"Se a ANM tivesse sido informada correctamente, poderia ter exigido medidas de urgência da empresa, o que poderia ter evitado o desastre", afirma a agência em comunicado, referindo-se à ruptura da barragem que em Janeiro último fez mais de 270 vítimas, entre mortos e desaparecidos, no estado brasileiro de Minas Gerais.
A ANM explica que as informações recebidas por parte da Vale antes da ruptura da barragem "não eram compatíveis com os elementos apresentados nos documentos internos do grupo de mineração".
Um relatório da ANM aponta pelo menos cinco inconsistências entre as informações prestadas pela empresa Vale ao longo de 2018 e a situação verificada pela agência após o acidente em 25 de Janeiro na barragem Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho.
O documento de 194 páginas aponta, em particular, problemas com o sistema de drenagem da água na estrutura da barragem, instalado em Junho de 2018, seis meses antes da tragédia.
A Vale supostamente declarou que esses problemas apresentavam risco de nível zero, enquanto os seus documentos internos sugeriam risco de nível seis.
Contudo, os especialistas da ANM consideram que as anomalias descritas nesses documentos internos exigiam que a empresa declarasse risco de nível 10, o que significaria que a estabilidade da barragem estaria comprometida e obrigaria a tomada de medidas de emergência.
A Vale, maior produtora e exportadora de ferro do mundo, disse hoje que só comentará o relatório da ANM depois de "analisá-lo na íntegra", frisando que "todas as informações sobre o estado de conservação da barragem foram fornecidas às autoridades que investigam o caso".
O relatório da ANM foi publicado precisamente no dia em que se completam quatro anos desde a ruptura de outra barragem no estado de Minas Gerais, na cidade de Mariana, a 120 quilómetros de Brumadinho, envolvendo também a Vale.
No dia 05 de Novembro de 2015, a barragem de Fundão, estrutura de extracção de minérios da Samarco, uma ‘joint-venture’ da mineira brasileira Vale e da australiana BHP Billiton, rompeu libertando cerca de 40 milhões de metros cúbicos de resíduos minerais (níquel, ferro e sílica), causando a morte a 19 pessoas, e desalojando centenas de famílias.