Argentinos fazem fila nos bancos para tirar poupanças em dólar com medo de confisco

PorExpresso das Ilhas,7 set 2019 9:04

O risco de que a Argentina volte a interromper os pagamentos reavivou o fantasma do confisco de depósitos bancários.

“Tire os dólares do banco”.

Esta mensagem começou a circular como pólvora de telefone em telefone na semana passada em Buenos Aires.

O risco de que a Argentina volte a interromper os pagamentos reavivou o fantasma do corralito (confisco de depósitos bancários) de 2001 e, com esse medo, muitos argentinos recorrem ao bem mais valorizado nas crises: a moeda norte-americana.

Nos últimos 20 dias de Agosto, os depósitos em dólares diminuíram em 3,95 mil milhões de dólares de acordo com dados do Banco Central, e a sangria acelerou esta segunda-feira, quando começou o controlo de câmbios imposto pelo Governo de Mauricio Macri.

Os bancos foram autorizados a estender o seu horário até às 17h para atender o aumento de demanda e no começo do dia havia filas em frente a todos eles.

Segundo a edição brasileira do El País, a maioria dos argentinos que esperava a abertura das portas não queria falar, mas alguns aceitaram sob a condição de anonimato. “Queria tirar o dinheiro na sexta-feira, perto do trabalho, mas disseram-me que precisava de ser na minha agência. Se não me derem hoje deito fogo ao banco”, disse irritado um comerciante de 48 anos.

“Infelizmente já passamos por isso muitas vezes na Argentina”, acrescentou uma aposentada, enquanto insultava o Presidente da República Mauricio Macri porque “nos endividou e voltou a entregar o país ao FMI”. Acusou, em referência ao empréstimo de 57 mil milhões de dólares concedido pelo órgão internacional.

Muitos dos que retiraram os dólares dos bancos vão esconder o dinheiro em casa, em cofres.

“Fui com meu pai ao banco e depois ele irá guardá-los em seu cofre”, disse no domingo uma professora de 37 anos ao El País.

A procura de cofres também disparou nas últimas semanas e em muitos bancos do centro de Buenos Aires há lista de espera.

“Em casa é muito arriscado, podemos ser roubados, mas neste momento não se pode depositar os dólares”, afirmou.

No corralito de Dezembro de 2001, milhões de argentinos viram bloqueadas suas contas da noite para o dia e essas feridas não cicatrizaram em 18 anos.

Os que têm seus dólares no exterior respiram aliviados.

O receio que continue a desvalorização do peso, que perdeu 23% do seu valor desde as eleições primárias de 11 de Agosto, esta a levar os argentinos a uma procura desenfreada por dólares.

Alguns trabalhadores levantaram os seus salários recém-depositados na conta para transformá-los em dólares.

Na segunda-feira, o público encontrou uma grande dispersão de valores na abertura do mercado.

“Nesse momento, 62”, respondiam num banco do centro de Buenos Aires sobre o valor de venda do dólar por volta das onze da manhã. Numa casa de câmbio a duas ruas de distância, a moeda norte-americana era oferecida a 65 pesos argentinos. Noutra, a 61; na do lado, 59, e existiam lousas em branco e outras em que se lia “Consultar”. Numa rua os arbolitos (operadores informais de câmbio que oferecem seus serviços a viva voz) comentavam que o preço era “negociável”.

Com o passar das horas o câmbio reverteu a tendência e fechou em 57 pesos (cerca de 100 escudos) por dólar no Banco Nación, quatro unidades a mais do que na sexta-feira, o que atraiu a chegada de mais compradores.

No prédio central do banco, localizado em frente à sede do Governo, ocorreram longas filas o dia todo e às 15h, hora habitual do encerramento, centenas de pessoas ainda estavam do lado de dentro. Outros bancos próximos mantiveram suas portas abertas até às 17h.

Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 927 de 04 de Setembro de 2019. 

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Autoria:Expresso das Ilhas,7 set 2019 9:04

Editado porAndre Amaral  em  8 set 2019 9:02

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