A Inpharma vai comemorar o seu 30º aniversário, que balanço faz destes 30 anos de trabalho da empresa?
São 30 anos de desenvolvimento, com as dificuldades próprias que fomos torneando. Chegamos ao fim destas três décadas com a convicção de termos feito algo na área farmacêutica que estava dentro daquilo que imaginamos quando iniciamos este projecto. Portanto, são 30 anos, por que não o dizer, de sucesso.
E quais são os projectos para o futuro?
Nós temos alguns projectos que, ao longo destes últimos anos, que foram anos anormais no contexto daquilo que o mundo viveu, nomeadamente com a pandemia. Foram anos em que nós fomos obrigados a nos reinventar e sentimos muito orgulho daquilo que fizemos. Nomeadamente porque tivemos uma resposta fantástica em relação a uma fábrica de desinfectantes, que fizemos em tempo recorde. Uma unidade de produção de álcool gel e outros tipos de desinfectantes que não existiam. Fizemos uma unidade nova só para esse efeito, que hoje está a servir para outras coisas. Destaco também o papel que tivemos nos testes de PCR, em que um desafio que nos foi feito pelo Primeiro-Ministro, no sentido de como é que podíamos ajudar nessa área. Em 70 dias fizemos uma unidade de que nos orgulhamos muito, com uma capacidade de 1.500 testes diários, que felizmente nunca chegou a ser utilizada na sua totalidade, mas estávamos prontos e estivemos sempre prontos para dar resposta às necessidades, quer dos cabo-verdianos, sempre que tinham necessidade de viajar, ou por outras razões. Colaboramos com as autoridades de saúde, fazendo milhares de testes, que contribuíram para que Cabo Verde tenha sido apontado como bom exemplo daquilo que foi possível fazer numa pandemia em que tudo para nós era desconhecido. Tivemos esse papel importante. Entretanto, após isso, na senda desse projecto de desenvolvimento, nós tínhamos um projecto para uma fábrica nova, construída de raiz, mas, por causa da conjuntura, o mundo está inquieto por causa da guerra, que acaba por ser uma guerra global, levou-nos a ser mais prudentes. No dia 6 vai então ser inaugurada, pelo primeiro-ministro, uma modernização de uma área da fábrica. Vamos ficar com tecnologias muito avançadas, com uma capacidade muito grande de produção. Vamos também ter as certificações internacionais que nos vão permitir exportar, não só para os países para os quais actualmente exportamos, mas outros países mais exigentes em nível de certificações. Portanto, isso é um dado importante, é uma melhoria significativa, que nos vai aumentar não só a capacidade de produção, mas também, e, sobretudo, a capacidade qualitativa atingindo os padrões mais elevados da indústria farmacêutica.
Esta nova unidade de produção que vão inaugurar dentro de alguns dias aqui na Praia, tem como objectivo aumentar a produção ou produzir novos medicamentos?
As duas coisas. Tem como objectivo aumentar a produção e, também, temos novas moléculas, teremos novos produtos no mercado. Os equipamentos que vão ser montados, permitem-nos isso. Isto vai-nos permitir oferecer alguns produtos que não estaríamos em condições de fazer no país. Mas deixe-me voltar aqui um pouquinho atrás. Nós vamos remodelar o resto da fábrica durante o próximo ano para termos novas valências que não tínhamos até hoje como é o caso dos comprimidos revestidos. E é dentro deste padrão que esperamos que a fábrica fique totalmente certificada internacionalmente. Estamos a falar de um investimento 150 mil contos já realizados, e o novo investimento, que vamos fazer durante o próximo ano, será na ordem dos 250 mil contos, o que fará um total de 400 mil contos, nessa remodelação mais global. E isto permite-nos aumentar brutalmente a capacidade instalada e, sobretudo, aumentar o nosso leque de produtos. Estamos a falar de produtos que até hoje não tínhamos condições de fazer na fábrica, mas que poderão vir a ser feitos no futuro com novas tecnologias. Só para ter uma noção, nós, até hoje, tínhamos dificuldade em fazer comprimidos revestidos, e vamos passar a ter essa capacidade com novos equipamentos. É uma tecnologia que nós não tínhamos em Cabo Verde e que vamos passar a ter. Isto é um exemplo. A capacidade instalada que vamos passar a ter vai permitir-nos exportar 80% daquilo que produzimos. Cabo Verde irá ficar com 20% daquilo que produzimos. O resto será tudo para arranjarmos mercado para os colocar no exterior. Essa é a grande virtude e a grande alavancagem que nos permitiu avançar com o projecto.
Tem falado muito na questão da exportação, pergunto-lhe quais são os planos de expansão e de internacionalização da Inpharma?
