“É preciso mudar o chip na forma como se fazem negócios em Cabo Verde”

PorAndre Amaral,30 out 2022 8:45

A Unitel T+ apresentou no passado dia 12 o UNITEK, um laboratório cujo objectivo é acelerar a incubação de startups e a transformação das ideias em modelos de negócios.

Inoweze Ferreira, Director Geral da empresa, em declarações ao Expresso das Ilhas explica que o “UNITEK é o nosso ecossistema de inovação focado em acelerar processos ou projectos de inovação que ajudem à transformação e a toda a digitalização da sociedade de Cabo Verde”. 

Defendendo que a “inovação sempre foi o mecanismo de diferenciação no mercado” da Unitel T+, Inoweze Ferreira defende que a capacidade de sobrevivência da empresa no mercado nacional tem tido na inovação um dos principais pilares e, por isso, a aposta neste laboratório “é uma maneira de apostar em projectos em todo o país para ajudar a transformar a sociedade e a economia”. 

Com o mundo “a mudar a uma velocidade vertiginosa”, a tecnologia e a Internet assumem papéis cada vez mais centrais “em todas as dimensões pessoais e profissionais”. “A Pandemia acelerou ainda mais a digitalização das sociedades”, defende Inoweze Ferreira.

Nas palavras do Director Geral da Unitel T+, o negócio tradicional das operadoras de telecomunicações está a mudar, transitando “de um modelo de negócios sustentado em serviços de voz e dados para um modelo onde os serviços e os conteúdos passam a desempenhar uma importância fundamental na estrutura de receitas”. A diversificação do portfólio, aponta Inoweze Ferreira, “é a evolução natural das operadoras que decidirem contribuir para o desenvolvimento das Nações”. 

Áreas prioritárias 

Mas quais as áreas prioritárias em que um país como Cabo Verde deve apostar neste caminho da digitalização?

“As áreas prioritárias são as próprias prioridades do país”, defende Inoweze Ferreira. 

O actual contexto mundial, tanto a nível económico como sanitário, colocam o país perante vários desafios. “

Precisamos de transformar a economia de Cabo Verde, precisamos de ajudar as pequenas e médias empresas num contexto em que é preciso mudar o chip, em que é preciso incorporar um novo mindset de fazer negócios em Cabo Verde e de como os negócios são processados”, aponta, mostrando-se crente que através do UNITEK e do ecossistema que está a ser criado à sua volta “vamos poder ajudar nos desafios que o país tem”.

“Nós acreditamos que há uma forma muito mais eficiente de se trabalhar produtos para o sector turístico, usando a tecnologia. Também acreditamos que há uma forma de uniformizarmos aquilo que é a prestação de serviços de saúde para todos”, acrescenta Inoweze Ferreira. 

Diversificar a economia 

Cabo Verde enquanto país “necessita diversificar a sua oferta económica, hoje demasiado dependente do turismo”, observa este responsável que acrescenta que a pandemia de COVID-19 veio servir de alerta “e hoje já é lugar comum mencionar a necessidade de diversificar a economia crioula”. 

Por isso, aponta, a digitalização do país é uma alavanca para as transformações sectoriais, “é talvez a dimensão mais estruturante do processo de diversificação da economia cabo-verdiana”. 

O chip tem que mudar na forma como se fazem negócios em Cabo Verde, insiste Inoweze Ferreira.

“Temos de transferir a “carga” do nosso negócio, das infraestruturas, do acesso à Internet e da voz e criarmos alternativas que vão ao encontro das necessidades de digitalização e transformação de Cabo Verde”. 

O Director Geral da Unitel T+ está satisfeito pelo facto de o governo e a reguladora terem “forçado a legislação sobre o “Open Access” que nos garantiu autonomia no acesso à Internet e incentivamos a que acelere a lei sobre a partilha das infraestruturas e os incentivos à inovação”. 

Dimensões que permitirão que o custo do acesso à Internet baixe consideravelmente, “aumentando a qualidade dos serviços e promovendo a inovação”. 

“Assumimos, no nosso plano estratégico, diversificar as nossas operações de forma a abraçar a determinação do governo em instituir a Internet como bem essencial. Acreditamos que esta aposta estruturante para a Unitel, naturalmente, será acompanhada por medidas políticas e regulatórias que sustentam essa ambição”, adianta Inoweze Ferreira.

Ecossistema de inovação 

Para que a “mudança de chip” aconteça no mundo dos negócios nacionais o UNITEK terá um papel central, defende Inoweze Ferreira. 

“Com a criação do UNITEK a mensagem para a sociedade é clara. Institucionalizamos a inovação como um activo fundamental para as nossas operações. O UNITEK é um ecossistema de inovação focado em acelerar o processo de transformação e digitalização da sociedade”. 

A aposta vai ser feita de forma forte no estímulo à academia e às startups para criarem valor no digital, “o UNITEK visa valorizar este enorme potencial académico e intelectual. Através de diferentes dimensões como o Unitel Creative Camp ou a Academia Unitel, queremos identificar talentos e colocar toda a nossa estrutura operativa a apoiar a transformação de ideias e sonhos em realidades palpáveis com valor no mercado”. 

Apesar de ser um conceito recente, pelo menos em Cabo Verde, a aposta nas startup por parte da empresa já é uma realidade e com evidências palpáveis. 

“A Unitel Creative Camp já está na sua terceira edição anual tendo dado oportunidade a mais de 300 jovens de partilharem os seus projectos e sonhos. Também é com enorme prazer que anunciamos que a Unitel alberga na sua estrutura a maior fábrica de software privada de Cabo Verde”. 

