Na China, há polícias a usar óculos com reconhecimento facial para identificar cidadãos

PorExpresso das Ilhas,19 fev 2018 6:27

​Em Zhengzhou, estão a ser testados óculos equipados com um sistema de reconhecimento facial à base de inteligência artificial, capaz de identificar qualquer pessoa e saber se é suspeita de crime.

Na cidade chinesa deZhengzhou, quem passe pela estação de comboio está a ser observado. Contudo, não é peloGrande Irmãode “1984”. Quem o faz é a polícia, que está a testar óculos comtecnologia de reconhecimento facialcapaz de identificar indivíduos esaber se são suspeitos de terem cometido algum crime. Desde 1 de Fevereiro, segundo oWall Street Journal, as autoridades já capturaram sete indivíduos procurados em grandes casos e outros 26 que viajavam com identidades falsas.

Segundo o observador.pt, a tecnologia está a ser testada durante a época doano-novo chinês, que é descrita como sendoa maior migração humana do mundo. Estima-se que todos os dias passam cerca de 60 mil pessoas pela estação de alta velocidade de Zhengzhou, número que deverá chegar aos 100 mil nas férias de ano-novo chinês.

Com os óculos de sol equipados com a câmara, os polícias à porta das estaçãoconseguem captar as caras de todos os que por lá passam, informação que é cruzada com aquela que está presente numabase de dados. Quase no imediato, através de um tablet, os agentes da autoridade sabem se por lá passou algum suspeito de crime.

De acordo com o Wall Street Journal, o fabricante, LLVision, afirma que os óculos são capazes de identificar indivíduos de uma base de dados de 10 mil pessoas em100 milissegundos, mas que o “ruído de ambiente” pode afectar a eficácia do sistema. Ao contrário de sistemas anteriores, esteapenas necessita de uma imagem de cada pessoa para fazer uma pesquisa.

Os óculos foram desenvolvidos em conjunto com a polícia para corresponder às suas necessidades. A China já tem 176 milhões de câmaras de vigilância fixas em todo o país —eestima-se que o número vá andar pelos 600 milhões em 2020–, mas a tecnologia de identificação facial não funciona da melhor forma nestas. A imagem é menos nítida e a detenção de um suspeito no momento em que foi identificado não é fácil. Quando as autoridades chegam ao local após verem as imagens, o indivíduo em questão já fugiu ou se misturou na multidão.

Em oposição, o aparelho que está agora a ser testadopermite à polícia “verificar em qualquer lugar”, afirma o chefe executivo do fabricante, Wu Fei. Com os óculos equipados com inteligência artificial o “feedback” é “instantâneo e preciso”, o que permite “decidir imediatamentequal será a próxima interacção”, explicou.

Estes novos óculos preocupam defensores do direito à privacidade, que afirmam que novas tecnologias de vigilância estão a ser introduzidas sem legislação ou regulamentos adequados. William Nee, investigador da Amnistia Internacional, disse ao WSJ que “o potencial para dar tecnologia de reconhecimento facial a polícias individualmente pode fazer com que o estado de vigilância da China se torne mais omnipresente.”

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 846 de 13 de Fevereiro de 2018.

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Autoria:Expresso das Ilhas,19 fev 2018 6:27

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  19 fev 2018 6:27

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