Inaugurado Centro de Formação e Capacitação com 12 cursos profissionalizantes

PorSheilla Ribeiro,1 out 2022 7:41

O Centro de Formação e Capacitação (CFC) abriu as portas esta segunda-feira, 26, na Vila do Porto Inglês, Maio, com a oferta de 11 cursos profissionalizantes. Com uma propina ligeiramente mais baixa que na Praia, o empreendedor, Nélido Silva, afirma que o maior desafio para o Centro tem a ver com o transporte dos alunos das diferentes localidades da ilha.

Em 2020, o CFC, uma iniciativa privada, abria as portas na cidade da Praia com a oferta de 18 cursos profissionalizantes, dos quais 12 estão abertos actualmente. Dois anos depois, Nélido Silva decidiu investir na ilha do Maio com a oferta de 11 cursos profissionalizantes.

Conforme explica ao Expresso das Ilhas, o objectivo da filial do CFC é ajudar os jovens e adultos da ilha do Maio a realizar as suas formações profissionais sem que para tal sejam "forçados" a deixar a sua ilha e suas casas.

"Constatamos que a maioria dos jovens da ilha conseguem concluir o ensino secundário, no entanto, por falta de oportunidade e por falta de condições fianceiras, acabam por emigrar para a Europa ou mudar-se para a cidade da Praia para fazer a sua formação académica", diz.

Neste sentido, Silva considera que o novo centro de formação profissional possibilita aos jovens novas oportunidades e habilidades adequadas para criarem seu próprio emprego, o que, consequentemente, ajudará no desenvolvimento da ilha e do país, com a diminuição da taxa de desemprego.

O Centro do Maio tem como ofertas formativas Gestão Contabilística; Contabilidade e Gestão de Empresas; Serviços Administrativos e de Atendimento aos Clientes e Utentes; Secretariado e Apoio à Direcção; Gestão de Pequenas Empresas, Administração e Intermediação Imobiliária, Bancas e Seguros; Marketing e Comercialização; Gestão de Recursos Humanos; Estética; Cuidador de dependentes e Monitor (a) Infantil.

As aulas iniciaram-se com 57 alunos que se inscreveram nos cursos de Monitor Infantil; Secretariado e Apoio à Direcção; Contabilidade e Gestão de Empresas e Estética.

"As nossas formações têm uma duração de um ano e seis meses, alguns de um ano e oito meses. A maioria é do nível cinco, mas há algumas formações de seis meses", ressalta.

Por ser uma ilha turística e consoante a procura dos formandos, o Centro tem o intuito de oferecer outros e novos cursos como Construção Civil; Hotelaria e Turismo e Línguas Estrangeiras, de acordo com Nélido Silva.

Segundo elucida, todos os formadores são naturais da ilha do Maio que, além de um curso superior, possuem formação pedagógica de formadores e que até ao momento estavam desempregados.

Mercado e desafios

Nélido Silva assegura que em 2021 uma equipa do CFC esteve no Maio para fazer um estudo do mercado que definiu a oferta formativa do centro na ilha. No momento, o maior desafio tem a ver com o transporte dos alunos.

"Como as localidades da ilha são dispersas uma das outras e nós estamos localizados na Vila, o transporte tem sido a maior dificuldade. Já falámos com a Câmara Municipal no sentido de nos ajudar com o transporte dos estudantes para que possam vir fazer a formação", precisa.

No que tange às propinas, Nélido Silva admite que o CFC teve de baixar o valor em comparação com a cidade da Praia, tendo em conta a taxa de desemprego da ilha e considerando ainda que algumas famílias vivem da pesca e da criação de gado.

Além da propina mais baixa, o centro ofereceu, no acto da inscrição, uma bolsa de estudos de 50% para alguns alunos.

"O valor da propina que estamos a praticar não é suficiente para manter o centro, mas estamos a trabalhar com projectos de modo a ver se conseguimos manter-nos", admite.

Conforme observa, a maioria dos jovens que procuraram o centro para fazer a inscrição não terminou o 12º ano e outros apenas concluíram o 7ºe 9º anos de escolaridade.

Sendo assim, para que possam fazer um curso profissional, a solução é deslocarem-se para Praia onde podem concluir o secundário numa escola privada.

