Idrissa Nassa, PCA da Coris Holding: “Somos um dos grupos bancários com o crescimento mais sólido na África Ocidental”

PorAndré Amaral,16 nov 2025 8:06

A Coris Holding, segundo maior grupo bancário da União Económica e Monetária Oeste-Africana, prepara-se para entrar no mercado cabo-verdiano através da aquisição de 59,81% do capital do Banco Comercial do Atlântico. O presidente do Conselho de Administração, Idrissa Nassa, afirma que a ambição é reforçar a posição do BCA e transformá-lo num banco mais moderno, digital, inclusivo e orientado para o financiamento da economia real.

A Coris Holding ganhou o concurso internacional para a venda de 59,81% do capital social do Banco Comercial do Atlântico, que pertence à Caixa Geral de Depósitos. Poderia apresentar a Coris Holding?

O grupo bancário pan-africano Coris nasceu da vontade de tornar os serviços bancários acessíveis a todas as populações e de oferecer soluções de financiamento adaptadas às necessidades das economias africanas, com o slogan «Fazer banca de forma diferente». Assim, o grupo Coris iniciou as suas actividades em 2008, com a criação da sua primeira filial, a Coris Bank International SA, que é o segundo maior banco no mercado dos oito países da União Monetária Oeste-Africana (UEMOA) e está cotado na Bolsa de Valores Regional em Abidjan, na Costa do Marfim.

Com um modelo de negócio único, centrado no financiamento de PME/PMI e empresas locais, o grupo Coris, através da sua marca «Coris Bank International (CBI)», expandiu-se com sucesso em dez países africanos. Para uma melhor supervisão das filiais e um desenvolvimento harmonioso do grupo, a Coris Holding iniciou então a implementação de uma estratégia que lhe permitiu contar actualmente com: um pólo bancário, sob a marca Coris Bank International, presente em dez (10) países; um banco denominado Coris Bank International, presente em oito países onde o grupo está implantado; uma actividade de banca digital, dedicada a uma clientela totalmente digital, que utiliza serviços de banca móvel oferecidos por todas as filiais; um pólo de meso-finanças, sob a marca Coris Meso Finanças, com três filiais operacionais no Benim, no Burquina Faso e na Costa do Marfim.

Esta estrutura diversificada permite ao grupo Coris manter a sua posição de líder no financiamento de Pequenas e Médias Empresas e Pequenas e Microempresas (PME/PMI), enquanto alarga a sua oferta de serviços financeiros através de diferentes segmentos do mercado africano. O banco tem um total de activos de 10 mil milhões de dólares, ou seja, cerca de mil milhões de escudos cabo-verdianos, mais de um milhão de clientes em dez países, e é um banco sistémico regional nos oito países da União Monetária Oeste-Africana (UEMOA), de acordo com dados publicados pela Comissão Bancária da União Monetária em 2024.

A expansão geográfica estratégica abrange agora dez (10) países, com projectos de entrada em três mercados em curso, em países estratégicos do continente, como Cabo Verde, o Gabão e os Camarões.

Pode falar-nos sobre a estrutura accionista da Coris Holding?

A Coris Holding é um grupo cujo accionariado reflecte a nossa história: a de uma empresa africana sólida, construída por africanos, para o desenvolvimento de África. O nosso capital é detido maioritariamente por accionistas privados africanos comprometidos a longo prazo e guiados por uma visão estratégica de estruturar um grupo financeiro estável, responsável, eficiente e profundamente enraizado nas realidades económicas locais. Esta composição accionista coerente oferece-nos a liberdade de investir, inovar e construir a longo prazo.

Com os desafios estratégicos que se apresentam no mercado bancário mundial, o grupo decidiu aproveitar as oportunidades de entrada no seu capital de instituições financeiras de desenvolvimento. Assim, em Outubro de 2025, assinámos a entrada no capital da Coris Holding de um consórcio composto pela Mediterrania Capital Partners (MCP), uma empresa de capital de investimento especializada no acompanhamento do crescimento de PME e empresas africanas, e por quatro instituições financeiras de desenvolvimento de craveira internacional, como a BII (British International Investment), uma instituição de financiamento ao desenvolvimento detida pelo Estado britânico; a BIO (detida pelo Estado belga, que financia o desenvolvimento do sector privado em países emergentes através de instituições financeiras, PME e infra-estruturas); a FMO (detida pelo Estado dos Países Baixos, um dos bancos de desenvolvimento mais antigos do mundo); e a IFU (Impact Fund Denmark, detida pelo Estado dinamarquês, uma instituição de desenvolvimento que combina capitais públicos e privados para promover o crescimento inclusivo e a transição verde).

