Na sequência do acto de assinatura do Acordo entre os dois países, ponto alto da visita de Viktor Orbán a Cabo Verde, que o primeiro-ministro cabo-verdiano disse representar a retoma das relações bilaterais entre Cabo Verde e Hungria e “um sinal de confiança e amizade, e de uma forte aposta nas relações que vamos desenvolver em várias áreas”, Ulisses Correia e Silva sublinhou o “empenho pessoal” do seu homólogo nestas relações bilaterais e na relação de Cabo Verde com a União Europeia, através da advocacia que o primeiro-ministro húngaro e o seu governo têm colocado na relação de Cabo Verde com a União Europeia”.
“Como é sabido temos uma parceria estratégica com a União Europeia e aspiramos conseguir a mobilidade no espaço da UE”, frisou o chefe do executivo que adiantou ainda que pelo seu lado, cabo Verde afigura-se um parceiro na aproximação da Hungria á Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), de que é membro observador, tendo em conta que o arquipélago preside actualmente a organização.
No que se refere à cooperação para o desenvolvimento, à cooperação económica empresarial, a ambição de Cabo Verde passa por atrair investimentos, turismo e também comércio, “para quer as relações, para além de políticas e de cooperação, sejam também económicas”, acrescentou o chefe do executivo.
Nesse sentido, o Acordo contempla instrumentos legais para evitar a dupla tributação e a evasão fiscal bem como assegurar a protecção de investimentos, algo que o primeiro-ministro cabo-verdiano apontou ser “importantíssimo para criarmos um ambiente favorável a investimentos”.
Ponto importante da visita de Viktor Orbán a Cabo Verde, a linha de crédito outorgada ao país no valor de 35 milhões de euros (3,8 milhões de contos) para a mobilização de água para a agricultura está, na visão de Correia e Silva, “em linha com aquilo que definimos como estratégico para aumentar a resiliência e reduzir o impacto das alterações climáticas” no sector agrícola nacional.
“Há dois factores sobre os quais estamos a actuar fortemente para reduzir a dependência de Cabo Verde das chuvas: ter água para agricultura utilizando outras fontes que não sejam as chuvas e a futura redução da dependência de energias alimentadas por combustíveis fosseis”, vincou, agradecendo a “disponibilidade e confiança” da Hungria na cooperação restabelecida.
“Os acordos que acabamos de assinar dão corpo a esta intenção e essa vontade de cooperação. Para além da cooperação técnica e económica, é sabido que temos da Hungria há vários anos disponibilidade de formação de quadros cabo-verdianos”.
Correia e Silva esclarece que o governo pretende desenvolver mais esta oportunidade de formação de quadros superiores cabo-verdianos e para tal irá disponibilizar bolsas de estudos para a Hungria.
Mais parco nas suas declarações à imprensa, Viktor Orbán manifestou-se satisfeito pela assinatura dos acordos e desejoso de que os mesmos sejam proveitosos para Cabo Verde.
A assinatura dos quatro instrumentos jurídicos integrados no referido Acordo de Cooperação teve lugar na manhã de hoje, no Palácio do Governo, e pôs fim ao programa da visita de dois dias, tendo sido precedido de uma reunião alargada de trabalho com a presença de alguns elementos do executivo de Ulisses Correia e Silva.
Imigração
Ontem, o primeiro-ministro húngaro e sua comitiva foram recebidos pelo Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, e pelo Presidente da Assembleia Nacional, Jorge Santos.
Em declarações à televisão pública de Cabo Verde falou ontem o ministro dos Negócios Estrangeiros e Comércio da Hungria, Péter Szijjárt, que pôs a tónica na questão da imigração.
“Cabo Verde é um país que tem uma abordagem responsável em relação à questão da imigração”, cita-o o site do Governo da Hungria.
Durante a entrevista o ministro considerou existir uma “simplificação danosa” em relação a África. Isso tendo em conta que “ a Comissão Europeia frequentemente tenta retratar o continente inteiro como um grupo de países no qual todos os estados trabalham no sentido de enviar os seus próprios cidadãos rumo á Europa”.
“ Mas isso não é verdade para todos os países africanos e não é verdade no caso de Cabo Verde”, sublinhou Szijjárt que considera que Cabo Verde está a proteger as suas próprias fronteiras, tendo introduzido uma maior defesa das fronteiras e medidas de segurança nas mesmas.
“ Ao mesmo tempo é um país que leva seriamente a sua cooperação com a União Europeia. Por esta razão, a Hungria está a apelar à EU que leve o desenvolvimento das suas relações com Cabo Verde a sério. No campo económico estamos a interceder para que a União Europeia assine um acordo de parceria económica bilateral com a República de Cabo Verde”, acrescentou.
O ministro húngaro disse ainda à televisão do estado que é necessário “ assistir países que tenham uma abordagem séria e responsável a questões que afectem directamente a segurança da Europa” considerando que é garantido que Cabo Verde não será uma fonte de imigração massiva e sim irá introduzir medidas relacionadas á sua própria segurança interna e à segurança da Europa em cooperação com a Europa.