Respondeu-nos sobre as mensagens e reflexões que a Páscoa traz aos cristãos mas também sobre temas actuais, como as reformas que a Igreja Católica poderá vir a encetar nos próximos tempos, as violências do quotidiano e até mesmo sobre o espaço [não] ocupado pelas mulheres na e da Igreja.
A Igreja Católica está em plena celebração da Páscoa. Qual é o lema ou a mensagem que associam á celebração este ano?
Bem, o lema é o do ano pastoral - que começa mais ou menos por altura do ano lectivo, em Outubro, e vai até o verão - e á volta do qual reflectimos e organizamos encontros. O lema deste ano de facto se liga muito bem à Páscoa: “Reconciliados com Cristo”. A Páscoa é a celebração da grande reconciliação de Deus com os homens. Temos que ter presente que o ser humano não se basta a sí próprio. Nem sempre vemos o caminho; cortamos a nossa relação com Deus assim como acontece cortar com os outros. Então a Páscoa é o momento de restabelecer esta comunhão, esta aliança, de reatar este laço de unidade com Deus, que significa a passagem da morte para a vida, das trevas para a luz, do pecado para a graça. Em várias paróquias se realizaram, ao longo do ano, conferências quaresmais e foram buscar justamente este lema. Aqui na diocese também, depois da Páscoa, teremos vários convidados que virão da Itália, de Portugal e também pessoas daqui, de vários sectores, para abordarmos vários temas à volta dessa mensagem. A Páscoa não é só católica, todos os cristãos vivem a Páscoa como um momento central. Algumas pessoas não têm bem essa noção, talvez porque a festa não se reveste daqueles aspectos a que costumam dar mais importância. No Natal temos luz, temos árvore, brilho, e uma série de coisas que dão a ideia de que é o momento mais alto. Mas não é. É preciso que se diga que a celebração do Natal até surgiu depois. A Páscoa é mais antiga.
Na Igreja há uma série de rituais e orações durante os diferentes dias de celebração da Páscoa. E no seio das famílias católicas, como pode ser vivido este momento?
Há uma reflexão muito actual, que era bom que se fizesse, sobre o nosso mundo. Infelizmente, estamos a assistir a muitas manifestações de violência, países que se armam, atrocidades no Médio Oriente, na nossa África, e mesmo aqui no nosso meio. Agressão, violência doméstica, pessoas que não se dão umas com as outras… Portanto, que haja reconciliação. Uma boa acção que podemos fazer nessa altura da Páscoa, é precisamente esta, reflectir que mundo é o nosso, que sociedade é a nossa, onde é que vamos quando damos mais importância à atenção, ao ódio, à inveja, do que à harmonia, à paz. É, de facto, a altura propícia para uma reflexão sobre que sociedade se quer construir, que convivência nós estamos a fazer, e onde é que está o espírito de partilha.
Falou aqui da questão da violência, do estado em que se encontra o mundo. A Igreja tem um papel importante e intervém com alguma orientação e mesmo com orações mas, há algo mais que a Igreja possa fazer ou está a fazer?
