Se o jornal O País reproduz, na totalidade, a entrevista de António Costa publicada no domingo pelo Diário de Notícias em Portugal, o Jornal de Angola apresenta uma entrevista feita em Lisboa ao primeiro-ministro português, com destaque e fotografia no centro da primeira página e ocupando, na totalidade, as páginas dois e três.
"Portugal ambiciona relações profícuas e estreitas com Angola" é a frase escolhida para manchete pelo JA para ilustrar as palavras de Costa, em que o primeiro-ministro sublinha também que o país africano "tem todas as condições para ser uma das grandes potências económicas" de África.
Com o editorial a ser dedicado ao "Legado de Neto e a Nova Angola", o JA publica nas páginas dois e três do jornal que Costa refere que Portugal nunca terá uma relação com outros países como a que tem com Angola".
"O simbolismo desta visita é também o facto de começarmos a ter, cada vez mais, uma discussão de como é que devemos aproveitar a relação que temos para ajudar aquele que é um dos grandes desafios do século XXI, que são as relações entre o continente africano e o continente europeu", refere o primeiro-ministro português.
Na entrevista, Costa refere que "não faz qualquer sentido" os dois países terem ficado sete anos sem uma visita de um primeiro-ministro a Angola e que se está a aguardar há oito por uma deslocação oficial de um Presidente angolano a Lisboa.
Para Costa, as relações entre Portugal e Angola "têm uma grande proximidade política", pelo que foram "muito importantes", ao longo deste ano, os encontros que teve com o presidente angolano, João Lourenço, em Davos (Suíça), à margem do Fórum Económico Mundial, em Abidjan [Costa do Marfim], na Cimeira África-Europa, e em Cabo Verde, na Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
"Em todos esses encontros foi muito visível como a cooperação política e o bom nível de relacionamento entre os dois países é essencial para dar ânimo e confiança à cooperação política, aos agentes económicos e aos nossos povos. Angola é um país que é um dos mais importantes parceiros económicos", sublinhou.
O primeiro-ministro português salientou, por outro lado, que desapareceu de vez o "irritante" que impedia a normalização das relações políticas e diplomáticas bilaterais, sobretudo depois de o processo que envolveu o ex-vice-Presidente de Angola Manuel Vicente ter sido transferido para as autoridades judiciais angolanas.
"Foi um sinal inequívoco da confiança nas instituições judiciárias, na independência das instituições angolanas e no bom funcionamento dos mecanismos de cooperação jurídica. Foi muito claro, logo no final da primeira conversa com João Lourenço, que tudo ia correr bem nas nossas relações bilaterais. (?) Este era o único [ponto de divergência] que existia. Agora, temos o caminho aberto para um excelente relacionamento bilateral", salientou Costa.
Questionado sobre o que pode ser melhorado nas relações bilaterais, o chefe do executivo português realçou que as visitas que faz a Angola e a que o Presidente angolano a Portugal (em Novembro) "marcarão um novo patamar no relacionamento".
"Desde logo, pela assinatura do Programa Estratégico de Cooperação, que vai reforçar a dimensão estratégica e diversificar as áreas de intercâmbio, prosseguindo naquelas áreas que têm sido tradicionais e positivas, como a Educação e Saúde, etc., mas também como novas perspectivas nas áreas técnico-militar, técnico-policial. A visita vai dar um sinal de confiança no estreitamento das nossas relações. Quer um quer outro país tiveram momentos difíceis, nós com a crise da dívida, Angola com a crise do preço do petróleo. Hoje, estamos a recuperar", declarou.
Para o chefe do executivo de Lisboa, o Presidente angolano abriu uma nova era na política angolana e, dessa forma, "cria expectativas" para que se possa continuar os investimentos recíprocos e as relações bilaterais.
Segundo Costa, o mandato de João Lourenço "já está marcado por duas importantes iniciativas" - Lei da Concorrência e Lei do Investimento privado -, diplomas legais que reforçam a confiança do investimento em Angola, mas a questão dos vistos é mais complexa.
"A liberdade de circulação entre os dois países é uma das questões que Portugal tem colocado no seio da CPLP como prioritária para o sucesso desta comunidade. Na última cimeira da CPLP [Cabo Verde - Julho deste ano] o Presidente João Lourenço enfatizou como é importante vermos isto resolvido. Temos grandes esperanças de que a Presidência angolana da comunidade ajude a levar para a frente este desígnio", afirmou.
Costa reconheceu que a questão dos vistos "condiciona" o intercâmbio político e económico bilateral, mas salientou que, a nível do direito de residência, não existe ainda nenhuma norma na União Europeia (UE).
"Havendo liberdade de residência, há dispensa de visto para estes casos. Devemos trabalhar na CPLP para, sem que Portugal viole os seus compromissos com a UE, podermos criar condições para que haja melhor liberdade de circulação entre nacionais dos nossos países", referiu.
Sobre eventuais ciúmes que Portugal possa ter com o facto de Angola ter privilegiado, nos últimos anos, a cooperação económica com outros países - China e França, entre outros -, Costa realçou que a relação de Lisboa com Luanda é independente.
"Temos uma relação de suficiente confiança para não haver ciúmes, e aquilo que desejamos é que Angola, como país soberano, tenha relações com todos os países do mundo", respondeu.