A terapia experimental que eliminou a metástase

PorExpresso das Ilhas,2 jul 2018 6:29

​Um autotransplante de linfócitos funcionou contra os tumores mais letais, embora os especialistas alertem que a técnica ainda está em estágio inicial.

Em 2014, a engenheira americana Judy Perkins tinha 49 anos e sofria um tumor de mama com metástase no fígado e outros órgãos. Os médicos davam-lhe apenas dois meses de vida. Quase quatro anos depois, continua viva e está há dois anos e meio sem nenhum sinal de câncer graças a um autotransplante de seus próprios linfócitos. O seu caso transformou-se numa esperança para desenvolver uma nova imunoterapia contra os tipos de câncer mais letais.

“Vimos cinco pacientes com remissões espetaculares como esta, incluindo outra mulher com câncer de cólon metastático que está há quase cinco anos sem a doença”, afirma Steven Rosenberg, cirurgião do Instituto Nacional do Câncer dos EUA e criador dessa terapia experimental. “Esta técnica está ainda em sua infância. Trabalhamos sem descanso para aumentar sua eficácia, porque até agora só 15% dos pacientes respondem”, adverte Rosenberg, um veterano pesquisador de 78 anos, citado por El País/Brasil.

O mais interessante desses casos isolados é que os pacientes tinham tumores epiteliais com metástase em outros órgãos. Esse grande grupo de lesões causa 90% de todas as mortes por câncer e não há nenhum tratamento eficaz contra elas. “Esses resultados dão-nos esperança de poder encontrar uma estratégia para tratar tumores epiteliais, por exemplo de fígado, cólon, colo do útero, mama e outros”, detalha Rosenberg.

A nova técnica é conhecida como linfócitos que se infiltram no tumor (TIL, na sigla em inglês), uma nova variante de imunoterapia em fase de testes que poderia somar-se às já existentes. Actualmente já há no mercado medicamentos baseados em anticorpos que se unem aos linfócitos e lhes permitem unir-se às células tumorais e destruí-las. Essa imunoterapia é eficaz contra o melanoma metastático e o câncer de pulmão avançado, embora só funcione em um terço dos pacientes por razões que ainda não estão claras. Outro tipo de imunoterapia em cujo desenvolvimento Rosenberg teve um papel fundamental é a terapia genética com base em células CAR-T, linfócitos modificados geneticamente que se mostraram eficazes contra tumores sanguíneos, principalmente leucemias agudas em pessoas jovens.

A técnica TIL é outra reviravolta destinada a combater tumores que não respondem a outras imunoterapias. Ela consiste em isolar linfócitos T que penetraram no tumor e selecionar aqueles que são capazes de identificar neoantígenos, proteínas produzidas somente pelas células tumorais. No tratamento de Perkins, por exemplo, os médicos isolaram apenas 11 linfócitos que identificavam quatro antígenos tumorais, a partir dos quais obtiveram em laboratório 80 bilhões de filhos que depois foram reinjetados. Um ano depois, todos os tumores tinham desaparecido.

O custo dos medicamentos aprovados para a terapia CAR-T é de 400.000 euros e o da TIL poderia passar disso. A possibilidade de desenvolver novas terapias para tumores mais letais pelas quais quase ninguém possa pagar é real, reconhecem alguns oncologistas.

Entretanto, Rosenberg não tem dúvida de que se os tratamentos desse tipo se mostrarem eficazes, “o engenho da indústria farmacêutica se encarregará de torná-los possíveis e acessíveis”.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 865 de 27 de Junho de 2018.

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Expresso das Ilhas,2 jul 2018 6:29

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  2 jul 2018 6:29

pub.

pub.

pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.