Ainda ontem ouvia num dos noticiários sobre aquela situação nos Estados Unidos da América, do jovem que entrou numa escola e disparou sobre os que ali se encontravam. Uma das respostas que se considerou foi a de responder na mesma medida. Isto é, armar os professores… É assim que, infelizmente, muitos pensam. Não digo que não se tem que reagir. Agora, responder á violência com violência não é o caminho, principalmente quando esta violência é desajustada. E isto passa-se um pouco por todo o mundo. O que é que nós aprendemos com Jesus Cristo, no Domingo de Ramos, com a entrada triunfal em Jerusalém? Ele é aclamado como rei, já que os ramos de palma evocam o rito que se fazia quando os reis regressavam das vitórias: o povo saia às ruas a clamar. Mas, vejamos o paradoxo: como é que Ele vem? Ele vem num burrico. Ele não vem com cavalos, não vem com gritos de guerra, Ele não traz carros, não traz exércitos…É a forma como Jesus nos diz como se deve reinar, como se deve vencer: com amor. O amor, a humildade, o serviço. São as três coisas que eu sublinharia. Onde é que isto se encontra hoje, nas sociedades? Será que estas palavras fazem parte do nosso dia-a-dia? Nós [Igreja] temos a obrigação de anunciar aquilo que é central na nossa mensagem, que é uma mensagem de amor e paz. O que a Igreja faz não tem que ser necessariamente visível. Nós sabemos que hoje em dia aquilo que não faz barulho parece que não existe. A Igreja não trabalha de vez em quando, trabalha sempre. E as famílias são instrumentos para a paz à sua volta. Nós, por exemplo, temos um movimento em que são já centenas de casais e todos os meses nos reunimos na casa de um deles e reflectimos sobre algum tema. Portanto, é um tipo de trabalho que não é visível, se entrar numa igreja ou algo assim. Ou seja, uma coisa é o culto, outra é a obra social, a obra caritativa. E temos que ter uma série de cuidados. Às vezes há o perigo de querer mostrar: “olha, estamos a fazer isso”. Há um tipo de trabalho que se faz nas comunidades e que não é só no Natal. O nosso modo de trabalhar é um pouco como a formiga. O que não significa que em alguns momentos chaves não tenhamos que sair mais para fora e fazer um alerta. Basta olhar para o Papa Francisco. Quem é que tem ido várias vezes ter com os nossos irmãos que atravessam o Mediterrâneo? Ele tem saído várias vezes do Vaticano para ir levar um pouco de conforto, tem feito campanhas para ajudar esses irmãos. Ele é uma espécie de bandeira, um símbolo, e está no palco mundial. E nós, no nosso canto, temos que fazer a mesma coisa.
O risco destas grandes violências e horrores à escala global nos fazer indiferentes e até desculpar as pequenas maldades do dia-a-dia é real?
São estas pequeninas que chegam às grandes. Algo que temos que ver é que, infelizmente, estamos a nos habituar à violência. Abrimos a televisão e assistimos ao vivo ao bombardeamento de Ghouta e depois viramos as costas e vamos comer umas sandes. E não perguntamos: “como é que me toquei por isso”? Já nos apercebemos que o que se está a passar com as crianças na Síria poderia estar a se passar aqui, mais perto? Hoje criamos uma grande insensibilidade, de uma forma ou de outra. Convivemos com o mal e com a catástrofe de forma muito descontraída. Não nos admiramos com jovens a entrar por uma escola e a disparar. Parece tudo normal. É normal dar a uma criança de 3, 4 anos uma arma de brinquedo. É necessário reflectirmos sobre isso e perceber até que ponto estamos a perder algo importante da humanidade que é a sensibilidade. Contrariar isso seria pensar “como é que posso minimizar o sofrimento do outro?”. Precisamos estar atentos às pequenas coisas se quisermos ajudar a acabar com os grandes males. Uma coisa preocupante é as pessoas verem ao seu redor coisas que estão mal e não se mexem e nem chamam as autoridades, porque têm medo. É uma sociedade do medo.
Mencionou antes o Papa Francisco. Ele, com a sua postura sempre atenta e sensível, veio trazer uma nova dinâmica à Igreja, também por estar mais presente na imprensa. E tem trazido um grande alento aos católicos e não só. No entanto, por algumas declarações que tem feito, ele tem causado desconforto em alguns sectores mais conservadores da Igreja. Como é que vê isso? É algo que pode, mais à frente, causar alguma fissura mais profunda nas esferas superiores da Igreja?
