O Relatório Mundial sobre a Droga de 2020, divulgado hoje pelo UNODC, dá conta que embora ainda não sejam totalmente conhecidos os impactos da COVID-19 nos mercados de drogas, a pandemia causou escassez de oferta dos narcóticos nas ruas, levando ao aumento de preços e pureza reduzida.
Conforme o relatório, o aumento do desemprego e a redução das oportunidades causadas pela pandemia também afectam desproporcionalmente os mais pobres, tornando-os mais vulneráveis ao uso de drogas e também ao tráfico e cultivo de drogas, como meio de subsistência.
“Grupos vulneráveis e marginalizados, jovens, mulheres e pobres pagam o preço pelo problema mundial das drogas. A crise da COVID-19 e a desaceleração económica ameaçam agravar ainda mais os perigos das drogas, quando nossos sistemas sociais e de saúde estão no limite e nossas sociedades estão tendo dificuldades para lidar com isso”, disse Ghada Waly, directora executiva do UNODC.
Nesse sentido, Ghada Waly apelou aos governos que demonstrem maior solidariedade e forneçam apoio, principalmente aos países em desenvolvimento, para combater o tráfico ilícito de drogas.
Pediu ainda aos governos que ofereçam serviços com base em evidências para as pessoas que sofrem transtornos pelo uso de drogas e doenças conexas, de modo a atingir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável.
A UNODC alerta ainda que devido a pandemia, os traficantes procuram encontrar novas rotas e métodos, e as actividades de tráfico via darknet e envios por correio podem aumentar, apesar da interrupção do sistema de correio internacional.
Além do que, prossegue, a pandemia também levou à escassez de opióides, o que, por sua vez, pode resultar em pessoas indo à procura de substâncias disponíveis mais facilmente, como álcool, benzodiazepínicos ou alguma mistura com drogas sintéticas.
“Padrões de uso mais prejudiciais podem surgir à medida que alguns usuários passam a injectar drogas, ou a injectar com mais frequência”, avisa.
Analisando os efeitos adicionais da pandemia actual, o Relatório afirma que, se os governos reagirem da mesma forma que reagiram à crise económica de 2008, quando reduziram os orçamentos relacionados às drogas, intervenções como a prevenção ao uso de drogas e comportamentos de risco relacionados podem sofrer um impacto negativo.
As operações de interceptação e a cooperação internacional também podem se tornar menos prioritárias, facilitando a operação dos traficantes.