A organização não-governamental (ONG) de defesa dos direitos humanos acusa as forças do Governo sírio e os seus aliados de ter realizado ataques indiscriminados e directos contra civis, e, por outro lado, mantiveram cercos prolongados em zonas predominantemente residenciais.
Esta prática também foi tomada por facções armadas como o Organismo de Libertação do Levante (a aliança da antiga filial síria da Al-Qaeda) e o Movimento Islâmico dos Livres de Sham, que há algum tempo mantêm cercos a Fua e Kefraya, no norte da Síria.
Outros abusos por parte de organizações armadas contra civis incluem os ataques, tanto directos como indiscriminados, cometidos pelo grupo radical Estado Islâmico (EI), que também perpetrou homicídios ilegítimos de cidadãos.
Segundo a AI, os 'jihadistas' impediram que os civis fugissem e utilizaram-nos como escudos humanos durante a ofensiva das Forças da Síria Democrática, uma aliança armada liderada por milícias curdas e a coligação internacional, encabeçada pelos Estados Unidos, para retirar o controlo da cidade de Raqqa ao Estado Islâmico.
O relatório indica que tanto o EI como o Organismo de Libertação do Levante reivindicaram a autoria de atentados suicidas e outros ataques contra civis.
O documento refere, também, o disparo indiscriminado de explosivos e projécteis de morteiro por parte das organizações armadas da oposição síria na Ghouta Oriental durante combates internos entre esses grupos, que causaram a morte de cem pessoas, entre civis e combatentes.
Por sua parte, a coligação internacional prosseguiu com os bombardeamentos contra o EI, apesar de alguns dos ataques terem violado o direito internacional humanitário, matando e ferindo civis, disse AI.
Além disso, na zona dominada pelos curdos, no norte do país, registaram-se detenções arbitrárias de activistas da oposição curda, muitos deles submetidos a longas detenções à espera de julgamento em condições precárias.
A ONG também revela que as forças de segurança sírias mantiveram detidas milhares de pessoas sem julgamento, frequentemente em situações que constituíram desaparecimentos forçados.
A tortura e outros maus-tratos cometidos por serviços de segurança e de inteligência do Governo sírio e nas prisões estatais continuam a ser uma prática sistemática e generalizada, o que ocasionou um elevado número de mortes de detidos.
A AI afirmou que as forças governamentais levaram a cabo homicídios ilegítimos na prisão militar de Saidnaya, próximo de Damasco, onde entre 2011 e 2015 até 13 mil réus foram executados, de forma extrajudicial, durante a noite, em enforcamentos maciços.
Desencadeado em Março de 2011 pela violenta repressão do regime de Bashar al-Assad de manifestações pacíficas, o conflito na Síria ganhou ao longo dos anos uma enorme complexidade, com o envolvimento de países estrangeiros e de grupos 'jihadistas', e várias frentes de combate.
Num território bastante fragmentado, o conflito civil na Síria provocou, desde 2011, mais de 350 mil mortos, incluindo mais de 100 mil civis, e milhões de deslocados e refugiados.