Nessa ‘fábrica’ a empresa conta actualmente com mais de 60 técnicos “altamente qualificados” disponibilizados por 3 startups e operando a partir de 3 centros de desenvolvimento em São Vicente, Santiago e São Tomé e Príncipe. “Várias das soluções tecnológicas comercializadas pela Unitel, são produtos da nossa fábrica. Aplicativos, software diverso, para todos os sectores, actualmente podem ser produzidos pela nossa fábrica”, refere Inoweze Ferreira. 

O objectivo, nos próximos anos, é triplicar a dimensão desta fábrica, “endereçando soluções críticas do sector privado e público em Cabo Verde e nos países da Região”. 

“A Unitel”, aponta o gestor, “já não é uma mera empresa de Telecomunicações em Cabo Verde. Somos cada vez mais um operador global que endereça todas as necessidades de digitalização da sociedade cabo-verdiana e temos uma visão de inclusão e reforço do sector TIC”.

Crescer e ajudar a crescer 

Outro dos objectivos da empresa é, segundo o seu Director Geral, “crescer e ajudar as pequenas empresas e startups a crescer junto connosco”. Isto porque, como diz, “se queremos um Cabo Verde digital temos que assumir um “juntamon” digital, onde todos contamos para “somar”. Naturalmente que esperamos medidas de política que incentivem a indústria de produção de conteúdos e software locais”. 

Inoweze Ferreira recorda que a mais recente edição do Unitel Creative Camp foi dedicada ao sector do Turismo, “pelo que acreditamos que já em 2023 estaremos a aumentar a nossa oferta de produtos turísticos em parceria com startups cabo-verdianas”. 

As próximas apostas serão feitas em sectores como a saúde, educação, sector financeiro entre outros. “Temos que resistir à tentação de forçar a diferenciação através da luta ao acesso às infraestruturas e focarmos na diferenciação pelos conteúdos, serviços e qualidade. 

Temos que privilegiar a inclusão das startups nas nossas operações como contribuição para a criação de uma sociedade mais digitalizada e temos que ter como obsessão garantir o acesso Universal à Internet”, refere Inoweze Ferreira que garante que a empresa que dirige continuará “através das nossas inovações a incentivar a transição digital da nossa sociedade, seja ela através de novos instrumentos digitais para a educação, seja através de tecnologias que permitam diminuir o efeito arquipelágico de Cabo Verde” que se faz sentir em áreas tão diversas. 

“Abraçaremos as tecnologias emergentes tais como blockchain, realidade virtual e aumentada, NFTs, NFVs, SDNs, como instrumentos para endereçar as necessidades do mercado cabo-verdiano”. 

Projectos futuros 

A aposta na introdução do 5G em Cabo Verde poderá ser um dos próximos passos a dar. “

Estamos apostados, em parceria com o governo, em lançar um protótipo de 5G”, diz Inoweze Ferreira que reconhece o potencial disruptivo desta tecnologia que permite “casos de uso” muito relevantes para sectores como a saúde, educação e diferentes indústrias. 

“Tendo um potencial de performance equivalente à fibra óptica acreditamos que através desta tecnologia haverá uma aceleração da digitalização de Cabo Verde”. 

A empresa está também em processo de construção de um novo Data Center “mais preparado para sustentar a nossa evolução tecnológica onde a Cloud terá um papel determinante”. 

“Através da nossa inovação e da constante adaptação aos novos contextos queremos contribuir para ajudar Cabo Verde nos enormes desafios que temos pela frente num mundo com desafios cada vez mais globais e numa África cada vez mais ambiciosa e consciente dos seus desafios de desenvolvimento”, assegura Inoweze Ferreira.

A aposta na tecnologia passa por sectores como a agricultura que “pode ser feita de forma mais eficiente maximizando as tecnologias emergentes tais como a utilização de sensores, robots e drones”. 

“Acreditamos que a saúde pode ser mais eficiente através de inovações tecnológicas tais como consultas online, Telemedicina e a digitalização de todas as operações hospitalares. Acreditamos que o sector do Turismo pode ser altamente valorizado com a introdução de WIFI nas ilhas turísticas, de tecnologias de realidade aumentada e virtual”, conclui.

Cabo Verde participa na Web Summit 2022

Cabo Verde vai estar representado na Web Summit 2022 em Portugal, que acontece de 01 a 04 de Novembro, por uma delegação composta por dez jovens promotores de iniciativas de base tecnológica. 

No âmbito desta participação, esses jovens foram recebidos esta terça-feira pelo ministro das Finanças, Olavo Correia, e pelo secretário de Estado da Economia Digital, Pedro Lopes, no Ministério das Finanças, ocasião para apresentação das Startups seleccionadas e partilha de informações sobre a missão de Cabo Verde. 

De referir que as dez Startups, seleccionadas através da iniciativa GoGlobal, estarão em Lisboa acompanhadas de representantes de várias instituições nacionais que participam num stand localizado no Pavilhão 5, Número E258, com foco na promoção dos projectos das startups seleccionadas e todo o ecossistema digital do país. 

Em declarações à imprensa, Pedro Lopes realçou que é “importante” que os jovens caboverdianos tenham palcos internacionais, daí que, afirmou, o Governo tem estado a formar jovens no digital, promovendo também o ecossistema do empreendedorismo de base tecnológica. 

Segundo explicou, durante vários dias essas dez startups cabo-verdianas passaram por uma preparação, com formações ministradas por mentores nacionais e internacionais para que a prospecção seja forte, de modo que, chegando a Lisboa, possam ter impacto.

Texto publicado originalmente na edição nº1091 do Expresso das Ilhas de 26 de Outubro

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Autoria:Andre Amaral,30 out 2022 8:45

Editado porSheilla Ribeiro  em  31 out 2022 7:57

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