Como a Igreja é plural, e ainda bem, não se pode contentar a todos. O Papa Francisco é um homem muito autêntico. Penso que é um homem que não tem medo das consequências, não tem receio pela imagem e então tem esta frontalidade. Eu salientava aqui esta virtude que admiro nele que é a frontalidade, e a transparência. Nós não podemos ser hipócritas, não é? Não podemos pensar uma coisa e não dizer. É claro que outra coisa é a forma como se diz, e acho que ele tem tido o bom senso na forma como vai dizendo. O papa é um homem que está do lado dos desvalidos, dos das periferias. O nome que ele escolheu não foi por acaso. O nome [do papa] está sempre ligado a uma missão, ao nome de alguém do passado que se destacou por certas caracteristicas. Por exemplo, o Bento XVI foi buscar o nome a Bento, um grande homem que procurou a paz na Europa, a unidade dos cristãos, e ele foi um papa que esteve muito voltado para a Europa. Francisco está mais voltado para a periferia. Ele não foi ainda a nenhum país da Europa. Passou por Portugal mas, como peregrino, directamente para Fátima e sem discursos para as multidões. Diferente dos outros, ele tem procurado ir a lugares onde há sofrimento. Ele estava muito desejoso de ir a África e na altura foi desaconselhado por causa da epidemia do ébola. Depois, quando já pôde, foi á República Centro Africana, e tem ido á América do Sul. Eu não acredito no desmoronar da unidade da Igreja. Os bispos, na sua maioria, estão com o Papa. Há os que acham que há algum risco, que ele tem feito alguma frente. Ele não mudou de doutrina. Nem mesmo quando fala do casamento e do divórcio. Mas há quem ache que o Papa está a ir contra a doutrina da Igreja então fazem esse cerco…Mas assunto de família deve ser tratado na família. Alguma discordância de ideias que tenha havido, devia ter-se tido mais cautela ao fazer sair para fora essas reflexões. De maneira que o Papa está convicto do seu papel. Aliás, muita gente na Igreja estava a dizer que a Igreja precisava de “ar fresco”, de um “abanão”. Chega agora alguém e “abana” e há esse barulho. Nós não estamos na vida para agradar. Estamos na vida para sermos coerentes. Com aquilo em que nós acreditamos, com os valores que defendemos profundamente. Ele está consciente que há uma série de coisas a fazer e chamou algumas pessoas para o aconselhar. Ele não está a trabalhar na reforma da Igreja sozinho. Há um grupo de pessoas com ele. Centenas de cardeais o escolheram. Porque o escolheram a ele? É preciso ver quem é Jorge Bergoglio.
Com algumas das declarações do Papa a caírem nas boas graças de alguns grupos de fiéis, e até de não praticantes, ele não estará a criar algumas expectativas que depois esbarram na manutenção dos dogmas e práticas da Igreja?
Uma actividade que ele tem em mãos é a reforma da Cúria Romana. Não está ainda feita e ele tem preparado o terreno para isso. Mas a reforma não é só mudar algo “daqui” para “acolá”. A reforma é pastoral. Significa mudar a própria mentalidade, a forma de actuar. Essa é que será a grande reforma. E ele reuniu um grupo de gente, cardeais do mundo todo que ele foi escolher ad hoc - foi buscar um à América, outro á África… - e são o seu “braço direito”. É esse grupo de trabalho que se reúne periodicamente em Roma. Nós estamos à espera que apareça num futuro próximo algum documento, alguma coisa como directrizes concretas para a Igreja. Não será algo que vá mudar os nossos dogmas, as nossas doutrinas; isso é coisa que acontece com concílios. A Igreja tem uma sabedoria muito grande e quando quer mudar algo profundamente só pode através dos concílios. O último que houve foi em 1965. Entretanto, em termos de questões pastorais, que têm a ver com organização, com administração, estamos à espera que venha a aparecer [um documento]. A meu ver, mesmo que o Papa Francisco não fizesse mais nada, aquilo que ele já fez até aqui já mudou muita coisa. Não se pode mais olhar para a Igreja da mesma maneira que se olhava ontem. A área da liturgia, a relação com o mundo, com os políticos, com os pastores…Portanto, só aquilo que ele tem vindo a dizer ao longo destes 5 anos… Não termos isto presente seria estarmos distraídos.
Uma das questões que ele aborda com frequência - e que poderá vir a figurar entre estas novas formas de estar que a Igreja ensaia - tem a ver com as mulheres; com a presença das mulheres no seio da Igreja Católica, tanto as leigas como as que são membros da Igreja enquanto organização. Estamos novamente numa época em que as mulheres estão a lutar activamente pelos seus direitos, pela ocupação dos lugares de fala e contra diferentes formas de opressão e de violência e o papa Francisco parece ser sensível a estas lutas. Sei que o papa Bento XVI chegou a tomar algumas medidas a nível da administração da Igreja e nomeou mulheres para organismos da Cúria Romana. O Papa Francisco terá dado continuidade a estas medidas? E em Cabo Verde, não estarão as mulheres da Igreja um tanto invisibilizadas?
