Berners-Lee admite que, "ao mesmo tempo que a 'web' criou oportunidades, deu voz a grupos marginalizados e facilitou as nossas vidas diárias, também criou oportunidades para burlões, deu voz aos que espalham o ódio e tornou todos os tipos de crime mais fáceis de serem cometidos".
Apesar dos abusos e do sentimento de insegurança e medo sentido por algumas pessoas, o cientista reivindica que "a 'web' é verdadeiramente uma força do bem" e lançou um apelo à acção.
"Considerando o quanto a 'web' mudou nos últimos 30 anos, seria derrotista e pouco imaginativo supor que a web como a conhecemos não pode ser modificada para melhor nos próximos 30 anos", disse.
Identificando problemas como o uso indevido, ataques por estados hostis ou criminosos, o assédio online e o sistema de financiamento baseado em publicidade, Tim Berners-Lee defende na carta aberta uma maior regulamentação e a mudança do sistema de remuneração pelo tráfego para retirar incentivos ao uso de informação sensacionalista ou falsa.
"Não é possível culpar apenas um governo, uma rede social ou a natureza humana. Narrativas simplistas correm o risco de esgotar a nossa energia à medida que perseguimos os sintomas desses problemas, em vez de nos concentrarmos nas suas causas. Para fazemos isto bem, precisamos nos unir como uma comunidade global da web", vincou.
Berners-Lee reitera no documento hoje divulgado o desafio lançado no ano passado em Lisboa, durante a Web Summit, para a criação de "um contrato" entre utilizadores, empresas e governos de todo o mundo para "tornar a 'web' num sítio melhor", reduzindo desigualdades e melhorando questões como a privacidade.
"O Contrato para a Web não deve ser uma lista de soluções rápidas, mas um processo que sinaliza uma mudança na forma como entendemos o relacionamento com a comunidade online. Deve ser claro o suficiente para orientar o caminho a seguir, mas flexível o suficiente para se adaptar ao ritmo acelerado de mudança na tecnologia. É a nossa viagem da adolescência digital para um futuro mais maduro, responsável e inclusivo", defendeu o inventor da Internet.
Para além da carta aberta, o 30.º aniversário da Internet vai ser marcado na terça-feira com uma viagem de 30 horas de Tim Berners-Lee - que começará no Centro Europeu de Investigação Nuclear (CERN) em Genebra e terminará na quarta-feira em Lagos, na Nigéria -, participará em conferências e em iniciativas de promoção do uso da Internet.
Tim Berners-Lee, cuja ideia em 1989 de um "sistema de gestão descentralizada de informação" resultou na criação da 'World Wide Web', lançou 20 anos depois, em 2009, a Fundação Web, uma organização que promove o desenvolvimento da rede e o acesso à Internet em todo o mundo.
Google assinala aniversário
O 30º aniversário da Web não podia passar despercebido à Google, que lançou no seu motor de busca um pequeno Doodle para marcar a ocasião.
Na publicação da empresa sobre o Doodle é possível ficar a saber um pouco mais sobre a origem desta inovação. Na altura um engenheiro de software com 33 anos, Berners-Lee apresentou a proposta ao seu superior como forma de melhorar a partilha de informações entre os cientistas e investigadores do laboratório de física nuclear CERN, na Suíça.
Apesar de considerar a proposta “vaga”, o superior de Berners-Lee deu ‘luz-verde’ ao projeto e por volta de 1991 os servidores externos da Web estavam a trabalhar a ‘todo o vapor’.
“Em breve a Web viria a revolucionar a vida como a conhecemos, impulsionando a era da informação. Hoje, estão online quase dois mil milhões de sites. Quer a uses para consultar o e-mail, fazer trabalhos de casa, jogar videojogos ou ver vídeos de cães fofinhos, é provável que não consigas imaginar a vida sem a Web”, pode ler-se na publicação do Google Doodle.