Em forma de aerossóis ou refrigerantes, os clorofluorocarbonetos (CFC) foram identificados nos anos 80 como os responsáveis pelo buraco da camada de ozono. Por isso, vários países comprometeram-se a substitui-los. Agora, cientistas dos Estados Unidos, Holanda e Reino Unido voltaram a medir as concentrações de CFC na atmosfera e ficaram surpreendidos. A taxa de declínio de um tipo de CFC na atmosfera – o CFC-11 – abrandou cerca de 50% desde 2012. A equipa sugere num artigo científico publicado esta quinta-feira na revistaNatureque estas emissões se devam a novas fontes. Suspeita-se de que essas emissões sejam ilegais e possam vir do Leste asiático.
Em 1985, descobriu-se umburaco na camada de ozono sobre a Antárctida. Na altura, os cientistas perceberam que os químicos sintéticos CFC, usados em aerossóis, refrigerantes, solventes ou na produção de espuma rígida de empacotamento, eram os culpados pela destruição do ozono estratosférico. Esta camada é fundamental para os seres vivos porque absorve mais de 95% da radiação ultravioleta proveniente do Sol. Era necessária uma resposta a este problema. Portanto, em 1987, 150 países assinaram um tratado – o Protocolo de Montreal – em que se comprometiam a eliminar a produção destes gases.
“Como resultado destas acções, a concentração de CFC na atmosfera atingiu um pico em meados e finais dos anos 90 e tem vindo constantemente a descer desde então”, refere Michaela Hegglin, da Universidade de Reading (Reino Unido) e que não participou no trabalho,num comentário ao artigo científico também na Nature, citado pelo Público. “Como a destruição de CFC na estratosfera é um processo lento, a sua remoção da atmosfera levará muitas décadas.”
Agora há más notícias relacionadas com um tipo de CFC, o CFC-11, também conhecido como triclorofluorometano. É um dos CFC que foram desenvolvidos para os refrigerantes nos anos 30 e também é usado em aerossóis ou solventes. Quando é libertado, pode permanecer 50 anos na atmosfera e era o segundo gás que destruía o ozono mais abundante na atmosfera. Mas, entre 2002 e 2012, conseguiu-se que as suas concentrações diminuíssem.
Vamos então às novas notícias: a partir de 2012, verificou-se que o seu declínio abrandou cerca de 50%. “Temos vindo a fazer medições há mais de 30 anos e isto é do mais surpreendente que temos visto”, reage Stephen Montzka, da agência dos oceanos e da atmosfera dos EUA (NOAA) e um dos autores do trabalho, ao jornalThe Washington Post. “As emissões [deste CFC] foram mais altas cerca de 25% em 2014 do que entre 2002 e 2012”, frisa por sua vez ao PÚBLICO Michaela Hegglin.
O aumento das emissões de CFC-11 foi detectado em plumas de ar no Observatório de Mauna Loa, no Havai. No artigo científico, sugere-se que é provável que estas emissões estejam a ser lançadas no Leste asiático. Mas não é a única opção considerada pelos cientistas no artigo: “Embora esta prova [das plumas] sugira fortemente que o aumento das emissões venha do Leste asiático depois de 2012, mudanças no período de vida do CFC-11 ou da dinâmica nas trocas entre as estratosfera e a troposfera poderão influenciar a magnitude das emissões.”
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 860de 23 de Maio de 2018.