Fogo e Brava em Destaque: As mudanças na ilha do Vulção e o futuro da ilha das flores

PorJorge Montezinho,22 mar 2014 0:00

Na estrada com o Ministro do Ambiente não é uma metáfora. Foram mesmo três dias pela ilha do Fogo, por subidas íngremes e descidas inclinadas, por estradas com asfalto, com empedrado ou em simples terra batida. Horas e horas de curvas, contracurvas e ainda mais curvas a seguir. O objectivo, como disse Antero Veiga, conhecer melhor o país profundo e ficar a saber que soluções podem ser encontradas para os constrangimentos que ainda se sentem.

Habitação social, ambiente, planeamento urbanístico, estes foram alguns dos temas na agenda do Ministro do Ambiente para a visita que decorreu entre a passada quarta-feira e o passado domingo na ilha do Fogo. Foi um mergulho na realidade dos atrasos no projecto Casa para Todos, mas foram dias também para reuniões relâmpago, inaugurações e visitas a obras feitas pelos três municípios da ilha do vulcão: São Filipe, Mosteiros e Santa Catarina.

Logo no primeiro dia, em São Filipe, houve o lançamento do projecto “Uma árvore para cada Habitante”, uma visita ao programa “Município Limpo, Verde e Colorido”, outra visita às obras do largo Pedonal para Comércio Informal, viu-se a proposta de programa de protecção a orla marítima a partir do Presídio e ficou a conhecer-se o espaço do futuro aterro sanitário intermunicipal, aliás, intermunicipal é uma das palavras-chave para a ilha do Fogo e já se perceberá porquê.

Na quinta-feira, em Mosteiros, depois de uma paragem no Centro de Idosos local [76 inscritos, mas as dificuldades nos transportes fazem com que diariamente apareçam entre 30 a 40], segue-se para Queimada Trás, onde estão a ser construídas as habitações do Projecto Casa para Todos e onde se tem contacto com os primeiros atrasos, uma demora de 13 meses, neste caso. A entrega está prevista para daqui a mais três meses. As razões do atraso, como explicou o arquitecto Vladimir Medina, têm a ver com problemas específicos da ilha do Fogo: dificuldades no transporte de material e falta de mão-de-obra, que dá prioridade à colheita de café, onde ganha mais do que na construção civil.

Em Queimada Trás, a área construída foi conquistada às rochas formadas pela lava solidificada de erupções anteriores, que se vêem ainda a rodear o empreendimento. É uma unidade composta por dois blocos distintos. Um constituído por unidades classe A [famílias com rendimentos entre 0 e 40.000 escudos] e B [famílias com rendimentos superiores a 40.000 escudos e até 100.000 escudos] e outro de classe C [famílias com rendimentos superiores a 100.000 escudos e até 180.000 escudos]. É um total de 52 fogos – 28 classe A, 12 classe B e outros 12 classe C, mais espaços sociais como uma praça central, uma placa para basquetebol e um jardim infantil. Mesmo ao lado está quase concluída a obra do novo liceu, que deve abrir já no próximo ano lectivo.

O Ministro do Ambiente chama a atenção para os acessos, “não faz muito sentido ter esta obra com acessos em terra batida”, diz. Haverá outros momentos em que serão feitos reparos a estes pormenores. “Muitas vezes, em vez de se deixarem as máquinas paradas, podem-se pôr a trabalhar”, continua Antero Veiga. Outra preocupação é acelerar a entrega das casas, “tanto mais que em termos de manutenção se as casas estiverem paradas é um problema”, explica o arquitecto.

Mas prazos, para já, é algo com que o ministro não se quer comprometer. “Sou optimista por natureza, mas realista. Já aprendi também que estar a fixar datas, em casos semelhantes, talvez não seja muito prudente. Mas, estou em crer que muito brevemente estaremos em condições para entregar as casas. Nem faz sentido ter casas prontas fechadas. Ninguém ganha com isso e as famílias têm urgência em habitar essas novas casas”, afirma Antero Veiga aos jornalistas. Ainda havia mais obras atrasadas para visitar.


Água Brava

Como escrevemos antes, intermunicipalidade é uma palavra-chave no Fogo. Um dos exemplos desse conceito é a empresa Água Brava, a funcionar há cerca de dez anos e considerada um modelo para a gestão da água em Cabo Verde, tanto que vai ser repetido nas ilhas com mais de um município, com outras empresas intermunicipais, e como empresa municipal nas ilhas onde há apenas um município.