Historicamente, a Inpharma tem exportado para alguns países, normalmente PALOP. Há algumas coisas para outros países, mas em pequena dimensão. A nossa capacidade também está limitada, e como deve compreender, há grandes compras, nomeadamente, para os serviços de saúde, que são compras em grandes quantidades. Nós não tínhamos condições de produzir grandes quantidades. Mas, com esta alteração, com este investimento, ficamos com uma capacidade de muitos milhões de unidades. Isso permite-nos ir aceder ao mercado de compras agrupadas. Há um conjunto de Países que criaram uma central de compras agrupadas como o Comores, Guiné-Bissau, Maurícias, São Tomé e Príncipe, Seychelles, que estão neste momento unidos, no sentido de poderem vir a fazer esse tipo de compras e nós estamos, também, a preparar-nos para responder a esses pedidos. Até ao final do próximo ano, estaremos disponíveis para isso com todo o nosso portfólio, porque, na verdade, são vinte novos produtos que nós iremos lançar no próximo ano. Além disso, nós participávamos, até há poucas semanas, no capital de uma empresa. Tínhamos 25% do capital e o restante pertencia a outros parceiros. Desde há três semanas que passámos a ter a totalidade do capital dessa empresa. Estamos a fazer uma aposta forte na Guiné-Bissau, com o controlo desta empresa, onde vamos ter uma divulgação muito maior dos produtos Inpharma naquele país. A gestão vai ser cabo-verdiana, portanto, são designadas pessoas para estar na Guiné-Bissau a controlar este nosso negócio. Isto é um sistema que nós pensamos que podemos replicar noutros países da região, ou seja, ter uma presença física própria, ou então fazer parcerias comerciais. Cada caso é um caso. Criadas as condições de capacidade produtiva e certificação internacional, agora nós temos uma ferramenta que nos permite ter a Inpharma com condições de ser um grande exportador daquilo que produz. Quero também anunciar que estamos a colaborar com uma tipografialocal na produção de bulas no sentido de evitar importações. As caixas dos medicamentos também vão passar a ser produzidas em Cabo Verde. Isto é muito importante para a economia nacional porque deixamos de importar e passamos a produzir localmente.
E estando presente na Guiné-Bissau fica mais fácil chegar ao mercado da CEDAO, não é?
Claro, claro que sim. Eu, quando falo dos países são sobretudo, dos PALOP e dos da CEDEAO. Deixe-me dizer que as embalagens novas que nós estamos a fazer já vão, grande parte delas, em três línguas. Ou seja, em português, obviamente, que é a nossa língua oficial, mas também em francês e inglês. Isso facilita imenso, como deve calcular.
E, em termos de acesso aos mercados internacionais, quais têm sido as grandes dificuldades que a Inpharma tem sentido?
Não podemos falar de grandes dificuldades, porque a Inpharma, hoje, não é um grande exportador. Nós estamos a preparar-nos porque passamos a ter a ferramenta adequada que é a capacidade produtiva. Não adiantava explorarmos os mercados internacionais com força, quando não tínhamos capacidade produtiva. Tínhamos de nos preparar primeiro. Tínhamos de ter capacidade produtiva e ter a certificação internacional que é um factor essencial. Agora, notamos que o maior problema é uma questão de circuitos de transporte. Não podemos esquecer que estamos em Cabo Verde com as dificuldades de circulação quer por via aérea, quer por via marítima. Por exemplo, há alguns anos, quando havia voos de Luanda, via São Tomé, para a Praia, nós tínhamos uma facilidade no escoamento de produtos quer para São Tomé, quer para Luanda. Nesse período, nós tivemos um crescimento grande de escoamento de produtos por via aérea. Recebíamos uma encomenda do nosso cliente em Luanda, ou do nosso cliente em São Tomé e passado um dia ou dois, eles tinham a encomenda. Depois temos a circulação por via marítima. Há muita dificuldade. Nós, quando fazemos uma exportação, por via marítima, o contentor tem que passar por Lisboa, para depois, a partir dali se fazer o transporte. Há esta dificuldade e, tanto quanto nos é dado a conhecer, acreditamos que vai haver melhorias em todo este processo de circulação de mercadorias. O resto é um trabalho que nós temos de desenvolver. Não quero deixar de realçar, que tem havido toda a abertura do governo, no sentido de apoiar todos os processos daquilo que nós necessitamos para desenvolver os processos de produção, da internacionalização e exportação. Quer o Ministério das Finanças, o Ministério da Economia, quer o Ministério da Saúde têm-nos dado toda a colaboração. Não é por falta de apoio das entidades governamentais, de que não nos podemos queixar. Tem havido total abertura para nos apoiar naquilo que necessitamos. Portanto, o trabalho tem de ser nosso, da empresa, e é isso que vamos ter de fazer.
Uma última questão, com esta nova unidade de produção que vão inaugurar, qual é a vossa expectativa em relação à vossa cota de mercado aqui em Cabo Verde?
Nós temos dois mercados localmente. Temos o ambulatório, que é o das farmácias privadas, que é o nosso cliente histórico, a Emprofac, e temos o Estado, através dos hospitais e dos centros de saúde. Portanto, nós, à medida que vamos aumentando a nossa gama de produtos, vamos aumentando também a nossa presença no mercado. Nós hoje representamos cerca de 35% do mercado, não a nível da quantidade de moléculas, mas a nível de valor de vendas. Com as novas tecnologias que estamos agora a implementar, vamos aumentar o número de moléculas e, como tal, iremos aumentar as nossas vendas no mercado nacional. Até hoje, portanto, como disse, tínhamos o cliente Emprofac, que é o nosso accionista desde o início. Este é um projecto que nasceu com a Emprofac e com a Labesfal Farma. Houve desde o início deste ano, uma nova licença de distribuidor, que é a Sodifar, que também já é nosso cliente. Temos esses dois players, a nível da distribuição, com quem tem havido uma colaboração muito grande. Nós temos agora que pensar nos mercados internacionais, porque com esses investimentos que já referi, nós podemos ter 80% da capacidade disponível para olharmos para o mundo, por enquanto em África, e por ventura, não só.