Ao reunir-se na quarta-feira para uma sessão de dois dias destinada a submeter a votação o nome do candidato apresentado e a nomear o novo Presidente da ilha caribenha, o parlamento cubano iniciou uma transição histórica, após seis décadas de poder exclusivo dos irmãos Castro.
Segundo a imprensa estatal cubana, o resultado do escrutínio de quarta-feira será revelado hoje, a partir das 09:00 locais (12:00 de Cabo Verde).
Desde a revolução de 1959, Cuba só conheceu uma verdadeira transição na sua liderança: em 2006, quando o líder histórico, Fidel Castro, doente, passou o testemunho ao irmão mais novo, após 40 anos de poder não-partilhado.
Raúl Castro efectuou uma série de reformas outrora impensáveis, como a abertura da economia à pequena iniciativa privada, e, acima de tudo, realizou uma bem-sucedida reaproximação ao antigo inimigo norte-americano da guerra fria.
Em 2015, Cuba e os Estados Unidos reataram relações diplomáticas e, no ano seguinte, o então Presidente, Barack Obama, fez uma histórica visita à ilha.
Mas desde a chegada à Casa Branca do magnata republicano Donald Trump, a normalização de relações entre os dois países foi alvo de uma travagem brusca.
Fidel morreu no final de 2016 e é agora a vez de Raúl, de 86 anos, ceder o lugar a um representante da nova geração: o civil Miguel Díaz-Canel, um homem do sistema, vice-Presidente desde 2013 e que foi preparado para lhe suceder, representando há vários anos regularmente o Governo em missões no estrangeiro e cujas aparições na imprensa são cada vez mais frequentes.
Partidário da instalação generalizada da Internet na ilha, Díaz-Canel tem sabido transmitir uma imagem moderna, embora sendo parco em declarações.
Mas sabe também ser intransigente em relação aos dissidentes e a diplomatas demasiado inclinados a criticar o regime, como demonstrou um vídeo divulgado no ano passado na sequência de uma fuga de informação.
Se for proclamado como novo Presidente, este engenheiro electrotécnico nascido após a revolução deverá impor-se e prosseguir a indispensável "actualização" do modelo económico da ilha esboçado pelo mais novo dos irmãos Castro, o que poderá revelar-se uma missão difícil para um homem de perfil discreto que gravitou na sombra dos corredores do poder e que os cubanos conhecem pouco.
Pela primeira vez em décadas, o Presidente não terá conhecido a revolução de 1959, não envergará a farda verde azeitona e não dirigirá o Partido Comunista Cubano (PCC).
Mas poderá colmatar esse défice de legitimidade graças a Raúl Castro, que se manterá na liderança do poderoso partido único até 2021, cargo em que mobilizará a velha guarda dos "históricos", na maioria reticentes em relação às reformas mais ambiciosas.