A Água Brava pertence a quatro municípios, os três do Fogo mais o da Brava, e tem um custo operacional anual de 170 mil contos. Destes, metade é apenas para energia – custos para a elevação e distribuição de água. A cobertura, no geral, é de 76 por cento – Brava 98 por cento, São Filipe 73%, Mosteiros 71% e Santa Catarina 58%. Neste momento há projectos em curso, financiados pela cooperação luxemburguesa, nomeadamente de reabilitação de redes nos centros urbanos, de extensão de rede para algumas zonas ainda não cobertas e um projecto de energias renováveis que vai possibilitar à empresa uma autonomia de 35 por cento em termos energéticos, o que permitirá diminuir o custo da tarifa.

Neste momento ainda há alguns problemas por resolver, como perdas na ordem de 30 por cento. Dentro de dois anos, quando os projectos estiverem concluídos prevê-se reduzir as perdas para o intervalo entre os 10 a 15 por cento.

Em São Filipe o cenário para o Casa para Todos é mais desanimador. Na zona de Xaguate há só o esqueleto das 60 habitações previstas. Uma grua silenciosa domina o espaço, mas os cabos de aço só se movem por causa do vento. A obra parou em Agosto do ano passado porque a empresa cabo-verdiana concessionária não tem dinheiro para continuar os trabalhos.

“Temos obras a ritmos diferentes”, explica o ministro Antero Veiga, “que têm a ver com a capacidade de execução de cada consórcio. É um programa chave na mão e quando surgem imprevistos há um período negocial que pode ser rápido ou lento. Estamos ao corrente de algumas situações que estão por trás deste atraso e têm de ser debatidos com urgência. Isto tem de ser resolvido nos próximos dias”.

Em Fonte Aleixo, também São Filipe, a imagem é mais animadora, pelo menos há homens a trabalhar e as fachadas das casas já estão pintadas de branco, mas a obra devia ter sido entregue em Julho de 2013. Atrasos no arranque, devido a construções clandestinas no terreno, levaram a uma prorrogação de cinco meses, que também já foi ultrapassada. “Temos de ver como vamos acelerar o ritmo”, diz o ministro Antero Veiga, “pôr os constrangimentos em cima da mesa e ver as soluções, com espírito de colaboração e flexibilidade. O governo mantém-se firme no princípio de chave na mão, mas respeitando esse principio há também abertura para entender a situação e procurar soluções. No caso destas duas obras [Xaguate e Fonte Aleixo] vamos sentar-nos e tomar as decisões que se impõem imediatamente”.

Entre os trabalhadores há um, neste caso uma, que chama a atenção, não só por ser a única mulher na obra mas também porque é ela quem controla os materiais que entram e saem e “os rapazes”, como explica. Vanda Leila, 28 anos, é a apontadora da obra, papel que desempenha há ano e meio, depois de tirar um curso profissional de gestão e acompanhamento de obra na UNI-CV. Como Março é também o mês da mulher quisemos saber como se comportam os “rapazes” perante uma chefia feminina. “Eles respeitam. Não há problemas”, diz Leila.

Em Santa Catarina, as obras do Casa para Todos estão mais avançadas. Em Cova Figueira – onde foram construídas 20 habitações classe A e 20 classe B, só falta chegar o posto de transformação, que ainda está na Praia. Mais uma semana, prevê o representante do consórcio que toma conta dos trabalhos.

Ministro Antero Veiga:

- Como nós somos generosos e temos paciência (risos) damos até 31 de Março. Têm duas semanas.

Representante do consórcio:

- É só chegar o transformador para fazer a ligação.

Ministro Antero Veiga:

- Precisamos de acelerar. E olhar para a envolvência. Precisamos de obras de requalificação para beneficiar todo esse povoado. Olhamos à volta, vemos essas casas modernas, bonitas, e ao lado há essas casas cinzentas. Ficamos com vontade de contribuir para toda a envolvente, não com os recursos do Casa para Todos, mas da câmara. Se a câmara não tem, podemos ajudar a mobilizar esses recursos. (chama o presidente da câmara de Santa Catarina) Imagina todo esse povoado devidamente arborizado? Num ano quero ver tudo verde.

