Em seis meses, o Banco Mundial tirou 0,5% ao crescimento económico de Cabo Verde esperado para este ano. O Africa’s Pulse não explica este retrocesso, mas o arquipélago não é o único PALOP com a economia em queda: Angola passou de 2,7% para 2,3%, Moçambique de 3% para 1,8% e São Tomé e Príncipe de 3,1% para 2,5%. Em sentido contrário seguem a Guiné-Bissau (5,1% em Abril e 5,2% agora) e a Guiné Equatorial (-1,6% agora quando tinha sido projectado -3,1% em Abril).
A nível regional, o documento que foi publicado esta terça – quando se aproximam os Encontros Anuais do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, que decorrem na próxima semana – aponta para um crescimento na África Subsariana na ordem dos 3,8% em 2025, acima dos 3,5% em 2024, e acelerar ainda mais para uma taxa média anual de 4,4% em 2026-27. A previsão de crescimento foi revista em alta em 0,3 pontos percentuais em comparação com Abril. Esta melhoria é generalizada, com 30 dos 47 países a apresentarem revisões em alta nas suas previsões de crescimento.
Esta aceleração projetada para a África Subsariana é sustentada pela melhoria dos termos de troca em grande parte da região, contribuindo para a estabilização da moeda e, em alguns casos, para a valorização. A queda da inflação em muitos países também permitiu um gradual afrouxamento da política monetária, impulsionando o poder de compra das famílias e criando espaço para novos cortes nas taxas de juro. Estas condições favoráveis estão a impulsionar a recuperação do consumo privado e do investimento.
Devido à sua exposição comercial relativamente baixa aos Estados Unidos, os países da África Subsariana estão bem posicionados para suportar o impacto do aumento das tarifas americanas. No entanto, a incerteza quanto à implementação e duração das actuais medidas comerciais continua elevada. Esta incerteza persistente, aliada à vontade contida dos investidores globais e à restrição da oferta de financiamento externo, poderá restringir as perspetivas de crescimento. O elevado risco de sobreendividamento em muitos países da região deixa-os vulneráveis a choques externos, limitando a sua capacidade de responder eficazmente às perturbações económicas globais.
Combate à pobreza
Como refere o relatório, o crescimento na África Subsariana tem sido insuficiente para uma redução significativa da pobreza extrema ou a uma melhor distribuição de rendimentos. O rendimento real per capita na região deverá crescer 1,3% em 2025 (1,0% em 2024) e deverá atingir 1,9% até 2026-27. Embora represente uma recuperação gradual de uma década de choques sucessivos, a recuperação ainda não ganhou um impulso forte. Depois de atingir um pico de 50% em 2024, a pobreza — medida em 3 dólares per capita por dia — deverá descer para 48,4% em 2027. O número total de pessoas pobres na região deverá aumentar para 671 milhões em 2027 (eram 576 milhões em 2022).
A inflação continuou a recuar na maioria dos países da África Subsariana, embora a velocidades variáveis. Depois de ter atingido um pico de 9,3% em 2022, a taxa de inflação mediana da região desceu para 4,5% em 2024 e a projeção é que estabilize entre os 3,9% e os 4,0% ao ano entre 2025 e 2026. O número de países da região com taxas de inflação de um dígito aumentou de 27 em 2022 para 37 em 2025-26.
Olhando para o futuro, a perspectiva de uma inflação regional mais baixa depende da queda contínua dos preços das matérias-primas, especialmente do petróleo e dos alimentos. Uma gestão prudente do orçamento e da dívida, juntamente com reformas que aumentem a produtividade, serão fundamentais para suportar o recente fortalecimento das moedas regionais. No entanto, os riscos de uma nova inflação persistem, impulsionados pela incerteza política mundial.
Já os défices orçamentais globais continuam altos devido aos elevados pagamentos líquidos de juros sobre a dívida pública. Prevê-se que estes pagamentos variem entre 2,9% e 3,3% do PIB durante o período de 2023 a 2026, obrigando os governos a desviar fundos de serviços públicos essenciais. O risco de sobreendividamento na África Subsariana continua elevado, com implicações significativas para a estabilidade orçamental e para os resultados do desenvolvimento. O número de países em sobreendividamento ou com elevado risco de sobreendividamento quase triplicou — de oito em 2014 para 23 em 2025 — representando 49% da região.
Desafio do emprego
O Banco Mundial é taxativo: o enorme desafio da criação de emprego na África Subsariana não pode ser resolvido com o actual modelo de crescimento. O duplo repto da região em termos de emprego é acelerar a criação de emprego para a sua população em idade activa, em rápido crescimento, e garantir que estes empregos oferecem melhores salários, estabilidade e oportunidades.
A África Subsariana, refere o Africa’s Pulse, “exige um novo modelo de crescimento ancorado nas médias e grandes empresas, que são motores essenciais da produtividade e da criação de emprego”. E é fundamental libertar os motores do crescimento do emprego.
A criação de emprego em grande escala na região ocorrerá quando as reduções no custo de fazer negócios permitirem que as empresas existentes cresçam e atraiam novas empresas de elevado crescimento para o mercado. Para tal, diz o Banco Mundial, é necessário abordar as restrições fundamentais ao desenvolvimento do sector privado através de políticas que: melhorem o fornecimento de infra-estruturas essenciais e as competências da força de trabalho, promovam um ambiente de negócios mais propício e reforcem a capacidade dos Estados e das instituições.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1245 de 08 de Outubro de 2025.