segundo cita o El País, um dia depois que essa missão fez história ao realizar o primeiro voo motorizado em outro planeta, usando para isso o drone Ingenuity, um aparato chamado Moxie instalado nas entranhas do veículo conseguiu produzir cerca de cinco gramas de oxigénio, quantidade suficiente para que um astronauta pudesse respirar durante 10 minutos, de acordo com a NASA.
A atmosfera de Marte é irrespirável. É composta por 96% de dióxido de carbono, que é tóxico. O experimento Moxie, cujo nome faz referência ao projecto Experimento de Utilização de Recursos, é uma caixa do tamanho de uma torradeira, com cerca de 17 quilos. Foi projectado para absorver dióxido de carbono e quebrá-lo por dentro, realizando um processo de electrólise a cerca de 800 graus que produz moléculas de oxigénio praticamente puro e monóxido de carbono como o principal resíduo.
O principal uso desse oxigénio é como combustível para foguetes em retorno à Terra, embora a NASA também esteja considerando usá-lo para que os futuros astronautas em Marte possam respirar. O Moxie é apenas uma amostra de que é possível produzir oxigénio nesse planeta. Para retornar à Terra, um foguete precisaria de 25 toneladas de oxigénio. Mas também necessitaria de mais sete toneladas de outro combustível, que poderia ser o metano.
Como o metano seria produzido? “Uma opção é gerá-lo a partir da água congelada que existe no subsolo marciano”, explica Jorge Pla-García, pesquisador do Centro de Astrobiologia (CAB) de Madri e membro da missão da NASA em Marte. “Essa água gelada poderia ser usada para beber, irrigar cultivos e fabricar combustível”, detalha. “É preciso ter em conta que o custo de levar um quilo de material ao espaço é da ordem de um milhão de euros [6,6 milhões de reais], de modo que tudo o que possamos utilizar in loco é bem-vindo”, acrescenta.
Uma das opções que a NASA está considerando para futuras missões tripuladas é enviar um instrumento semelhante ao Moxie, mas de dimensões muito maiores para que pudesse produzir oxigénio em grandes quantidades.
“O feito do Moxie é tão importante quanto o do Ingenuity, porque abre um novo caminho na exploração marciana ao demonstrar a capacidade de gerar um elemento essencial tanto para a respiração humana como para a síntese de combustível em Marte e até mesmo para produzir água”, explica Alberto González-Fairén, pesquisador do CAB.
O oxigénio puro é tóxico para os humanos. Ele em que estar misturado com outros elementos. E é aí que entra o nitrogénio, que representa cerca de 3% do ar marciano, como explica González-Fairén. “Os primeiros voos espaciais tripulados da NASA tinham atmosferas de oxigénio puro”, explica ele. “Os problemas de inflamabilidade dessas atmosferas, bem como os problemas de saúde dos astronautas, decorrentes da formação de bolhas de gás no sangue, fizeram com que se começasse a mudar. No Skylab já havia 75% de oxigénio e 25% de nitrogénio. A estação espacial russa MIR, a espaço-nave Soyuz e os ónibus da NASA já tinham atmosferas terrestres padrão, e é assim é hoje na Estação Espacial Internacional: lá eles usam água que se decompõe em O₂ e H por meio de hidrólise, e esse oxigénio é liberado na cabine, onde se mistura com o restante dos gases para criar uma atmosfera semelhante à da Terra, com 78% de nitrogénio e 21% de oxigénio “, destaca.
O Perseverance continuará a testar a produção de oxigénio em diferentes condições meteorológicas e em diferentes níveis de pureza. O rover também é equipado com um radar capaz de detectar gelo no subsolo.