Em Figueira Pavão há mais um bairro. 20 casas já prontas, que deverão começar a ser entregues em breve. Mas estes dias na estrada serviram também para inaugurar o Porto de Vale de Cavaleiros, a Sede do Parque Natural do Fogo, e também para passar por locais escondidos dentro da ilha como Estância Roque, Mãe Joana, Queimada Guincho ou Ribeira do Ilhéu.

“Um encontro à realidade do país profundo”, como afirmou Antero Veiga no fim do último dia, “um encontro à realidade do dia-a-dia dos municípios, para entender melhor os desejos legítimos que as pessoas têm. Sinto-me bastante reconfortado porque agora posso dizer que conheço melhor a ilha do Fogo e por conseguinte vou regressar com melhores condições para tomar as decisões que teremos de tomar para facilitar a vida às pessoas”.


Inaugurada sede do Parque Natural do Fogo: Chã das Caldeiras pede também luz e água

A ilha do Fogo é conhecida como a ilha do vulcão. E percebe-se porquê, aquele pico, que se eleva a quase três quilómetros (2.829 metros), vê-se praticamente de todos os cantos da ilha. Agora, o Parque Natural ganhou a sua “jóia da coroa”, como foi apelidada a nova sede, um marco arquitectónico, inclusive premiado, à entrada de Chã das Caldeiras. A localidade ficou também a conhecer o plano urbanístico, que começa agora a ser discutido publicamente. Tudo boas notícias, certo? Errado. A população diz que falta o resto: falta luz, falta água, falta trabalho.

Chã das Caldeiras tem 697 habitantes e há muitos que não conhecem o Primeiro-Ministro de Cabo Verde, ou o presidente da Câmara da Praia. A razão? Não conseguem ver televisão. “Primeiro queremos luz. Depois perguntem o que precisamos”, diz-me um dos jovens da localidade. “Não temos trabalho, não temos luz, não temos nada”, diz-me outro. “Graças a Deus há a cooperativa de vinho, o turismo e a agricultura, senão…”, refere um outro ainda. As pessoas vão saindo da apresentação do plano urbanístico, começam a juntar-se e querem falar. “Estamos nervosos, mas não é com os professores [Miguel Amado e Francesca Poggi, da Universidade Nova de Lisboa, autores do projecto] é com o presidente da câmara. Já lá está há dois anos e não há cá trabalho nenhum. Ele que venha falar com a população, que venha ouvir o que estamos a sentir”.

“Os jovens estão zangados”, explica depois Cecílio Montrond, os olhos claros a fitarem-me. “Nenhum jovem consegue ver um telejornal, é uma coisa incrível. Nem futebol podemos ver”. Cecílio tem 38 anos, 21 irmãos e ganha a vida a trabalhar na agricultura e com a exploração de um pequeno negócio turístico – tem seis quartos para alugar na sua própria casa. “O turista fica connosco e se vamos para o campo muitas vezes pedem para vir trabalhar connosco”. É um turismo rural, sem oferta de massa, os turistas vivem exactamente como as pessoas de Chã, comem o mesmo, enfrentam as mesmas dificuldades.

“Eu tenho um gerador”, explica Cecílio, “e muitas vezes eles é que dizem para desligar e para lhes darmos uma vela, porque vêem o que gastamos em combustível. Eles ficam com pena e eu também, porque não lhes posso proporcionar mais conforto”. Mesmo assim, os turistas vão chegando, a promoção é feita pelos próprios pequenos operadores, com “carinho e um sorriso”. Há a noção que é muito fácil perder o turista, as mensagens boca a boca chegam mais longe do que a Internet, diz Cecílio.

“Eles vêm da Europa e conhecem tudo o que é hotéis de cinco estrelas. Mas vêm cá para conhecer a nossa cultura, viver connosco, é por isso que devemos respeitar o turista. Não precisamos de turismo de massa, precisamos do turista que fica connosco e que vive connosco. Não queremos hotéis, queremos turismo de alojamento familiar. O turismo hoteleiro traz muita ilusão”, diz-me Cecílio enquanto começa a andar para a inauguração da Sede do Parque Natural do Fogo.

