Em entrevista à Rádio Morabeza, no Dubai, à margem da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, Mafalda Duarte diz que espera ações concretas para efectivar o Acordo de Paris assinado em 2015, relativamente às questões do financiamento.
“É extremamente necessário. Para já, nós não vamos conseguir alcançar as metas do Acordo de Paris se os investimentos que vão ser feitos nos países em desenvolvimento não estejam de acordo ou alinhados com o Acordo de Paris, em termos de serem baixo carbono e resilientes ao impacto climático. E depois há uma outra questão que é: os países em desenvolvimento estão a sofrer desproporcionalmente os impactos das alterações climáticas e, como tal, tem que haver uma responsabilidade da parte dos países envolvidos em apoiar estes países a fazer face a estes impactos. Acho que tem faltado liderança política necessária, ao nível da ambição necessária”, entende.
Mafalda Duarte não tem dúvidas de que o memorando sobre a reconversão da dívida de Cabo Verde para com Portugal em financiamento climático é um passo importante. A responsável entende que o exemplo dado deve ser mais explorado, num cenário em que os países em desenvolvimento estão ainda mais endividados depois da pandemia e da guerra na Ucrânia.
“E, portanto, entrar nestes acordos em que se troca a dívida para que os países possam usar esses recursos para fazer investimentos que são extremamente necessários para que no futuro não estejam tão expostos a choques que impõem mais um peso na dívida nacional, acaba por ser um ciclo muito nefasto, que é por causa dos países não fazerem esses investimentos da próxima vez que há um impacto das alterações climáticas, custa muito mais”, afirma.
O Acordo de Paris estabelece uma série de ações a serem seguidas pelos países signatários para reduzir as emissões dos gases do efeito estufa. A directora executiva do Fundo Verde para o Clima considera que os passos que estão a ser dados são insuficientes perante os desafios reais do planeta.
“Não, não são suficientes e inclusive factos mais recentes, evidência mais recente de importantes cientistas mostra que estamos muito, muito fora da trajetória. E se não prestamos muita atenção em elevar o nível de ambição de forma muito acentuada e muito agressiva, estamos a correr grandes riscos de alcançar 1.5 graus celsius já dentro desta década, não nos 2030 ou 2040 e de ser necessário atingir a neutralidade do carbono em meados de 2030 e não 2050. Se já é um desafio enorme alcançar essa neutralidade em 2050, podem imaginar quão difícil é, se tem que se alcançar em 2035 ou 2034”, refere.
A COP 28 termina no dia 12 de Dezembro. Mafalda Duarte espera que das conclusões saiam ambição séria a nível do financiamento climático e os meios de implementação de apoio aos países em desenvolvimento, compromissos sérios na mitigação das emissões de carbono e aumento do apoio à adaptação às alterações climáticas.
A Rádio Morabeza está no Dubai a convite da CFI - agence française de développement médias.