Acho que as mulheres vêem no papa Francisco um aliado. O lugar da mulher na Igreja, a sua valorização, a sua dignidade…Ele tem falado disso. Nestes tais organismos da Igreja, em alguns deles ele tem aumentado a presença de mulheres. E ele tem falado muito sobre o papel da mulher na família. As mulheres têm um papel na família que os homens não têm. Algo que deu muito que falar foi quando ele teve um encontro com responsáveis religiosas, há cerca de um ano ou dois, e surgiu o assunto da ordenação de mulheres. É um assunto que surgirá sempre, nunca se desactualiza. Mas é algo que não depende do Papa. Falou há pouco de direitos… Ser padre não é um direito de ninguém. Uma coisa é ter direito a ser presidente de Câmara. Na igreja as coisas não se colocam nestes termos. A Igreja escolhe aqueles que acha que têm a dignidade para desempenhar cargos com responsabilidade. Ao longo dos dois mil anos da Igreja, as mulheres não têm estado presentes nos cargos de decisão e o Papa Francisco quer colocá-las em cargos de decisão. Não quer dizer que vão ser ordenadas mas, vão estar em instâncias onde podem ter um papel activo e decisivo. Contudo, ao longo desses dois mil anos as mulheres têm tido grande influência. Chega-se a uma das nossas paróquias e, fazendo um levantamento para ver quem tem ali mais responsabilidades, vê-se que são mulheres. Na maior parte das nossas secretarias quem está lá a organizar os processos e a atender as pessoas, a grande maioria, são mulheres. De facto, elas não celebram missas e então há a impressão de que não estão incluídas. Penso que a Igreja acaba também por ser muito influenciada pela cultura. Não podemos ver a Igreja totalmente fora do mundo, como se ela estivesse ali num patamar à parte, e termos que ensaiar algo de diferente. Ela está inserida nesta cultura que nós vivemos. E a cultura cabo-verdiana é cabo-verdiana, a cultura nórdica é nórdica. Portanto, há muito da cultura na Igreja. Sim, é um assunto sobre o qual devemos reflectir e bem: qual o papel da mulher na Igreja? Que contributos mais ela pode trazer para a Igreja? Na nossa diocese, em Mindelo, temos os chamados serviços diocesanos. Quem está a frente da maioria dos nossos serviços são mulheres. É normal que estes serviços sejam dirigidos por um padre mas, aqui na nossa diocese, são leigos.
Cabo Verde acolheu em finais de Janeiro a 16ª sessão Ordinária do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Regional da África. É um sinal de aproximação da Igreja Católica de Cabo Verde às Igrejas da mesma zona do continente?
Sim. Há realmente um grande desconhecimento quanto a Cabo Verde entre estes países da nossa região. Alguns até sabem que é um arquipélago aqui da costa mas, quanto á nossa realidade, não estão familiarizados. Bem, também tem a ver com o facto de as ligações [aéreas] com África não serem tão boas. Mas aquilo que temos hoje, antigamente não era tão fácil. Nós também, os bispos de Cabo Verde, temos feito um esforço de participar mais vezes nos encontros. Com esta conferência acabamos por ter uma visibilidade e aqueles que vieram ficaram encantados com Cabo Verde. De maneira que, sim, Cabo Verde está hoje mais visível. Por outro lado, estamos numa era de comunicação acelerada e a qualquer momento podemos, a esse nível [regional], trocar informações. Mas esta conferência também serviu para testar a nossa capacidade de acolher grandes eventos. Há outras conferências, a nível de África, ainda maiores, à qual comparecem um grande número de pessoas e nós ainda não temos capacidade logística de acolher tanta gente.
Cabo Verde é um estado laico mas a Igreja Católica sempre gozou de privilégios. Como pode se explicar isto aos cidadãos cabo-verdianos de outras religiões?
