As histórias de horror dos parasitas que controlam a mente de suas vítimas

PorExpresso das Ilhas,15 mai 2018 10:12

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​Lagartas que se fazem passar por abelhas-rainhas, parasitas que obrigam formigas a se suicidarem e organismos que deixam os ratos à mercê dos gatos são apenas alguns exemplos.

Lagartas que se fazem passar por abelhas-rainhas, parasitas que obrigam formigas a se suicidarem e organismos que deixam os ratos à mercê dos gatos

Milhões de anos de evolução permitiram o surgimento de sofisticados mecanismos de algo parecido ao controlo mental no qual as vítimas entregam suas vidas para benefício do organismo que lhes infectou. Animais que se suicidam para que os parasitas possam alcançar o seu objectivo ou insectos que ficam velando pela segurança das crias de seu assassino enquanto estas lhe devoram por dentro acordam o interesse da neuro-parasitologia, um ramo que procura compreender as bases biológicas destas práticas impiedosas.

Num artigo publicado em Frontiers in Psychology, um grupo de pesquisadores da Universidade Ben-Gurion do Negev, em Israel, oferece alguns exemplos de manipulação do sistema nervoso da vítima e os esforços realizados para os explicar.

Um dos usos que os parasitas fazem de suas vítimas é o dos empregar como meio para se reproduzirem. Como relata o El País/Brasil, é o caso do Dicrocoelium dendriticum, que começa seu ciclo no fígado de animais como as ovelhas. Ali põem ovos que depois são expulsos através das fezes e passam a infectar os caracóis que se alimentam delas. A seguir, os caracóis produzem uma mucosidade que atrai as formigas, que acabam infectadas pelos parasitas. Enquanto a maioria dos parasitas fica no hemolinfo, o sangue das formigas, um só dos parasitas migra até a cabeça do insecto e começa a segregar algum tipo de substância química que serve para controlar seu comportamento.

Uma vez infectada, a formiga continua comportando-se como mais uma de sua colónia, mas quando cai a tarde e o ar esfria, abandona o grupo e sobe para o alto de uma folha. “Uma vez ali, sujeita-se mordendo com força e espera que algum animal a devore”, explicam os autores do trabalho, liderado por Frederic Libersat, citados pela mesma fonte. Se, quando amanhece, a formiga salvou a vida,regressa à sua colónia e comporta-se normalmente até que volte a anoitecer. Nesse momento, o parasita toma o controlo de novo e regressa a uma folha à espera de acabar no fígado de um animal onde o parasita possa completar seu ciclo.

Outro tipo de manipulação mental entre insectos é o que permite controlar as vítimas para que cuidem das crias que eles lhes inocularam. Isso foi observado em várias relações entre vespas e lagartas. As vespas (Glyptapanteles), por exemplo, injectam com uma ferroada seus ovos nas lagartas (Thyrinteina leucocerae). Já com os parasitas dentro, o animal recupera-se rapidamente e continua a alimentar-se. No seu interior, até 80 larvas crescem durante duas semanas antes de perfurar seu corpo e sair. Uma ou duas larvas permanecem dentro da lagarta e, por um mecanismo desconhecido, transformam-na numa espécie de espantalho. Assumindo o controlo de seu organismo provocam-lhe espasmos que servem para manter distantes os predadores que poderiam atacar suas irmãs. Segundo os autores, esse tipo de comportamento leva a uma redução importante da mortalidade das pequenas vespas.

As interacções parasitárias podem ser ainda mais complexas. Existe um tipo de lagarta (Maculinea rebeli) capaz de se infiltrar nas colónias das formigas Myrmica schencki. Imitando a química da superfície desses insectos, a lagarta é capaz de evitar suas defesas. E não só isso. Sua imitação dos sons da formiga-rainha faz com que atraia atenções que somente ela tem dentro de sua colónia. A formiga-rainha parece ser a única consciente da farsa e a única que trata a lagarta como se fosse o inimigo.

Esses tipos de comportamento, frequentes entre insectos, têm um exemplo bem estudado entre os mamíferos. A toxoplasmose, provocada pelo parasita Toxoplasma gondii, produz um efeito nos ratos parecido ao dos Dicrocoelium dendriticum que fazem as formigas subirem ao alto de folhas para esperarem ser devoradas. Os roedores infectados, ao contrário de seu hábito, sentem-se atraídos pelo odor da urina dos gatos. Dessa forma, o parasita consegue passar de ratos para gatos para completar seu ciclo vital. Os parasitas induzem a essa mudança de comportamento produzindo quistos no cérebro dos animais, os quais geram uma enzima que limita os níveis de dopamina. Com um excesso desse neurotransmissor no organismo, os roedores se tornam imprudentes, algo que se observou em alguns humanos infectados pela toxoplasmose.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 858 de 9 de Maio de 2018.

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Autoria:Expresso das Ilhas,15 mai 2018 10:12

Editado porAndre Amaral  em  15 mai 2018 11:40

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