A nova sede do Parque Natural do Fogo é, de facto, uma obra arquitectónica imponente. Não tanto pelo tamanho mas pela perfeita harmonia com o ambiente que o circunda. É uma construção amiga do ambiente, com recurso às jorras e pedras vulcânicas de Chã das Caldeiras e com energia fornecida por painéis solares.

É um projecto orçado em 116 mil contos, financiado em 95 por cento pela Cooperação Alemã através do Banco KFW, que dotou o edifício de um laboratório, biblioteca, um anfiteatro fechado e outro ao ar livre, um café e também salas para escritórios para funcionários do parque. Tudo num espaço total de cinco mil metros quadrados.

Foi projectado pelo arquitecto Ricardo Barbosa Vicente e venceu o Prémio Nacional de Arquitectura 2013. A construção começou em Fevereiro de 2012, ficou concluída em Outubro de 2013 e está a funcionar desde Janeiro deste ano, altura em que se procedeu à transferência dos serviços administrativos da cidade de São Filipe para Chã das Caldeiras. É um edifício que pretende potenciar um dos maiores patrimónios naturais de Cabo Verde e traz com ele a candidatura do pico do Fogo a património mundial.

“É um dia muito especial”, afirmou o Ministro do Ambiente, Antero Veiga, “uma maravilha como o vulcão não podia ter outra coisa senão um edifício desta natureza, ele próprio uma maravilha. Preservar o ambiente é um acto de cultura. Temos muitos valores que devemos preservar e um deles é o altruísmo, porque o que fazemos hoje é sobretudo para termos a certeza que as futuras gerações também terão um ambiente melhor”.


Plano urbanístico de Chã das Caldeiras

Foi um trabalho gratuito da Universidade Nova de Lisboa, em cooperação com os técnicos da Câmara de Santa Catarina e coordenado pelos docentes Miguel Amado e Francesca Poggi.

As principais preocupações foram a preservação ambiental e a participação de todos os habitantes de Chã das Caldeiras. Por isso mesmo houve inquéritos porta a porta para que todos participassem no processo de planeamento. “A partir do fim deste plano, vocês serão os fiscais de vocês próprios. Porquê? Porque se aqueles que quiserem construir o fizerem dentro do plano, óptimo. Os que andarem a construir fora do plano estão a prejudicar os que estão a cumprir. Portanto, vamos ter que trabalhar em sociedade, ajudar-nos uns aos outros”, disse Miguel Amado, do departamento de Engenharia Civil da Universidade Nova de Lisboa e autor de várias pesquisas sobre arquitectura sustentável, energias renováveis, planeamento urbano e sistemas de informação geográfica.

O levantamento das ruas, casa a casa, levou à identificação de um padrão que permite criar um algoritmo para gerir os lotes. “Podem saber exactamente quantos metros quadrados estão a usar do solo de Chã das Caldeiras, tanto o coberto como o descoberto”. A partir daí, e com base no trabalho de Francesca Poggi, foi desenvolvido um algoritmo que mostra a dimensão ideal das parcelas no futuro. Ou seja, o modelo de cadastro permite saber quem ocupa o quê e permite adequar as construções pensando a longo prazo e em eventuais aumentos das habitações.

Foi também conseguido o retrato das necessidades sentidas pela população. Sem surpresa, 83 por cento disse que precisam de energia eléctrica. A água veio logo a seguir. Além disso, este modelo resulta em 26 novas parcelas para habitação, 17 parcelas novas para habitação e agricultura, seis novas para habitação e comércio e 153 para agricultura.

“Vamos gerar uma economia de apoio. Temos de gerir o território. As praças públicas, o centro de artesanato. Propomos uma área para equipamento social (centros de idosos, etc.), para o centro de formação profissional, o novo campo da bola, soluções para aproveitar as águas pluviais, a ETAR, a cisterna comunitária, o painel fotovoltaico e o heliporto. Isto não é para fazer amanhã. É para ir fazendo”.


