“Em 2017 fomos testemunhas de um grave e irracional retrocesso das relações Cuba-EUA, pelo qual o nosso país não é responsável", afirmou, durante uma intervenção que fechou a última reunião da Assembleia Nacional do Poder Popular (parlamento unicameral) do ano.
Três anos depois do histórico anúncio do desbloqueio diplomático entre Cuba e Estados Unidos - acordado em finais de 2014 com a então administração de Barack Obama ao fim de quase seis décadas de antagonismo -, a aproximação tem vindo a ser revertida na sequência de uma crescente hostilidade por parte do actual Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Raúl Castro sustentou que Cuba não é responsável pela reviravolta verificada nas relações bilaterais provocada por Donald Trump, apontando que, nesse recuo, os Estados Unidos recorrem ao "fabrico artificial de pretextos irracionais".
"Reitero que Cuba não tem nem tem responsabilidade nos alegados incidentes ocorridos com diplomatas acreditados no país - as investigações realizadas por peritos cubanos e norte-americanos assim o confirmam", sublinhou Raúl Castro, referindo-se aos "ataques acústicos" sofridos na ilha por duas dezenas de diplomatas norte-americanos.
Havana negou ter qualquer responsabilidade nesses incidentes e, mais tarde, questionou mesmo a sua veracidade.
De acordo com o Departamento de Estado norte-americano, 24 funcionários colocados em Cuba sofreram problemas de saúde relacionados com "ataques acústicos". Após a revelação do caso, em Agosto, Washington absteve-se de acusar formalmente o Governo cubano, mas, em Outubro, Donald Trump acusou Cuba de ser "responsável", com a Casa Branca a afirmar que Havana tinha "meios de parar os ataques".
No seu discurso, o Presidente cubano também assinalou que "não foi Cuba que definiu restrições, limitou os laços comerciais ou prejudicou o funcionamento das embaixadas, os intercâmbios e as viagens entre os dois países", referindo-se às medidas adoptadas nos últimos meses por Washington.
Neste âmbito, apontou que a política adoptada pelos Estados Unidos tem a oposição da comunidade internacional, do povo norte-americano e dos migrantes cubanos, que "também se vêem afectados [por] estas decisões [que] apenas respondem a interesses e políticas retrógradas".
Não obstante, sublinhou que Cuba tem vontade para continuar a negociar com os Estados Unidos os assuntos pendentes na base do "respeito e da independência".
"A Revolução resistiu ao embate de 11 administrações e aqui estamos, estaremos e continuaremos a ser livres, soberanos e independentes", realçou.
Relativamente à decisão do Presidente dos Estados Unidos de reconhecer Jerusalém como capital de Israel, Raúl Castro considerou-a uma "grave violação" da carta da ONU e do Direito Internacional, apontando que agudiza a tensão na região e afasta qualquer esforço para a retoma do diálogo de paz entre israelitas e palestinianos.
Ao falar da actualidade internacional, o Presidente cubano também aproveitou para manifestar a sua solidariedade para com os ex-presidentes da Argentina e Brasil, Cristina Kirchner e Luiz Inácio Lula da Silva, respectivamente, devido aos processos judiciais que enfrentam, a seu ver, por questões políticas.
Castro referiu-se ainda às recentes eleições municipais na Venezuela, principal aliado económico e político de Cuba na América Latina, para expressar a sua rejeição relativamente à "ingerência externa" e reafirmar a "contínua solidariedade" da ilha para com esse país.