“Sinto-me esperançosa, hoje. Aliviada”, disse Sandra Lindsay, depois de ter apanhado uma injecção no braço, num hospital de Long Island, Nova Iorque, tornando-se a primeira pessoa a ser tratada naquela que vai ser a maior campanha de vacinação da história dos Estados Unidos.
As remessas de frascos congelados de vacinas produzidas pela Pfizer e pela BioNTech começaram hoje a chegar a hospitais norte-americanos, numa altura em que a pandemia de covid-19 já fez quase 300.000 mortos e o número de novas infecções parece não abrandar.
“Esta é a luz ao fundo do túnel. Mas é um longo túnel”, disse o governador de Nova Iorque, Andrew Cuomo, enquanto assistia à vacinação de Lindsay por vídeo.
Os profissionais de saúde e os residentes de lares de idosos serão os primeiros a receber as vacinas.
“Este é o quilómetro 35 de uma maratona. As pessoas estão cansadas, mas percebem que o fim da corrida se aproxima”, explicou Chris Dale, médico epidemiologista de Seattle.
Também o Presidente dos EUA, Donald Trump, se congratulou por este momento inicial da vacinação no seu país.
“Primeira vacina administrada. Parabéns aos Estados Unidos, parabéns ao mundo!”, escreveu Trump, na sua conta pessoal da rede social Twitter.
Embaladas em gelo seco para permanecer em temperaturas ultracongeladas, as primeiras de quase três milhões de doses enviadas em lotes fizeram o seu trajecto em camiões a partir da fábrica da Pfizer em Kalamazoo, no Michigan, em direcção aos centros de distribuição, onde as autoridades de cada estado determinam o destino de cada dose.
Alguns hospitais norte-americanos passaram o fim-de-semana a rastrear as suas encomendas, actualizando o percurso através dos portais electrónicos das transportadoras FedEx e UPS, para tentar saber a que horas iriam receber as primeiras vacinas.
Este processo vai agora repetir-se semanalmente, quando a entidade reguladora de medicamentos, a FDA, decide se dará luz verde à segunda vacina contra a covid-19, produzida pela farmacêutica Moderna.
O obstáculo para as autoridades norte-americanas é colocar rapidamente a vacina nos braços de milhões de pessoas, começando por médicos e enfermeiras, mas também por idosos em lares, bem como pelos seus zeladores, tendo de repetir a dose três semanas depois.
“Estamos no meio de um surto. E há feriados festivos e os nossos profissionais de saúde estão a trabalhar a um ritmo acelerado há muitos meses”, reconheceu Sue Mashni, chefe de farmácia de um hospital em Nova Iorque.
Os responsáveis do processo de vacinação estão ainda preocupados com as reacções da vacina, que podem causar febre temporária, fadiga e dores, já que aceleram o sistema imunológico das pessoas, obrigando os hospitais a escalonar as vacinações dos funcionários.
Por outro lado, há ainda as cautelas da população, com sondagens a indicar que apenas metade dos norte-americanos afirma querer ser vacinada.
A FDA, considerado a agência reguladora mais exigente do mundo, disse que a vacina da Pfizer/BioNTech parece segura e muito eficaz, mas os especialistas preferem esperar por resultados da sua aplicação em massa para ter uma melhor percepção das características do produto.
Ainda assim, a vacina já foi aplicada a quase 44.000 pessoas, antes de ser aprovada, embora as investigações ainda procurem obter mais respostas para questões adicionais.
Por exemplo, as vacinas ainda não foram estudadas em crianças e durante a gravidez, embora o Colégio Americano de Obstetras tenha dito, no domingo, que a vacinação não deve ser negada a mulheres grávidas.