Parque Natural do Fogo

Superfície: 8.468,5 hectares

O Parque Natural do Fogo encontra-se situado na zona central da ilha do Fogo e abrange o Vulcão, a Cratera, a Bordeira, e o Perímetro Florestal de Monte Velha. O seu limite Norte fica situado a uma altitude que vai aproximadamente dos 1.000 a 1.400 metros, com pontos de referência naturais localizados entre Cutelo Cinza e Ribeira Pelado até as nascentes da zona de Orela. O limite Sul situa-se entre a Orela e Bordeira a uma altitude de aproximadamente 1.800 metros, segundo o limite Este que passa abaixo da estrada principal de acesso a Chã das Caldeiras, passando pela Ribeira de Fernão Gomes até Cabeça Turi, a 1.104 metros de altura.

Situa-se na confluência de três Municípios: S. Filipe (1.861 ha: 22% do Parque), Santa Catarina (4.237 ha: 50% do Parque) e Mosteiros (2.370 ha: 28% do Parque). Chã das Caldeiras, que é onde existe o único assentamento humano no interior do Parque, pertence ao Município da Santa Catarina.

Um aspecto importante, e que se reveste de uma particularidade única, tem a ver com o facto de o Parque Natural do Fogo ser o maior de todas as 47 áreas protegidas que constam da Rede Nacional de Áreas Protegidas de Cabo Verde.

O Parque Natural do Fogo representa a amostra mais representativa dos ecossistemas húmidos de montanha da ilha do Fogo e um dos mais importantes ecossistemas de fruticultura de sequeiro de Cabo Verde.

O vulcão da ilha do Fogo tem 2.829 metros, com uma caldeira de 8 km de diâmetro em Chã das Caldeiras no lado ocidental. As paredes atingem 1000 metros, com uma cratera de 500 metros de diâmetro, e uma profundidade de 180 metros. No Pico do Fogo não se regista actividade eruptiva desde o século XVIII, persistindo apenas actividade fumarólica na sua cratera.
No Parque, encontram-se diferentes tipos de habitats devido à diversidade de altitude e de microclima. O clima existente no Parque é, em termos gerais, semelhante ao clima característico da Ilha, isto é, subtropical seco, caracterizando-se por uma curta estação de chuvas de Julho a Outubro, determinado principalmente pelos factores altitude, relevo e exposição, e uma estação seca nos restantes meses do ano.

Uma primeira constatação sobre a paisagem do Parque Natural do Fogo é que ela constitui uma unidade de interesse para diversas áreas, nomeadamente a vulcanologia, a geologia, a ecologia, a botânica e a sociologia. A personalidade do Parque Natural fica definida pelos elementos que conformam a sua paisagem, tais como o vulcão, a caldeira e a Bordeira com as suas ribeiras profundas e a vegetação arbustiva única, a agricultura tradicional numa paisagem lunar e os povoados de Chã das Caldeiras. Apesar de alguns destes elementos não serem exclusivos do Parque, aqui eles combinam-se de tal forma que configuram uma realidade paisagística única.

No interior do Parque, podem-se ainda encontrar pequenas mas importantes amostras de vegetação, testemunhando aquilo que foi o habitat natural antes da colonização da ilha do Fogo pelo homem. Uma destas amostras é uma área arbustiva com predominância de Euphorbia tuckeyana que se situa dentro de Monte Velha, caracterizada pela presença dominante de tortolho (Euphorbia tukeyana), ocupando uma pequena área do Montinho próxima da estrada, entre Monte Velha e Piorno, e tem o melhor nível de conservação entre as que representam hoje o ambiente natural originário.

Os dados disponíveis sobre a fauna do parque Natural do Fogo são extremamente limitados. No Parque existem 79 invertebrados, Entre outros, são Classe Gastropoda, Arachnida, Malacostraca, Chilopoda, Diplopoda e Insecta. Existem 10 espécies de aves, e confirmou-se a presença da espécie Acrocephalus brevipennis (Tchota-de-cana) Esta espécie de grande importância para a conservação, é considerada em perigo de extinção. Quanto aos répteis, estão representados pelas famílias Gekkonidae (Osgas) e Scincidae (Lagartixas). São indicadas para a ilha do Fogo 12 espécies e subespécies pertencentes a estas duas famílias.

 

Fonte: Pardela – Rede Hispano Lusófona para a Gestão de Áreas Naturais Protegidas

 

São Filipe: Porto renovado é porta aberta para o mundo

Luís Pires, presidente da câmara de São Filipe era por estes dias um homem feliz. Acabara de inaugurar o renovado porto de Vale dos Cavaleiros e afirmava que sabia bem para onde é que o município quer ir. A direcção certa, diz o autarca, é aquela que vai permitir o aumento da dinâmica económica da ilha e a nova infra-estrutura é a melhor bússola para indicar o rumo a seguir.

