Carme Artigas, que foi secretária de Estado da Digitalização e da inteligência artificial (IA) em Espanha, foi uma das oradoras do 33.º Congresso da APDC, que decorreu em Lisboa.
Em Outubro do ano passado, o secretário-geral das Nações Unidas lançou um órgão consultivo multissectorial de alto nível sobre IA, que junta representantes do Norte Global, Sul Global, academia, sector privado e decisores políticos, para ajudá-lo nas questões da IA e o futuro da sua governação global.
"Ao todo são 39 pessoas que representam 32 países, cada um a trabalhar na sua capacidade pessoal", refere Carme Artigas.
O primeiro relatório intercalar foi publicado em Dezembro, no qual é justificada a necessidade de uma governação global [da IA], porque "os esforços existentes, quer para os países nacionais, quer para o setor privado ou outras organizações", como a Unesco, G7, OCDE, entre outras, "não são suficientes", defende a responsável.
O relatório foi feito depois de terem sido tidas "mais de 50 reuniões em todo o mundo com diferentes 'stakeholders' [partes interessadas]", relata.
Carme Artigas refere que as pessoas questionam porque é que se precisa de governar a IA globalmente e este "é um pouco a discussão que está em andamento agora". "Queremos manter-nos independentes, queremos apenas que o nosso trabalho seja feito com base em evidências, com base em diferentes visões e até final de Junho, meados de Julho, emitiremos o relatório final".
"Tivemos três reuniões presenciais durante todo este tempo, uma em Nova Iorque em Dezembro, a outra em Genebra há dois meses e a próxima em Singapura no final de Maio", adianta, e a partir desta última "emitiremos o relatório final".
Este documento recomendará cinco tipos de formulários que precisam ser envolvidos para permitir a governação global de IA, porque "achamos que não há 'accountability'".
Carme Artigas diz que o órgão consultivo considera que há necessidade de uma plataforma para discutir sobre o risco da IA, a interoperabilidade técnica e convergência de quadros jurídicos.
"E aí propomos um pequeno escritório de coordenação, acho que não tem espaço para uma agência [...], o que precisamos é de uma coordenação" sobre o papel das agências da ONU para o sector privado, para a academia, acrescenta.
Segundo a responsável, o que está a ser proposto "é muito viável". No entanto, "acho que o que não é tão fácil agora é convencer todo mundo que esse é o caminho certo a seguir", diz.
As propostas serão entregues ao secretário-geral e depois isso será levado à Assembleia Geral das Nações Unidas.
"No final das contas estamos a colocar a conversa na agenda", sublinha.
Carme Artigas sublinha que uma das medidas importantes que gostaria de recomendar "é um fundo global de capacitação ['global fund for capacity building']" apoiado para IA.
Isto porque "existe um grande fosso entre o Norte Global e o Sul Global" e não se pode gerar mais divisões, mas mais inclusão.