Na quarta-feira, um responsável não identificado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte declarou que o país asiático considera agora que uma guerra (na península coreana ou com os Estados Unidos) "é inevitável" e que se trata de uma questão de "quando" e não "se".
Trata-se de um novo ponto alto na escalada verbal entre Pyongyang e o novo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem vindo a intensificar-se desde o início do ano. A 02 de Janeiro, numa mensagem de Ano Novo, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, anunciou que o país estava na "fase final" dos preparativos para fazer um disparo de teste de um míssil balístico intercontinental. Por definição, estes mísseis têm um alcance superior a 5.500 quilómetros, o que lhe permitiria começar a pensar em atingir território norte-americano.
A Coreia do Norte viria a disparar 23 mísseis ao longo do ano, o primeiro dos quais a 12 de Fevereiro, dias depois da tomada de posse de Trump e no mesmo dia em que o primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, visitava os Estados Unidos. Horas depois, o Comando Estratégico dos Estados Unidos desvalorizou o lançamento, dizendo que o míssil testado era de médio alcance, pelo que não representava uma ameaça à América do Norte.
Os três lançamentos norte-coreanos em Abril (dois mísseis balísticos de alcance intermédio e um outro de tipologia desconhecida) não mudaram o nível de pressão dos Estados Unidos. A 01 de maio, o Presidente Trump ainda dizia - numa entrevista à Bloomberg - que "ficaria honrado" caso fosse possível reunir-se com Kim Jong-un, desde que "em circunstâncias apropriadas", para atenuar as tensões quanto a outro problema em cima da mesa: o programa nuclear da Coreia do Norte.
Pyongyang respondeu com três novos lançamentos de mísseis balísticos em maio, a 14, 21 e 29, testando trajectórias e ângulos de disparo.
O jogo mudou a 04 de Julho - o dia da independência dos Estados Unidos - quando a Coreia do Norte testou com êxito o lançamento de um míssil balístico intercontinental, um Hwasong-14.
O míssil terá alcançado uma distância de 933 quilómetros e uma altitude de 2.800 quilómetros, caindo depois no Mar do Japão. Os especialistas norte-americanos classificaram o lançamento como um "grande passo" de Pyongyang com vista a dotar-se de uma arma capaz de conter uma ogiva nuclear e capaz de alcançar os Estados Unidos.
No mesmo dia, Donald Trump reagiu ao disparo no Twitter: "A Coreia do Norte lançou outro míssil. Será que este tipo não tem nada melhor para fazer na vida?".
Em agosto, já depois de um novo disparo de um Hwasong-14, Donald Trump fez o mais duro comentário sobre a Coreia do Norte, em declarações aos jornalistas num resort de golfe.
"É melhor que a Coreia do Norte não faça mais ameaças aos Estados Unidos. (...) Terão como resposta fogo e fúria como o mundo nunca viu", disse o Presidente norte-americano. Pyongyang respondeu de forma pragmática: anunciou planos para disparar mísseis contra a base americana de Guam, no Pacífico, algo que, no entender do regime, "enviaria um aviso sério aos Estados Unidos".
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aplicou um novo pacote de sanções contra a Coreia do Norte, proibindo exportações de ferro, carvão, chumbo (as principais fontes de rendimento norte-coreano) e pescado. Um novo pacote de sanções, em Setembro, limitaria também as importações norte-coreanas de crude e produtos refinados de petróleo, proibiria as exportações de têxteis e gás natural, entre outras.
A 03 de Setembro, Kim Jong-un testou uma bomba de hidrogénio, o sexto teste nuclear da Coreia do Norte e o primeiro desde Setembro de 2016. Os especialistas ocidentais já admitiam a possibilidade de a Coreia do Norte ter conseguido miniaturizar um engenho nuclear ao ponto de o poder instalar na ogiva de um míssil intercontinental, completando assim o pacote: bomba nuclear e veículo de transporte.
Poucos dias depois, Trump começava a chamar a Kim Jong-un "Rocket Man", incluindo essa expressão no seu discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas. No mesmo discurso perante as nações, Trump disse que os Estados Unidos "iriam destruir totalmente a Coreia do Norte" caso fossem forçados a defender-se ou aos seus aliados. E ameaçou directamente Kim Jong-un, avisando que o "Rocket Man" estava numa "missão suicida". Por esta altura já os mísseis balísticos norte-coreanos estavam a voar a distâncias capazes de atingir Guam.
Desde então os militares dos Estados Unidos têm intensificado exercícios militares conjuntos com a Coreia do Sul, com o objectivo de preparar eventuais respostas a ataques do Norte.
O mais recente disparo de míssil representa mais um marco evolutivo do programa militar norte-coreano. A 29 de Novembro, Pyongyang lançou um Hwasong-15, um novo tipo de míssil. O novo projéctil voou 53 minutos, até uma altitude entre os 4.000 e os 4.500 quilómetros. Em distância horizontal alcançou 950 quilómetros, mas o regime norte-coreano anunciou que o míssil contém uma "ogiva super-pesada" e que é capaz de atingir o território continental dos Estados Unidos.