Um momento que ficará para sempre na história da ilha do Fogo e do processo de desenvolvimento de Cabo Verde, foi assim que Luís Pires descreveu a inauguração do renovado porto de Vale dos Cavaleiros. “Num país insular como o nosso, os portos assumem uma importância fundamental. Portas de entrada e de saída, pontes de ligação das ilhas, elos que nos ligam à aldeia global. A nossa posição geoestratégica constitui um grande factor de competitividade que deve ser explorado. Daqui, desta ponta de praia, depositamos grande esperança na imensidão do mar que nos rodeia”.

A segunda fase de expansão e modernização do porto de Vale de Cavaleiros resulta da identificação dos estrangulamentos no sector produtivo, distributivo, de desenvolvimento do turismo agricultura e pescas na ilha do Fogo. As obras de modernização custaram dois milhões 950 mil contos, assegurados por uma linha de crédito do governo português. O porto terá capacidade de sustentar o crescimento do tráfico portuário até 2030, para isso, construiu-se um cais de 110 metros, aumentou-se o calado, instalou-se uma rampa rol-on/rol-off, reordenou-se a zona portuária, criou-se a infra-estrutura primária para construção do sistema de combate a incêndios, construiu-se um parque de contentores de 2,5 hectares e um cais de pesca.

Como disse o autarca de São Filipe ao Expresso das Ilhas, para o concelho, e para o Fogo, esta infra-estrutura é muito mais do que um ponto de chegada e partida de navios. “É muito mais do que isso, porque abre caminhos para um futuro mais ambicioso e a possibilidade de definitivamente fazermos a inserção dinâmica do Fogo no tecido económico nacional com as grandes potencialidades que temos. Porque temos as maiores marcas de Cabo Verde e estas marcas vão ter uma grande projecção a partir deste porto de São Filipe”. O objectivo, segundo o autarca é ter um município e uma ilha industrial, turística e cultural.

“Temos consciência das nossas potencialidades e das potencialidades que vamos estabelecendo. Sabemos bem o que temos e sabemos melhor o que queremos. Temos grandes potencialidades agro industriais, turísticas e culturais. Algumas ainda adormecidas, mas o vulcão já não precisa de acordar para dizer ao mundo que o Fogo existe. Temos reconhecidamente as melhores marcas de Cabo Verde – para além do vulcão, temos o vinho, o café, o queijo, os sobrados e as festas de homenagem a santos. Queremos mais barcos, queremos mais aviões e porque não, quando o tempo o disser, um aeroporto com capacidade para voos internacionais”.

O presidente da Câmara de São Filipe tem também pedido mais investimentos para a protecção civil, principalmente a formação de um corpo de bombeiros. Neste momento, o processo continua em andamento. “Temos tido fogos e focos de incêndio um pouco anormais, o que nos leva a ficar mais preocupados. De qualquer forma, estamos a trabalhar na direcção certa, desenvolvemos contactos através do Centro Nacional de Protecção Civil, com a ajuda da cooperação japonesa vamos ter um carro de bombeiros, com a ajuda dos nossos amigos emigrantes nos Estados Unidos vamos ter uma ambulância e estamos a perspectivar um centro de protecção civil não só para São Filipe mas conjuntamente com os outros dois municípios para a ilha e pensamos estar na direcção certa. Quando chegámos, não encontrámos um corpo de bombeiros, nem equipamento e estamos a trabalhar no sentido de, no horizonte temporal possível, conseguirmos por de pé uma equipa capaz de actuar em casos de emergência”.

E o autarca estava tão contente que até desvalorizou o constrangimento que a falta de orçamento municipal, constantemente chumbado pela oposição, provoca ao funcionamento do concelho. “Não temos neste momento grandes problemas com o orçamento. As pessoas que não viabilizaram o orçamento hão-de entender-se com o povo de São Filipe, não connosco”.

 

Mosteiros: O café como alavanca da economia e do turismo

Mosteiros está ali entre a montanha e o mar, o verde e o azul que contrastam com os sombrios arrabaldes de casas construídas com pedras de lava. A zona alta do concelho, região agrícola por excelência, foi desencravada por uma estrada municipal e consegue agora escoar mais facilmente a produção. O café é o produto de excelência e vai ter direito à reverência que Fernandinho Teixeira, presidente da câmara, considera ser justa.