As instituições financeiras entraram no capital da Coris Holding com um investimento de 100 milhões de euros, demonstrando assim a excelência da reputação da Coris Holding e o facto de estar a operar num quadro institucional e regulatório seguro.

Qual é a visão do seu grupo e que estratégia pretende implementar para a concretizar?

A nossa visão é pragmática e ambiciosa: ser o grupo bancário e financeiro pan-africano de referência, líder na oferta de serviços bancários, meso-finanças e inovação. Para concretizar esta visão, a nossa estratégia assenta em quatro pilares: excelência operacional, para oferecer serviços rápidos, fiáveis e acessíveis; inovação tecnológica, que está no centro do nosso modelo de crescimento; expansão geográfica controlada, visando mercados dinâmicos onde o nosso modelo pode criar valor rapidamente; e financiamento da economia real, nomeadamente de PME, empreendedores e sectores promissores, como a agricultura, a construção ou o turismo.

O posicionamento qualitativo das nossas filiais nos seus respectivos mercados demonstra a eficácia desta estratégia nos países onde estão implantadas. A Coris Holding é hoje o segundo grupo bancário da UEMOA, de acordo com os dados publicados pela Comissão Bancária da UMOA em 2024.

Qual é a sua estratégia para melhorar a competitividade do Banco Comercial do Atlântico e satisfazer os seus clientes?

Gostaria, antes de mais, de saudar o excelente trabalho realizado pela equipa do BCA, com o apoio da Caixa Geral de Depósitos (CGD), para elevar este banco ao seu nível actual. Trata-se de um banco com um sólido potencial de desenvolvimento e com pessoal de qualidade, que tivemos a oportunidade de apreciar durante o processo de aquisição em curso. Conforme notámos na nossa proposta, aquando do concurso lançado pela CGD para a venda de 59,81% do capital social do BCA, o maior activo do BCA são os cerca de 415 cabo-verdianos e cabo-verdianas que trabalham no dia-a-dia neste banco.

É também o momento de saudarmos a qualidade do apoio das autoridades de Cabo Verde ao sector bancário, em geral, e a este banco em particular, o que lhe permite hoje ser um orgulho nacional e uma referência para a população cabo-verdiana, em Cabo Verde e na Diáspora, em matéria de operações bancárias. A nossa ambição é continuar este trabalho com as equipas competentes do banco. Para nós, trata-se de acelerar o processo de transformação em curso do BCA, para um banco ainda mais moderno, eficiente, inclusivo e competitivo à escala de Cabo Verde e da sub-região.

Vamos agir em três eixos: modernização e digitalização — oferecer aos clientes cabo-verdianos uma experiência bancária fluida, rápida e segura, em conformidade com os padrões internacionais; proximidade e qualidade do serviço — reforçar a presença no terreno, ouvir os clientes, reduzir os prazos e melhorar a satisfação dos clientes; desenvolvimento de novos produtos — nomeadamente para as PME, as empresas locais, as diásporas, o comércio internacional e os sectores-chave da economia cabo-verdiana.

O nosso objectivo é claro: reforçar a posição do BCA no seu mercado e torná-lo um banco de referência em África.

Com mais de dezassete anos de actividade no sector bancário, o grupo Coris pretende contribuir activamente para o desenvolvimento da economia nacional e apoiar a população cabo-verdiana através dos seus principais sectores de actividade, financiando as famílias, as empresas e o Estado. A ambição do grupo Coris é também posicionar-se como uma alavanca da integração económica do continente africano, de forma a levar empresas cabo-verdianas para o continente, alargando o mercado dessas empresas, contribuindo para a internacionalização das empresas cabo-verdianas e para a diversificação da economia e dos mercados do comércio de Cabo Verde.