"O nosso objectivo é, depois do Maio, expandir para outras ilhas de modo a evitar que os jovens saem das mesmas. Queremos abrir no Fogo e na Brava, que também é uma ilha sem Centro de Formação fixo. Há pessoas de outras ilhas que lá vão dar formação pontual", revela.

Nélido Silva refere que o CFC já formou cerca de 600 jovens na Praia e que, mais de 50 encontram-se empregados.

Para abrir a filial no Maio, garante que o centro tem um alvará definitivo válido até 2025, altura em que pode ser renovado, e que permite abrir centros de formação em várias localidades do país.

Vantagens para os maisenses

Edson Tavares, formado em Empreendedorismo e Novas Tecnologias de Negócio, estava desempregado há cerca de um ano. Com a abertura do CFC foi contratado como formador em empreendedorismo.

No seu ponto de vista, o centro é uma mais-valia para a ilha do Maio onde muitos jovens migram para Praia para concluírem os seus estudos.

"A maior parte das famílias cá não têm condições para bancar as despesas dos formandos na Praia. Financeiramente, este centro acaba por aliviar as famílias dos custos adicionais, como comida, transporte e moradia na Praia", realça.

Tavares aponta como vantagem a contratação dos quadros da ilha que, até então, estavam desempregados e sem oportunidades.

"Quanto à área que eu vou leccionar, empreendedorismo, vai movimentar a ilha, porque acaba por incentivar os jovens a criarem seu próprio negócio. Os jovens locais geralmente pensam que apenas o Estado ou as Empresas podem dar emprego, mas essa formação vai mudar esse paradigma e fazê-los aproveitar as oportunidades de financiamento existentes no país", justifica.

Por sua vez, Tamircia Oliveira considera o centro como "a melhor coisa que poderia ter surgido no Maio".

Ao Expresso das Ilhas, a jovem que se matriculou no curso de Monitor Infantil, narra que sempre quis fazer uma formação na área, mas que não tinha como se deslocar à cidade da Praia.

"O Centro foi a melhor coisa que poderia ter surgido aqui na ilha porque as vezes para ir à Praia não temos dinheiro para pagar o aluguer, comida e transporte já nem todos têm um familiar na capital que os acolher", explica.

No Maio, prossegue, o único custo, além da propina, é o transporte, o que considera fácil de se conseguir.

"O dinheiro para pagar a propina sempre podemos dar um jeito para conseguir. No meu caso, o meu companheiro é quem vai pagar", comenta.

Tamircia Oliveira trabalha como monitora infantil há pouco mais de um ano e com esta formação almeja melhorar de vida, ainda que pouco. Isto porque com um diploma terá a possibilidade de um aumento salarial.

"Esse Centro vem ajudar muitos jovens a estudar pois na ilha há muitos que passam o tempo sentados sem nenhuma ocupação. Não há trabalho, os pais não conseguem mandá-los para a Praia para estudar e outros preferem não arriscar em mandar para a universidade para depois virem sentar sem trabalho".

"Conheço vários jovens que gostariam de ir à Praia estudar, mas não há como, é o caso da minha irmã. Com este centro ela pode até fazer alguma formação já que o custo é menor. Tenho a certeza de que muitos vão aproveitar esta oportunidade, muitos têm mostrado interesse", afirma.

Já Adilson Martins matriculou-se em Contabilidade e Gestão de Empresas, um curso que sempre almejou fazer, mas que por causa do trabalho não tinha como.

"Surgiu uma oportunidade no Maio e logo aproveitei. Quem não podia ir à Praia por causa dos custos agora não tem essa desculpa porque o maior custo agora é o transporte. No meu caso, vivo em Barreiro e o Centro fica na Vila, vou ter de pagar o transporte, mas não me importo de fazer esse sacrifício", afirma.

Entretanto, o jovem admite que não pretende continuar no Maio. O plano é ter um diploma e procurar um emprego na área na capital.

"Ainda estamos muito limitados no Maio. Mesmo com um trabalho, não há nada que um jovem possa fazer nos tempos livres. Se surgir uma oportunidade de trabalho na Praia, sobretudo na área da contabilidade, vou-me embora", garante. 

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Autoria:Sheilla Ribeiro,1 out 2022 7:41

Editado porSara Almeida  em  2 out 2022 8:20

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