Nos próximos dias 18, 19 e 20 de Abril Mosteiros vai receber a primeira edição do Festival do Café, onde vão participar todas as câmaras da ilha com o objectivo de dinamizar todo o Fogo, mas também os operadores económicos – comerciantes, hoteleiros, agências de viagens e proprietários.

Em paralelo vai ser iniciado o processo para o lançamento do Museu do Café, um espaço de chamariz turístico. “Não podemos falar de quantidade, mas podemos falar de qualidade”, diz o presidente da câmara de Mosteiros, “temos o melhor café do mundo e é isso que temos de trabalhar para que tenha um valor acrescentado”. Será um museu interactivo, com espaço para o espólio e onde os visitantes poderão experimentar cafés de várias proveniências – Fogo, Timor, Brasil e Angola. “As pessoas vão poder fazer a sua avaliação”, continua Fernandinho Teixeira. Depois, à saída do museu, haverá um autocarro para uma digressão pelas zonas altas do município, para mostrar os cafezais “totalmente biológicos”.

“As ajudas externas estão a escassear cada vez mais e temos de ter a capacidade interna de resolver os nossos problemas aproveitando as capacidades endógenas de cada município. Mosteiros é um município essencialmente agrícola e como tal teremos de fomentar este sector – fruticultura, horticultura (que está a nascer) e pensamos, com a ajuda do Ministério do Desenvolvimento Rural, aumentar as áreas irrigadas por forma a desenvolver o sector. O agronegócio é para nós fundamental. Ainda bem que em São Filipe já temos um centro pós-colheita para certificação de produtos”.

Este centro ainda não entrou em funcionamento, mas o autarca de Mosteiros acredita que isso acontecerá em breve. “Para termos a certeza que os produtos do Fogo, quer o café, quer o vinho, serão certificados e vendidos principalmente nos hotéis de Cabo Verde. Estamos a falar de produtos biológicos. Em mosteiros, por exemplo, temos frutas de alta qualidade, maçã, citrinos, que se desenvolvem nas encostas, sem fertilizantes. Penso que são essas particularidades que temos de desenvolver”.

Fernandinho Teixeira realça também a mudança infra-estrutural que está a acontecer no seu município: a realização do projecto Casa para Todos e a conclusão da nova escola secundária. “Por um lado, vem valorizar o município em termos da redução do défice habitacional e por outro, vai embelezar, e de que maneira, a paisagem urbanística da zona de Queimada Trás. Inicialmente, o projecto era para a construção de 125 moradias, neste momento estamos na fase final de 52 unidades”.

O que o autarca ainda não sabe é se as outras casas projectadas também vão ser construídas. “A câmara está disponível para ceder os terrenos necessários à construção, portanto, vai depender da política do governo para o sector da habitação. Farão falta, seguramente, porque há muita procura”.

Mas projectos não faltam no município, principalmente para continuar a melhorar a paisagem urbanística. “Nos próximos dias vamos aprovar pelo menos três planos urbanísticos detalhados – Relvas, Achada Grande e Corvo – e há mais um plano que está quase no fim, o de Ribeira do Ilhéu. Estou certo que com este plano vai-se permitir que as pessoas construam em espaço próprio e criar beleza em termos de paisagem urbanística”.

Outros projectos passam pela estrada de acesso à Baia de Corvo, zona que pretende ser um espaço turístico, mas também para pesca e escoamento de produtos. “Se houver intervenção por parte do governo na construção de um pequeno porto estou convencido que vai dinamizar o sector agrícola, mas também o sector do comércio e seguramente vai melhorar a economia local. Essas infra-estruturas são fundamentais para o desenvolvimento do concelho”.

Fernandinho Teixeira deixa uma certeza nos momentos finais da conversa com o Expresso das Ilhas, o Fogo, diz, deu um salto positivo no sector dos transportes, da agricultura e das infra-estruturas. “Isto será uma revolução em termos de desenvolvimento”, afirma o autarca de Mosteiros.

