“O Estado vai ter de fazer alguma concessão, vai ter de clarificar aquilo que pretende em termos de tecnologias 5G, para nós podermos tomar a melhor decisão”, afirmou, em entrevista à agência Lusa, o presidente do conselho de administração da CVTelecom, João Domingos Correia.
Em causa, explicou, está a necessidade de definir a escolha, entre a China e os Estados Unidos ou Europa, de quem irá fornecer os equipamentos e a tecnologia 5G a Cabo Verde.
“Todos são parceiros de Cabo Verde. Nós vamos ter de decidir conjuntamente com o Governo qual será a tecnologia a ser instalada em Cabo Verde e seguidamente nós iremos mobilizar os recursos (…) Iremos negociar com o Governo uma concessão por conta do espetro, em termos de impostos, como facilidade para podermos fazer investimentos”, acrescentou.
O presidente do conselho de administração da CVTelecom admite que se a decisão for tomada entretanto, a empresa poderá avançar ainda este ano com as primeiras coberturas de 5G em Cabo Verde, através da CV Móvel.
“Estamos a equacionar a hipótese de ter projectos-piloto ainda este ano, nas ilhas turísticas. Porque o 5G traz muito ao turismo, às universidades e também às zonas portuárias, porque ajuda muito na organização e funcionamento dos portos”, disse João Domingos Correia.
“Nós estamos a negociar com o Governo, a clarificar as coisas com o Governo. O Governo teria de tomar uma decisão de fundo porque não são negócios rentáveis para as operadoras, mas sim rentável para a economia no seu todo. E nós vamos ter de nos associar ao Governo, particularmente enquanto operadora concessionária - embora a rede móvel não esteja concessionada -, para juntamente com o Governo tomarmos a melhor decisão, até para contornarmos a guerra comercial existente entre a China e os Estados Unidos”, acrescentou.
A Lusa noticiou em Setembro passado que os lucros da CVTelecom aumentaram 10,5% em 2020, para mais de 1,8 milhões de euros, e pelo segundo ano consecutivo as vendas voltaram a crescer, apesar da crise provocada pela covid-19.
De acordo com o relatório e contas da empresa, o ano de 2020 voltou a ser de crescimento de vendas, para 4.549 milhões de escudos de receitas consolidadas, com algumas novas áreas, como o teletrabalho, a compensarem as quebras nos serviços tradicionais de telecomunicações.
“O ano de 2020 reconfirma a retoma do crescimento das vendas iniciado em 2019, depois de mais de sete anos consecutivos de sucessivas quedas nas vendas. O grupo CVTelecom apresenta um crescimento de 2% [nas receitas], um valor ainda moderado, mas significativo, por se tratar de um crescimento ancorado em medidas estruturantes que colocam os negócios da empresa num trilho sustentável de desenvolvimento”, lê-se na mensagem do presidente do conselho de administração, que consta do relatório.
A operadora registou um crescimento de 10,5% no resultado líquido naquele exercício, para lucros de mais de 207 milhões de escudos (1,87 milhão de euros), mas sem distribuição de dividendos aos accionistas, face às “reais expectativas de evolução dos negócios da empresa”.
“No caso das empresas do grupo CVTelecom, a continuidade dos negócios não foi posta em causa [com a pandemia de covid-19], mas, num país fortemente dependente do turismo, com os hotéis e outros negócios correlatos a fecharem as portas, bem como o aumento do desemprego a ocasionar grandes razias no consumo, as vendas foram afectadas, mas contrabalançadas pelo surgimento do teletrabalho, tele-ensino, reuniões telemáticas, entre outros”, reconhece o presidente do conselho de administração.
O grupo viu o número de clientes da rede móvel de comunicações cair 3,3% em 2020, para 372.231, e o de utilizadores de Internet móvel diminuir 1,5%, para 237.158. O número de clientes da rede de Internet fixa aumentou 22,4%, para 20.104, enquanto os clientes da rede fixa de comunicações de voz aumentaram 0,1%, para 57.493.
A maioria do capital social do grupo CVTelecom é detida pelo Instituto Nacional de Previdência Social, em 57,9%, contando ainda com a estatal Aeroportos e Segurança Aérea (20%), a Sonangol Cabo Verde (5%) e o Estado de Cabo Verde (3,4%) entre os accionistas, como privados nacionais (13,7%).