De acordo com o jornal Expresso, apesar de oficialmente terem sido apontados motivos de agenda, nos bastidores sabe-se que o verdadeiro motivo é outro, relacionado com as posições polémicas, assumidas por Orban, em áreas como imigração.
Orban esteve até quinta-feira numa visita de dois dias Cabo Verde entre 27 e 28 deste mês.
“Oportuno e apropriada". Foi nestes termos que, sob anonimato, um destacado responsável do Ministério das Relações Exteriores qualificou ao jornal português a decisão do Presidente João Lourenço de se recusar a receber em Angola o primeiro-ministro húngaro.
O polémico político, um dos líderes europeus mais conotados com a extrema-direita, manifestara interesse em aproximar-se de Luanda e deveria realizar esta semana uma visita oficial ao país.
O semanário recorda que no início do mês de Março o ministro nos Negócios estrangeiros e do Comércio da Hungria, Péter Szinjjártó, visitou Angola e manteve um encontro privado com o seu homólogo angolano, Manuel Augusto. O governante húngaro visitou também a Televisão Pública de Angola (TPA), tendo manifestado interesse em cooperar com Angola na formação de quadros e partilha de conteúdos televisivos.
As relações de cooperação entre a República de Angola e a República da Hungria foram estabelecidas em 1977 por via da assinatura do Acordo de Cooperação Económica e Técnico-Científica e têm-se mantido, desde então.
Cabo Verde e Hungria intercedem mutuamente nas relações com a CPLP e União Europeia
O Governo de Cabo Verde assinou hoje com a Hungria uma série de documentos jurídicos integrados no Acordo Geral de Cooperação Económico e Técnico. Ulisses Correia e Silva caracterizou o acto como reforço do diálogo politico e diplomático entre os dois países e ressaltou a expectativa de que a Hungria seja uma parceira na aspiração à mobilidade no espaço europeu.
Em Cabo Verde
Durante a estadia do chefe de governo húngaro em Cabo Verde, foram assinados vários acordos de cooperação.
Viktor Orbán manifestou a sua abertura à isenção de vistos para entrada de cabo-verdianos no país, tal como acontece com os europeus que visitam Cabo Verde.
Por seu lado, o Primeiro-Ministro, Ulisses Correia e Silva, sublinhou que se tratou da primeira visita de um chefe do executivo da Hungria ao arquipélago.
"É sinal de confiança mútua e amizade e de uma forte aposta nas relações que vamos desenvolver fortemente em áreas que identificamos", disse.
O líder do arame farpado
Na última semana, o Partido Popular Europeu, união de partidos de centro-direita no Parlamento Europeu, suspendeu temporariamente o Fidesz, partido do primeiro-ministro húngaro, depois de várias acusações sobre violação dos princípios europeus do estado de direito. Antes da decisão, Orbán tinha anunciado que se auto-suspendia.
Para o líder húngaro, a “liberdade” da União Europeia é a cultura cristã que “é preciso defender”.
“Queremos ver novos líderes fortes a dirigir a Europa”, disse recentemente, a propósito das eleições para o Parlamento europeu, em Maio.
As reformas políticas de Orban, desde que assumiu o poder, em 2010, incluem um reforço constitucional dos valores do cristianismo e da "família tradicional". Igualmente, aumentou o controlo do governo sobre a justiça e comunicação social.
Abertamente hostil à recepção de migrantes que diz poderem "dissolver" a identidade da Hungria e de toda a Europa, Orban ergueu em 2015 uma cerca de arame farpado de várias centenas de quilómetros nas fronteiras sérvia e croata.