Bolsonaro anunciou Teich como ministro ao mesmo tempo em que o antigo responsável pela tutela da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, dava uma conferência de imprensa para confirmar a sua exoneração e garantir que a sua equipa apoiaria o novo governante na luta contra a pandemia.
“O que eu conversei ao longo desse tempo com o oncologista doutor Nelson foi fazer com que ele entendesse a situação como um todo. Sem abandonar o principal interesse, a vida, mas sem esquecer que ao lado disso temos outros problemas, como o desemprego”, afirmou Bolsonaro, numa declaração no Palácio do Planalto, sede do Governo em Brasília.
O novo ministro garantiu que “existe um alinhamento completo” com o chefe de Estado e que não haverá “qualquer definição brusca, radical” sobre o isolamento social, e que o importante é que haja uma “informação cada vez maior sobre o que acontece com as pessoas, com cada acção que é tomada”.
"O que é fundamental é que consigamos ver aquela informação que tínhamos até ontem, decidir qual a melhor acção do momento e seguir qual a melhor forma de isolamento e distanciamento. Que isso seja cada vez mais baseado em informação sólida", frisou Nelson Teich.
O isolamento social é uma das medidas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para enfrentar a pandemia do coronavírus. Contudo, Bolsonaro é um forte critico dessa medida, tendo sido esse fator que o levou a demitir Mandetta, por este defender publicamente o isolamento social, contrariando o chefe de Estado.
Nelson Teich afirmou ainda que discutir entre saúde e economia num momento de pandemia "é muito mau", porque as duas áreas "não competem entre si".
"Quando você polariza uma coisa dessas [Saúde e Economia], você começa a tratar pessoas versus dinheiro, o bem versus o mal, emprego versus pessoas doentes. E não é nada disso", disse o novo ministro da Saúde.
Bolsonaro aproveitou para agradecer o trabalho prestado por Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde, afirmando que a sua exoneração foi um "divórcio consensual".
"É direito [do Mandetta] defender o seu ponto de vista, como médico, e a questão do emprego não foi da forma como eu, como chefe do Executivo, achei que deveria ser tratada. Não condeno nem critico o ministro Mandetta. Ele fez aquilo que achava que deveria fazer", disse Bolsonaro, com um semblante abatido e falando de forma pausada, diferente do seu estilo habitual.
Bolsonaro voltou a criticar as medidas de isolamento social e encerramento de comércios decretadas por governadores do Brasil, afirmando que o Governo não tem como manter auxílio às famílias mais pobres por muito mais tempo.
"Não temos como manter essa ajuda por muito mais tempo. Sei que a vida não tem preço, mas a economia, o emprego, têm de voltar à normalidade. (...) O Governo não é uma fonte de socorro eterna", sublinhou o chefe de Estado.
Em comunicado a Associação Médica Brasileira (AMB) disse apoiar a escolha do oncologista, "pelo seu perfil altamente técnico, importante para o momento como actual".
"Na AMB referendamos o nome de Nelson Teich. É um nome que conta com nosso total apoio, e pelo qual temos muita simpatia. Respeitado na classe médica, eminentemente técnico, gestor e altamente preparado para conduzir o Ministério da Saúde", indica o comunicado.
Teich foi responsável nos anos 1990 pela fundação do Centro de Oncologia Integrado (Grupo COI), onde trabalhou até 2018. De Setembro do ano passado até Janeiro deste ano, prestou orientações à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos em Saúde (SCTIE) do Ministério da Saúde, segundo a imprensa local.
O Brasil ultrapassou na quarta-feira a barreira dos três mil novos casos diários do novo coronavírus, registando o número recorde de 3.058 infectados e 204 mortos nas últimas 24 horas, informou o executivo.
A nível global, a pandemia de COVID-19 já provocou mais de 141 mil mortos e infectou mais de 2,1 milhões de pessoas em 193 países e territórios. Mais de 465 mil doentes foram considerados curados.