Melhorar o rendimento de mulheres e jovens, contrariar o êxodo rural e gerar oportunidades económicas para as famílias são os objectivos do projecto Lidera Rural, que chega agora à Corda, no município da Ribeira Grande, Santo Antão.
Com foco em iniciativas locais promotoras do desenvolvimento sustentável, o projecto prevê, na localidade, a criação de uma Unidade de Valorização Agrícola e de uma esplanada comunitária, com o objectivo de reforçar a ligação entre produção agrícola, cultura e turismo.
O orçamento global do Lidera Rural, que também desenvolverá acções em Porto Novo, Paúl e São Vicente, é de 500 mil euros, com verbas da Cooperação Espanhola e execução do CERAI e da Associação Amigos da Natureza (AAN), em parceria com o Ministério da Agricultura e Ambiente, o Ministério da Educação, FICASE, INPS e a Associação de Municípios de Santo Antão.
Segundo Aguinaldo David, director executivo da AAN, o projecto pretende gerar impacto directo em grupos vulneráveis, nomeadamente mulheres e jovens, confrontados com taxas elevadas de desemprego e exclusão.
“A comunidade da Corda, à semelhança de outras zonas de sequeiro, tem sido afectada pelas mudanças climáticas, o que tem provocado um êxodo rural crescente. Este projecto actua precisamente neste sentido: gerar oportunidades reais e sustentáveis, que permitam às pessoas viverem e prosperarem nas suas comunidades”, afirma.
A Unidade de Valorização dará prioridade à transformação de frutas, como maçãs e marmelos, e de outras culturas locais, como feijão e ervilha. Já a esplanada "Sabores de Corda", idealizada pela comunidade, terá como missão aproveitar o potencial turístico da região, valorizando sabores e saberes locais.
As duas iniciativas, lançadas na semana passada, integram um plano mais vasto de promoção dos direitos sociais e económicos em zonas rurais de Santo Antão e São Vicente.
Maria do Rosário Gomes, presidente da Associação Comunitária Ponta d’Cinta, parceira local, reforça que as intervenções na Corda também vão contribuir para melhorar a comercialização dos produtos e facilitar o acesso a novos mercados.
“É um projecto importante, porque vai permitir melhorar a forma de comercialização dos produtos antes de serem colocados no mercado, além de possibilitar o estabelecimento de contactos com outros mercados, como lojas, cantinas escolares, restaurantes, cafés, entre outros. Já participámos em feiras alimentares e agora pretendemos fornecer produtos para cantinas escolares. As maçãs são o nosso cartão de visita e queremos criar uma marca própria, com o objectivo de gerar rendimento e fortalecer a comunidade”, sublinha.
A produção agrícola da zona tem potencial reconhecido, mas enfrenta desafios históricos, incluindo a perda de frutas no pós‑colheita. Para Antónia Fortes, moradora da Corda, uma unidade de transformação era uma reivindicação antiga dos moradores locais.
“Este é um projecto que temos vindo a reivindicar para a nossa comunidade. Temos uma zona com grande produção de frutas e, até agora, ainda não tínhamos tido a oportunidade de ter um posto de transformação das nossas frutas e de valorização de outras culturas. Sabemos que estas frutas são sazonais e, muitas vezes, acabam por se estragar. Agora, vamos ter a oportunidade de transformar e conservar essas frutas, o que nos permitirá apresentá‑las ao longo de todo o ano, desde que devidamente conservadas”, observa.
Com a centralização da recolha e transformação, será possível padronizar a qualidade, garantir melhores condições de conservação e apresentar produtos “Made in Corda”.
A presidente da Associação Comunitária Ponta d’Cinta sublinha que um dos impactos mais esperados é a valorização efectiva dos produtos locais, traduzida numa melhoria do preço final.
“O projecto vai permitir que coloquemos os produtos no mercado com valor acrescentado. Vamos recolher os produtos através do centro e, depois do tratamento, estes serão comercializados com um preço unificado, mais justo e adequado”, antecipa.
Na esplanada "Sabores de Corda", os turistas terão portas abertas para a degustação de produtos locais.
“Queremos também apresentar aos turistas um produto local, o que terá impacto positivo no rendimento das famílias”, explica Antónia Fortes.
Sobre a sustentabilidade a longo prazo, os promotores asseguram que essa é uma preocupação constante. Aguinaldo David, da AAN, realça que o envolvimento da comunidade na idealização e concepção é decisivo.
“Quando pensamos numa unidade deste tipo, ela é alvo de um plano de negócios, para compreender o fluxo de despesas, os custos de operacionalização e a projecção de mercado. O facto de a vincularmos ao mercado institucional, através, por exemplo, da FICASE, com contratos trimestrais e possibilidade de renovação, permite ter previsibilidade em termos de vendas e negócio (...) Pensamos sempre em outros mercados, como o mercado dos hotéis, restaurantes e cafés, o mercado convencional, os grandes distribuidores. E, muitas vezes, encurtando a cadeia de comercialização, ou seja, aproximando o produtor do consumidor final”, explica.
No âmbito do Lidera Rural, também será desenvolvido trabalho com outros operadores locais, criando condições que incentivem os visitantes a gastarem dinheiro nas comunidades.
*com Lourdes Fortes
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1233 de 16 de Julho de 2025.