“O objectivo da manifestação é dar espaço à comunidade para organizar, com o apoio de associações e colectivos do movimento negro, que estão solidários com as condições de que os negros e pessoas da periferia têm sido alvos em relação à questão policial, e da falta de habitações dignas. A comunidade sente essa necessidade de se auto-organizar e responder, mostrar que está atenta e que exige melhorias”, explicou António Tonga, citado pela Lusa.
Várias associações que estão solidárias com a população, na sequência do incidente que ocorreu em Vale de Chícharos, estiveram ontem reunidas com os moradores.
O Colectivo Consciência Negra, a SOS Racismo, a Plataforma Gueto, a FEMAFRO e a Afrolis – Associação Cultural são algumas das organizações que estão a dinamizar este movimento.
Para o membro do Colectivo Consciência Negra, faz todo o sentido que a manifestação seja em frente aos Paços do Concelho, porque a autarquia “tem que assumir responsabilidade perante a realidade do bairro”.
No domingo de manhã, a Polícia de Segurança Pública foi chamada a Vale de Chícharos após ter sido alertada para “uma desordem entre duas mulheres”, o que resultou no ferimento, sem gravidade, de cinco civis e de um agente.
Devido a esta ocorrência, realizou-se uma manifestação em frente ao Ministério da Administração Interna, em Lisboa, que resultou em quatro detenções por apedrejamento aos agentes da PSP, incêndios a caixotes e viaturas, na zona de Loures e Odivelas, e lançamento de ‘cocktails Molotov’, em Setúbal.
Em declarações ontem à agência Lusa, um dos membros da Associação de Desenvolvimento Social de Vale de Chícharos, Vanusa Coxi, agradeceu o apoio que tem sido dado ao bairro, mas esclareceu que os moradores “não convocaram” nenhuma manifestação fora do concelho.
Os residentes falaram também sobre as dificuldades habitacionais e mostraram-se ansiosos pelo dia em que serão realojados, à semelhança das 187 pessoas do edifício 10 que, em Dezembro, foram distribuídas por 64 habitações, através de um acordo financiado pela autarquia e pelo Governo.
O bairro começou a formar-se na década de 1990, quando populações que vinham de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) começaram a fixar-se nas torres inacabadas, fazendo 'puxadas' ilegais de luz, água e gás.