De acordo com um estudo publicado no dia 2 de Setembro na revista Science, os ancestrais dos humanos em África estiveram à beira da extinção há cerca de 900,000 anos.
O número de indivíduos aptos para reprodução reduziu-se então a apenas 1.280 e permaneceu estagnado durante cerca de 117.000 anos.
Este período antecede a emergência do Homo Sapiens, sugerindo um estrangulamento populacional significativo muito antes de a nossa espécie vir a existir.
Segundo o geneticista Haipeng Li, investigador da Academia de Ciências da China e co-autor do estudo, cerca de 98,7% dos ancestrais humanos desapareceram durante este período. Li sugere que este estrangulamento pode justificar a escassez de registos fósseis entre 950.000 e 650.000 anos atrás em África e na Eurásia.
Nick Ashton, arqueólogo no Museu Britânico, ficou surpreendido com o longo período durante o qual esta pequena população conseguiu sobreviver, considerando que para tal terá sido necessário um ambiente estável, com recursos suficientes.
Avanços na sequenciação do genoma nos últimos anos permitiram uma melhor compreensão do tamanho das populações na história recente da Humanidade, mas pouco se sabia sobre ancestrais humanos mais antigos.
Ao construir uma árvore genealógica complexa a partir do ADN humano moderno, os autores do estudo conseguiram identificar eventos evolutivos significativos na nossa história precoce, explica a Science, citada pelo site zap.aeiou.pt.
Este método lança luz sobre um período de 800.000 a um milhão de anos atrás, correspondendo à transição do Pleistoceno Inferior-Médio – um período de mudanças climáticas drásticas e longos períodos de seca em África.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1137 de 13 de Setembro de 2023.