Aquela responsável, que falava aos jornalistas a meio de uma audição na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Nacional à privatização da companhia cabo-verdiana, disse, entretanto, que o despedimento só acontecerá em último caso.
“A empresa precisa ser redimensionada para fazer jus ao número de aparelhos que nós temos previsto operar. São três aparelhos e com isso registamos o excesso de pessoal que tem de ser dispensado. Nós priorizamos o acordo de pré-reforma e mútuo acordo. Despedimento será sempre em último caso e este processo tem estado a decorrer de uma forma natural”, disse.
Sara Pires afirmou que o maior desafio da administração da TACV é manter a companhia a voar, sobretudo, neste momento, em que a situação financeira da empresa veio a agravar-se com os aumentos dos preços dos combustíveis.
“O grande desafio da empresa é manter a companhia a voar. O aumento dos combustíveis é uma situação que vem agravar a situação financeira da empresa, mas é algo que temos que saber gerir muito bem para podermos contornar esta fase que esperamos ser curta”, disse.
“O aumento dos preços dos combustíveis era algo que quando elaboramos o plano de retoma e estabilização em Dezembro não levamos em conta. Portanto, aquilo que depender de nós tudo faremos para que a empresa possa atingir um grau de sustentabilidade e não dependa dos avais do Estado para sobreviver”, disse.
Contudo, alertou que há factores externos que a administração não controla e que poderão ditar a necessidade de a empresa necessitar de ajudas do Estado.
Para além do aumento dos preços de combustíveis, neste momento, a empresa está a ser obrigada, por alguns parceiros, a fazer o pronto pagamento, uma situação que também preocupa, já que, segundo Sara Pires, a empresa não tem rendimentos para fazer face às despesas diárias e custos futuros.
“O pagamento a pronto gera constrangimentos porque a empresa tem que ter disponibilidade financeira na hora para pagar as despesas que vai incorrer no futuro. Isso gera constrangimentos porque a empresa não gera rendimentos suficientes que lhe permita ter uma grande despesa hoje de um custo que só vai ocorrer mais à frente”, disse.
Ainda assim, Sara Pires declara-se “optimista”, salientando que a retoma das operações iniciada em Dezembro do ano passado, tem estado a decorrer num “bom ritmo” com uma taxa de ocupação que considera “boa” na rota de e para a Praia, com média de 80 por cento (%).
A responsável recordou que a empresa iniciou de forma “muito tímida”, apenas com um voo semanal Praia – Lisboa, que aumentou para dois e ainda introduziu outras como rotas de São Vicente e do Sal.
“A nossa expectativa é poder reiniciar as operações nas outras rotas, sempre com o entendimento de que a empresa deve dar passos firmes nessa retoma para não cometer falhas”, disse.
Para já, Sara Pires informou que após a conclusão do processo de certificação o avião alugado à Transportadora Aérea Angola (TAAG) e que tem operado os voos de e para Lisboa já tem matrícula cabo-verdiana e a operar em regime de ‘dry lease’, ou seja, com tripulação cabo-verdiana e todos os restantes custos pagos por Cabo Verde.
A empresa, indicou, está em processo para aquisição de um novo avião para retomar as operações ainda este ano para Boston, Brasil e Paris.
Para além de Sara Pires, foi ouvido nesse primeiro dia de audição em sede da CPI o ex-presidente do conselho de administração, José Sá Nogueira. Prevê-se durante os próximos dias a audição de diversas personalidades ligadas ao processo da privatização da TACV.
Em Agosto de 2017, o grupo Icelandair, da Islândia, assumiu a gestão do negócio internacional da companhia aérea pública cabo-verdiana e em Março de 2019 o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da TACV por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde.
Entretanto, na sequência da paralisação da companhia durante a pandemia de covid-19, o Estado cabo-verdiano assumiu em 06 de Julho de 2021 a posição de 51% na TACV, alegando vários incumprimentos na gestão, e dissolveu de imediato os corpos sociais.