Não concordo com essa premissa de que a Igreja Católica goza de privilégios. Privilégio é ser favorecido em detrimento de outros. O que acho é que muita gente não tem presente que a maioria dos cabo-verdianos é católica. Justiça não é tratar por igual e sim aplicar a equidade. Se há 1% de pessoas de uma religião, 80% de outra; há um tempo de antena, é normal que a maioria é que tenha direito a esse tempo de antena. Quem não distingue, com certeza não se irá distinguir. Por exemplo, qual foi a percentagem que se deu aos grupos de Carnaval de São Vicente? Qual foi a que se deu aos grupos da Boa Vista? Quer dizer, é injusto dar o mesmo. O carnaval em São Vicente tem uma dimensão, tem uma história e um acolhimento que têm que ser preservados. E tem que ser apoiado dessa forma. Não se pode pôr no mesmo patamar. Há uma coisa que é a lei da liberdade religiosa e aí sim, esta lei estabelece muito bem a posição de Cabo Verde enquanto estado laico e que de facto não vai criar dificuldades e tratar com injustiça as diferentes confissões religiosas.
Mas há sempre brechas. Por exemplo, recentemente começou a ser falada a questão do ensino religioso nas escolas.
Não está fechado que outras igrejas também tenham esse espaço. Agora, alguém teve a ideia (a Igreja Católica), já que nas nossas escolas a maioria dos que lá estão são cristãos, e o que nós queremos é reforçar nessas pessoas os valores do cristianismo. E estas aulas de religião e moral serão facultativas. É uma cadeira em que só se inscreverá quem queira. Isto está consignado no acordo que foi assinado entre Cabo Verde e a Santa Sé, o acordo que define o estatuto jurídico da Igreja. Por exemplo, nós temos uma percentagem grande de pessoas na tropa e aqueles que lá estão que são católicos e têm necessidade de uma assistência, podem querer confessar-se. Mas assim como vai a Igreja Católica, vão outras igrejas. Seriamos um estado ateu se se proibisse as confissões religiosas de exercerem estas actividades. Um estado democrático, um estado moderno e que respeita as pessoas é o estado que dá às confissões religiosas as possibilidades de exercerem o seu ministério. Isto está na Constituição da República, nem é preciso falar do acordo. A Constituição da República é bem clara sobre o direito que os fiéis têm de professar a sua fé. A Igreja poderá ter o seu espaço onde aqueles que são católicos e que passam o dia todo na escola possam ter uma formação para os valores humanos e cristãos. E só irão participar aqueles que assim o entenderem. Isso nas escolas públicas. As escolas privadas que assim o entenderem também podem ter esse espaço. As outras confissões, se também apelarem, poderão ser atendidas.
A sua nomeação como reverendíssimo bispo de Mindelo, e que atende à região Norte do país, vai fazer agora 7 anos. Qual o balanço que faz desse exercício?
Devo dizer que as nossas missões não se podem qualificar por ser fácil ou difícil, por estar a ser bem-sucedido ou mal sucedido. A igreja funciona porque há um trabalho de um grupo de pessoas, com uma pessoa à frente. Um balanço que eu faço é que a área é grande, os desafios são enormes, mas isto não serve para nos desanimar. Quanto maior o desafio, maior é a esperança, maior a vontade de luta. O mundo moderno é um mundo que não é fácil. Hoje em dia, cresce muito o fenómeno do secularismo – que são caminhos diferentes à fé e á religião – então isso exige da parte dos sacerdotes toda uma sabedoria quanto à forma como se pode hoje falar de Deus às pessoas. Isto é um assunto sempre actual. Algumas pessoas já não querem hoje ouvir falar de Deus como se falava ontem. Mas têm necessidade dele. Neste mundo moderno, tão acelerado, neste mundo mediático e onde as famílias têm dificuldades em dialogarem, como é que a Igreja pode desempenhar a sua missão? Por isso andamos sempre à procura de caminhos. E não me passa pela cabeça fazê-lo sozinho. Fazemo-lo em diálogo. O bispo é uma espécie de treinador da equipa. Muitas vezes nos sentimos pequenos, incapazes…Essa era a minha sensação inicial, de grande dificuldade. E hoje sinto-me mais estável. Antes de mim esteve alguém, depois de mim estará alguém. E o mais importante é que cada um dê o seu contributo no tempo em que lá está. É como um edifício em construção: eu ponho uma pedra, outro que virá porá outra, e assim faremos um edifício. A minha maior alegria é saber que o povo está bem.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 852 de 28 de Março de 2018.