Como pretende melhorar o acesso ao financiamento das empresas, incluindo as PME e as famílias?

O nosso modelo baseia-se na firme convicção de que o crescimento económico africano se constrói, em primeiro lugar, com as PME, as empresas locais e as famílias. Com a nossa experiência noutros países africanos, iremos implementar produtos de financiamento adequados, flexíveis e acessíveis; processos mais rápidos, graças à digitalização, à descentralização e ao empenho do pessoal; e programas de acompanhamento para ajudar os empresários a estruturar melhor os seus projectos; proporcionar linhas de financiamento em parceria com instituições financeiras como a Sociedade Financeira Internacional (SFI, do grupo do Banco Mundial), o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), o Afreximbank ou outros parceiros estratégicos.

Por já trabalhar com elas, iremos pôr à disposição das empresas cabo-verdianas as importantes linhas de crédito que já temos das instituições acima mencionadas. Queremos que as empresas cabo-verdianas, sejam elas pequenas ou grandes, encontrem no BCA um parceiro de crescimento e que cada família possa ter mais fácil acesso à habitação, ao financiamento da educação e à melhoria do bem-estar. Neste sentido, iremos trazer novos produtos ao mercado, por forma a melhorar a qualidade dos nossos serviços às famílias e empresas e, assim, melhorar a competitividade do BCA, um banco de referência em Cabo Verde.

Em termos de resultados, qual é a dimensão da Coris Holding em termos de balanço total, número de países em que está presente, número de funcionários, agências, número de clientes, volume de empréstimos concedidos, número de bancos correspondentes que possui?

A Coris Holding é hoje o segundo maior grupo bancário da UEMOA, com mais de 3.000 funcionários, mais de um milhão de clientes titulares, 13 filiais bancárias e de meso-financiamento presentes em 10 países e, em breve, em 13 países. O balanço total do grupo é superior a 10 mil milhões, ou seja, 110 mil milhões de escudos cabo-verdianos, e o financiamento aos clientes é da ordem dos 5 mil milhões de euros, com base numa captação de recursos superior a 8,5 mil milhões de euros.

O grupo dispõe de uma extensa rede de correspondentes bancários internacionais, com mais de 40 bancos correspondentes, entre os quais o JP Morgan, o maior banco dos Estados Unidos, o Citibank, o terceiro maior banco dos Estados Unidos, a Caixa Geral de Depósitos, o maior banco de Portugal, e a Société Générale, o segundo maior banco de França, o que nos permite acompanhar os nossos clientes em todos os continentes e em todas as suas operações bancárias internacionais. Somos um dos grupos bancários com o crescimento mais sólido na África Ocidental.

Além do sector bancário, o que sabe sobre Cabo Verde?

O que sei sobre Cabo Verde é, em primeiro lugar, a importância do sector turístico, que contribui com 25% para a economia nacional e atrai cerca de 1,3 milhões de turistas por ano, um número em crescimento. É um excelente desempenho e prova de que o destino é muito procurado e competitivo. Notei que este turismo pode ser sazonal, com uma época alta durante o inverno na Europa, embora esta tendência comece a reduzir-se.

Queremos apoiar Cabo Verde em receber mais turistas, especialmente em destinos como Santiago e São Vicente, para complementar os destinos principais, que são o Sal e a Boavista. Aprecio a riqueza cultural do país, nomeadamente a bela música cabo-verdiana, que é internacionalmente reconhecida graças a grandes nomes da música cabo-verdiana, como Cesária Évora, Ildo Lobo, Gil Semedo, entre outros.

Também aprendi muito sobre a contribuição de Cabo Verde para a humanidade quando visitei a Cidade Velha. Além disso, acompanhei com muita atenção a qualificação dos Tubarões Azuis para a Copa do Mundo de Futebol de 2026. É um momento histórico que demonstra bem a capacidade do povo cabo-verdiano de enfrentar desafios que parecem insuperáveis. Todos nós vamos acompanhar a selecção nacional nas fases finais da Copa do Mundo nos Estados Unidos, no Canadá e no México.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1250 de 12 de Novembro de 2025.

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Autoria:André Amaral,16 nov 2025 8:06

Editado porSara Almeida  em  16 nov 2025 18:20

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