 

 

Santa Catarina do Fogo: Os desafios do concelho mais pobre de Cabo Verde

Santa Catarina do Fogo é uma autarquia recente, criada em 2005, e é também o município mais pobre do arquipélago. O presidente da Câmara Aqueleu Barbosa Amado diz que é muito difícil gerir um concelho com estas características, mas afirma acreditar que há potencialidades locais que podem ser bem aproveitadas para inverter a situação.

O autarca de Santa Catarina tem três grandes projectos: construir os Paços do Concelho, conseguir um estádio municipal e um pavilhão desportivo para a localidade de Cova Figueira. Parecem objectivos modestos, até nos lembrarmos que estamos no concelho mais pobre de Cabo Verde e um dos cinco que não tiveram direito a qualquer verba de instalação, juntamente com São Lourenço dos Órgãos, São Salvador do Mundo, Ribeira Grande de Santiago e Tarrafal de São Nicolau.

“Santa Catarina está na vanguarda da pobreza, mas podemos mudar isso, porque temos recursos e um deles é o recurso humano”, explica Aqueleu Amado ao Expresso das Ilhas. “Ser presidente do concelho mais pobre do país é difícil. Quando chegámos [em 2005] não havia nada. Só tínhamos cisternas que recolhiam água da chuva. E a cobertura da energia eléctrica era inferior a 2 por cento. Hoje estamos na vanguarda em relação a muitos municípios, a electricidade chega a 98 por cento do concelho, falta Chã das Caldeiras. Para nos sentirmos satisfeitos, teríamos de ter cobertura a cem por cento, espero que até ao fim do mandato possa fazer alguma coisa. Não quero prometer nada, mas quero desafiar para ver se é possível”.

A graduação de Cabo Verde a País de Rendimento Médio e a consequente diminuição da ajuda externa ao desenvolvimento foi um golpe duro para o município, “a anterior governação criou um hábito que agora não conseguimos satisfazer”, a solução é procurar alternativas. Uma delas é o protocolo entre todas as câmaras do Fogo. “A nossa linguagem é una. Para quê? Para tentar convencer a nossa população, a nossa juventude, particularmente aqueles que já têm formação académica, para se integrarem”. A outra, passa por uma aposta forte no turismo.

“Temos de trabalhar, e estamos a trabalhar, para que a visita a Chã das Caldeiras seja paga. Os turistas devem deixar algo para os serviços e para a economia do local”. As contas, segundo o presidente da câmara de Santa Catarina são fáceis de fazer. Diariamente passam pelo Parque Natural do Fogo 150 turistas, “se cobrarmos a cada um cinco euros, veja quanto não se conseguiria. E esse fundo seria para beneficiar, em primeiro lugar, Chã das Caldeiras, porque temos de oferecer melhores condições aos turistas. Temos também de lhes dar contrapartidas, não é só cobrar”.

“São os próprios turistas a dizer que a visita devia ser paga. A ideia não é só nossa, é deles. Todas as ilhas, principalmente as montanhosas, se trabalharem para receber as pessoas, e não só os estrangeiros, certamente que conseguirão uma grande ajuda para os orçamentos de execução anual, para melhorarem a condição de vida das pessoas”.

Quem fala em turismo, fala no vulcão, e Aqueleu Amado considera que a nova sede do Parque Natural do Fogo poderá representar uma importante mais valia. “O nosso parque natural tem um dos mais emblemáticos edifícios do país como sua sede administrativa. O parque é um projecto ambicioso que pode vir a potenciar o desenvolvimento do turismo na região. Nós temos um turismo diferente e que bem trabalhado dará muito lucro”.

Para já, o município teve direito a um apoio declarado por parte do Ministro do Ambiente. No encontro com o autarca de Santa Catarina, Antero Veiga reconheceu o esforço inicial de instalação que “não foi mitigado pela intervenção do Orçamento de Estado. Tenho estado preocupado com isso. Claro que estamos em novos tempos e as dificuldades são maiores, mas pode contar com a solidariedade do governo. Há pequenas coisas que podemos fazer juntos, como o desencravamento de uma ou outra localidade e eu vim ver o que podemos fazer para acelerar a instalação efectiva do município. E a partir daqui potenciar o funcionamento do município”.

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Autoria:Jorge Montezinho,22 mar 2014 0:00

Editado porExpresso das Ilhas  em  31 dez 1969 23:00

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