testes rápidos de antigénio passaram a ser aceites à chegada a Cabo Verde, constituindo-se como uma alternativa mais económica aos dispendiosos testes RT-PCR.

Para Patone Lobo, o tipo e o custo do teste não são determinantes. Criadas as condições, os turistas regressarão.

“Ninguém deixa de fazer as suas férias por causa de 10 mil escudos. Não acredito que isso vá alavancar ou dificultar a procura. Mas de qualquer forma, para regressarem aos seus países, se lhes for exigido teste, têm de o fazer aqui. Será que estamos preparados? É preciso ter condições”, alerta.

O governo estima que, em 2021, o turismo possa realizar perto de 50% da receita arrecadada nos anos pré-pandemia. As contas, feitas pelo ministro do Turismo e Transportes, Carlos Santos, foram apresentadas há dias, na Praia, à margem da reunião do Conselho Nacional do Turismo.

*com Lourdes Fortes

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 995 de 23 de Dezembro de 2020. 

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira,28 dez 2020 9:32

Editado porAndre Amaral  em  29 dez 2020 9:37

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