Facebook vai lançar a libra, uma criptomoeda para pagamentos que não passam pelos bancos

PorExpresso das Ilhas,1 jul 2019 6:13

Rede social juntou-se a empresas como Mastercard, Visa, PayPal e Uber para criar um novo sistema de pagamentos assente na tecnologia da bitcoin.

O Facebook anunciou planos para criar uma criptomoeda, a libra, e uma carteira electrónica para a guardar, a Calibra. Deverão estar prontas no próximo ano e o objectivo é processar pagamentos e transferências online a partir de aplicações como o Messenger e o WhatsApp, sem depender dos bancos tradicionais.

A rede social não vai gerir directamente a nova moeda digital: a responsabilidade vai para uma associação de 28 empresas e organizações não-governamentais, que inclui empresas de pagamentos como o PayPal, a Mastercard e a Visa. Fazem também parte da associação a Uber, o Spotify e a loja de roupa online Farfetch (que tem boa parte das operações em Portugal). Nenhum banco se juntou à iniciativa. A sede da associação fica em Genebra, na Suíça.

Como noticiou o jornal Público, este é o primeiro caso de colaboração entre vários gigantes empresariais para criar uma divisa que pode ser enviada electronicamente entre utilizadores em qualquer parte do mundo, sem necessidade de uma entidade central. O conceito nasceu e popularizou-se com a bitcoin, a primeira das criptomoedas, que foi apresentada pela primeira vez em 2008, e que desde então levantou várias preocupações de regulação.

A carteira electrónica das novas criptomoedas vai funcionar no Messenger (a aplicação de mensagens do Facebook), no WhatsApp (que o Facebook comprou em 2014), e numa aplicação própria – a Calibra. O plano passa por criar uma forma para milhares de pessoas sem acesso a uma conta bancária (mas com acesso à Internet e a um smartphone) transferirem e guardarem dinheiro a partir do telemóvel.

Iwa Salami, professora de lei e regulação financeira na Universidade de East London, alerta que a libra não terá a mesma independência que outras criptomoedas. “A libra seria uma divisa digital centralizada, cujas operações são controladas pelo Facebook – a autoridade central”, diz ao Público Salami, que já publicou vários textos sobre a popularidade de criptomoedas nos últimos anos. A académica acrescenta, no entanto, que o maior potencial da moeda é a inclusão financeira, dada a rapidez e baixo custo de transferir dinheiro digital através das aplicações do Facebook, sem outro intermediário. “Isto podia facilmente ser uma divisa global. O potencial da libra é global visto que o Facebook chega a perto de 2,4 mil milhões de utilizadores todos os meses”, diz Salami.

A maior barreira, argumenta Salami, é a história recente do Facebook com a gestão de dados pessoais: “Podemos confiar-lhes o dinheiro das pessoas, tendo em conta os casos de abuso de dados no passado recente?”

Em português, o nome da nova criptomoeda lembra a libra esterlina usada no Reino Unido (pound, em inglês). Tal como a bitcoin, a libra vai circular numa base de dados descentralizada (a blockchain da libra) e de código aberto. Mas, contrariamente à bitcoin, a libra começa por estar suportada por uma reserva de moedas fiduciárias, como o dólar norte-americano. Para garantir alguma estabilidade à nova moeda, cada membro fundador da associação deve contribuir com pelo menos dez milhões de dólares (perto de nove milhões de euros) durante a fase inicial.

“O objectivo desta reserva é mitigar a probabilidade e severidade de variações [no valor da libra], particularmente numa direcção negativa”, lê-se numa página sobre a nova moeda, onde se acrescenta que, “como o valor da libra estará efectivamente associado a um cabaz de divisas fiduciárias, existirão flutuações no valor.”

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 917 de 26 de Junho de 2019. 

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Autoria:Expresso das Ilhas,1 jul 2019 6:13

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  27 mar 2020 23:21

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