Não obstante 11 outros candidatos, entre os quais três mulheres, as presidenciais do Gana, reputado como exemplo de democracia na África Ocidental, serão decididas entre Nana Akufo-Addo, 76 anos, candidato pelo Novo Partido Patriótico (NPP), que procura um segundo mandato, e o seu antecessor John Mahama, 62 anos, líder da oposição do Congresso Nacional Democrático (NDC).
Os dois políticos enfrentaram-se nas urnas em 2012 e 2016 em escrutínios renhidos e os de segunda-feira – presidencial e legislativo - não se afiguram muito diferentes.
As sondagens apontam para uma ligeira vantagem de Akufo-Addo nas intenções de voto, mas a maioria do NPP no parlamento, cujos 275 lugares também vão a votos, deverá ser corroída. Os dois partidos dominam a vida política do país desde o estabelecimento da democracia há 28 anos.
Desemprego, infra-estruturas e estradas, educação e saúde são as questões que irão pautar o destino dos votos, ainda de acordo com inquéritos pré-eleitorais.
O Gana, principal produtor mundial de ouro desde o ano passado, tendo ultrapassado a África do Sul, segundo maior produtor mundial de cacau, mas também rico em petróleo, diamantes, bauxite e manganésio, vem a protagonizar um forte crescimento desde o início dos anos 2000.
Não obstante, algumas regiões, particularmente no Norte, continuam a viver em extrema pobreza, sem água potável ou electricidade.
A crise provocada pela pandemia de covid-19 atingiu duramente o país, esperando-se que o crescimento este ano caia para 0,9%, segundo o Fundo Monetário Internacional, a taxa mais baixa em mais de 30 anos, que compara com um crescimento de 6,5% em 2019.
Akufo-Addo foi elogiado pela sua gestão da crise, cumpriu algumas das promessas feitas na campanha para as presidenciais de 2016, nomeadamente no domínio da educação e no acesso à electricidade. Em contrapartida, desapontou no seu principal compromisso: o combate à corrupção, que lhe rendeu frutos importantes na campanha que sucedeu ao mandato de John Mahama, marcado por acusações de corrupção.
De acordo com um inquérito do Afrobarómetro realizado em 2019, 53% dos ganeses acreditam que o nível de corrupção aumentou no país. Num incidente que torna a questão ainda mais densa, o procurador especial anticorrupção, uma figura criada por Akufo-Addo, e cujo responsável foi nomeado logo após a sua eleição, demitiu-se em Novembro, acusando o chefe de Estado de obstruir o seu trabalho.
Mahama terá, pelo seu lado, que fazer esquecer as acusações de má gestão económica, mas também a associação a escândalos de corrupção, que impediram a sua reeleição em 2016.
Desta vez, contudo, conta com a companheira de candidatura e candidata à vice-presidência, Jane Naana Opoku-Agyemang, antiga ministra da Educação, reputada como íntegra, e oriunda do centro do país, uma das regiões-chave para vencer as eleições.
Sem grandes comícios ou manifestações, as várias candidaturas optaram por campanhas porta-a-porta, e os eleitores foram encorajados a ir às urnas por mensagem de texto.
“Há alguns partidos e actividades organizadas pelos apoiantes e slogans políticos que são repetidamente tocados na rádio, mas não há grandes concentrações”, disse à agência France Presse Kojo Asante, do Centro Ganês para o Desenvolvimento Democrático.
A campanha deste ano assumiu contornos diferentes por causa da pandemia do coronavírus, mas também por algum cansaço. “Esta é uma eleição de balanços”, disse à AFP Bernard Twum-Ampofo, um funcionário público, entrevistado na capital. "É preciso comparar os resultados dos dois principais candidatos (...) e escolher o melhor.
O actual Presidente “introduziu as escolas secundárias gratuitas” e Mahama “deu-nos infraestruturas”, disse ainda, acrescentando que ainda não fez a sua escolha.
“Na segunda-feira irei às urnas porque o Gana precisa de uma terceira força, estamos cansados da política da NDC e da NPP”, disse Gifty Inkoom, um estudante de enfermagem.
O Gana tem até agora escapado à violência pós-eleitoral e as transições políticas têm sido pacíficas, ao contrário de muitos dos seus vizinhos da África Ocidental.
O período pré-eleitoral foi, porém, marcado este ano por confrontos, com a oposição a acusar a comissão eleitoral, em particular, de falta de neutralidade.
“As tensões entre as duas formações principais não se dissiparam completamente e os resultados podem vir a ser contestados”, alertou Sam Kwarkye, analista do Instituto de Estudos de Segurança.
As eleições devem, no entanto, decorrer em ambiente calmo, na perspectiva de Kojo Asante, do Centro Ganês para o Desenvolvimento Democrático.
O grande número de observadores internacionais presentes nos locais de voto é sinal de que "todos querem que as eleições no Gana corram bem", disse Asante, para quem "já existem demasiados pontos quentes para tratar na região”.
Na sexta-feira, Nana Akufo-Addo e John Mahama assinaram um “pacto de paz”, comprometendo-se a não promover qualquer violência durante a votação de segunda-feira e o anúncio dos resultados.
Mais de 62 mil efectivos de segurança deslocados em todo o país, de acordo com a polícia, e um “pacto de paz” assinado hoje entre os dois principais rivais na corrida à presidência do país, deverão garantir que tal aconteça.