“É um momento difícil. O Presidente recordou a dramática crise sanitária e os seus graves efeitos na vida das pessoas, na economia e na sociedade. A emergência requer soluções à altura. Respondo positivamente ao chamamento do Presidente”, disse Draghi após uma reunião com o chefe de Estado, Sergio Mattarella.
Draghi admitiu que será um desafio “vencer a pandemia, continuar a campanha de vacinação e relançar o país, mas mostrou-se “confiante de que a união emergira das discussões com os partidos políticos e os grupos parlamentares”.
Mattarella pediu na terça-feira a Draghi para formar Governo para enfrentar imediatamente a crise económica e sanitária causada pela pandemia de covid-19 e também como alternativa às eleições antecipadas.
Pediu também ao Parlamento para aprovar o Governo de emergência face ao fracasso das negociações entre as forças da antiga coligação para a formação de um novo executivo.
“Apelo às forças políticas do país para que deem vida a um Governo que não se identifique” com qualquer partido e que tenha “um alto perfil” para “enfrentar a actual emergência”, disse Mattarella, ao referir-se à crise sanitária, económica e social que o país atravessa.
Na intervenção, o Presidente italiano admitiu que outra opção possível seria a convocação de eleições antecipadas, mas justificou a decisão de não o fazer porque acarretaria a falta de um Governo em pleno funcionamento durante meses cruciais na luta contra a pandemia.
O pedido de Mattarella surgiu depois de o presidente da Câmara dos Deputados de Itália, Roberto Fico, lhe ter comunicado o fracasso da sua mediação para se formar um novo Governo, após a crise política aberta por Matteo Renzi, líder do partido Itália Viva (IV).
“Não se registou qualquer unanimidade nem disponibilidade para dar vida a uma maioria” entre os partidos da coligação, disse Fico à saída de um encontro com Mattarella, a quem comunicou a falta de consenso entre os partidos políticos da antiga coligação governamental liderada pelo então primeiro-ministro, Giuseppe Conte.
A saída da Renzi da coligação governamental desencadeou a crise política, agravada depois pela posterior demissão do primeiro-ministro italiano, há uma semana.
A 13 deste mês, Renzi concretizou as ameaças e anunciou a saída da IV da coligação, tendo anunciado também a demissão do Governo de duas ministras e do subsecretário de Estado pertencentes ao partido.
Cinco dias depois, Conte superou um voto de confiança na Câmara dos Deputados com uma maioria absoluta, mas permaneceu com uma maioria simples no Senado, apesar do apoio dos parlamentares do Grupo Misto, cenário em que a governação se tornou muito complicada.
Renzi defendeu sempre que os motivos que provocaram a ruptura foram a baixa ambição do Plano de Recuperação, com o qual serão distribuídos os fundos europeus para o alívio da pandemia, entre outras razões, voltando hoje ao mesmo argumento.
“Pedimos um salto de qualidade na gestão da coisa pública. Isso significa apostar em projectos que aumentem os empregos […], que melhorem a gestão de vacinas […] e que tenham uma visão para 30 anos, não para 30 minutos”, referiu então.
Terceira economia da zona euro e o primeiro país europeu a ser atingido duramente pela epidemia, Itália enfrenta a sua pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial.
A crise governamental poderá ainda dificultar a aprovação de um novo plano de ajudas públicas de vários milhares de milhões de euros para apoiar os sectores mais afectados pelos confinamentos para travar a progressão do novo coronavírus.