Domingo, 7 de Abril, marcou 25 anos desde o início do genocídio contra os Tutsi, no Ruanda. Em 1994, mais de 800 mil tutsis, hutus moderados e outros que se opuseram ao genocídio foram mortos em menos de três meses.
Em mensagem sobre o dia, Guterres disse que o aniversário é uma oportunidade para homenagear aqueles que foram assassinados e reflectir sobre o sofrimento e a resistência daqueles que sobreviveram.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, alerta para tendências perigosas de aumento da xenofobia, racismo e intolerância em muitas partes do mundo.
Uma desses sobreviventes é Libérée Kayumba. Libérée trabalha hoje para o Programa Mundial de Alimentação, PMA, no Ruanda, ajudando refugiados de outros países a atender suas necessidades básicas e sobreviver às condições desafiadoras que enfrentam nos campos.
Há 25 anos, ela estava no lugar das pessoas que hoje ajuda, uma das muitas forçadas a fugir depois de ver seus pais e irmãos mortos diante de seus olhos. Kayumba diz que tem “uma compreensão mais profunda do sofrimento” destas pessoas devido à sua história e diz que as memórias são uma motivação para trabalhar para as Nações Unidas.
Guterres pede aos povos e países que trabalhem juntos para construir um futuro harmonioso e exorta líderes políticos, religiosos e da sociedade civil a rejeitar o discurso de ódio e discriminação.
O chefe da ONU descreve esses tipos de discurso “como uma afronta aos nossos valores e ameaças aos direitos humanos, estabilidade social e paz”, pedindo que todos trabalhem "para resolver e mitigar as causas que prejudicam a coesão social e criam condições para o ódio e a intolerância.”
O desastre que envolve as etnias hutu e tutsi tem raízes nos tempos do colonialismo belga, quando os tutsis foram beneficiados em detrimento dos hutus na região que forma hoje o Ruanda e o Burundi.
A revolta de 1959 e a independência em 1962 levaram os hutus ao poder e a cometerem ataques aos tutsis.
Em 1990, a Frente Patriótica Ruandesa (FPR), formada por rebeldes refugiados tutsis, iniciou uma guerra aberta contra o regime de Juvénal Habyarimana. Em 1993 foi assinado um acordo de paz em Arusha, Tanzânia. Perante o derrube do avião com um míssil que transportava Habyarimana e o homólogo do Burundi, Cyprien Ntaryamira, o cessar-fogo ficou sem efeito e começou uma caça aos tutsis.
A matança levada a cabo por militares e polícias, também por milícias e civis, terminou com a vitória militar da FPR, que sob a liderança de Paul Kagame entrou pelo norte do país e tomou a capital em cem dias. Nova onda de refugiados, desta vez hutus, em especial para o então Zaire (agora República Democrática do Congo) levou a novos conflitos, entre 1996 e 2003.
Após o fim das mortes em massa, as comunidades foram reconstruídas com sobreviventes lado a lado com cúmplices ou mesmo com assassinos. A política oficial do país passou a ser a de igualdade entre os cidadãos e de retirar do discurso público referências às etnias.
“Toda a gente perdeu alguém”, diz a Irmã Cécire, missionária da igreja católica no Ruanda. “Perdemos muito e isso afecta-nos até hoje. Há muitos órfãos, muitos idosos abandonados, muitas famílias destruídas, é por isso que temos de espalhar o amor de Deus", afirma, com um sorriso desarmante.
Diariamente, Cécire vai a casa de algumas pessoas mais fragilizadas, normalmente idosos. “Às vezes nem têm nada para comer”, explica.
Só depois de o conflito ter chegado ao fim é que as verdadeiras dimensões do genocídio foram conhecidas. Porém, várias perguntas continuam por responder.
As Nações Unidas marcaram o 7 de Abril o Dia Internacional de Reflexão sobre o Genocídio de 1994 contra os Tutsi.