A maioria destes jornalistas, um dos quais responsável por um canal crítico do Governo na plataforma de vídeos Youtube, foi raptada em 30 de Junho, na capital, Adis Abeba, refere a RSF num comunicado hoje divulgado.
A RSF refere que não foi dada qualquer explicação para a detenção dos jornalistas até dia 02 de Julho, quando as autoridades "alegaram, finalmente, que os jornalistas estavam detidos devido à sua filiação num 'grupo terrorista' recentemente banido pelo parlamento etíope, a Frente de Libertação do Povo de Tigray [TPLF, em inglês]".
A TPLF foi acusada pelo primeiro-ministro, Abiy Ahmed, de orquestrar ataques militares contra bases do Exército federal.
Abiy Ahmed, Prémio Nobel da Paz em 2019, lançou uma intervenção militar em 04 de Novembro para derrubar a TPLF, o partido eleito e no poder no estado.
"Condenamos estas detenções em massa de jornalistas, que visam claramente dissuadi-los de investigar independentemente o conflito na região de Tigray", afirmou o director da RSF para África, Arnaud Froger, citado no documento.
"Estas detenções, realizadas com grande opacidade, são ainda mais chocantes porque, há poucos meses, o parlamento etíope votou numa nova lei de imprensa que descriminalizou a maioria dos crimes de imprensa. Apelamos para a libertação imediata e incondicional destes jornalistas", acrescentou Froger, no comunicado partilhado no portal da RSF.
No fim de semana, a Comissão Etíope dos Direitos Humanos, um organismo independente, mas com filiações ao Governo, expressou "graves" preocupações com as detenções, dizendo que "não foi concedido aos detidos o acesso aos seus advogados e famílias".
O Exército federal etíope foi apoiado por forças da Eritreia. Depois de vários dias, Abiy Ahmed declarou vitória em 28 de Novembro, com a captura da capital regional, Mekele, à TPLF, partido que, até à chegada de Abiy Ahmed, controlou a Etiópia durante quase 30 anos.
No entanto os combates continuaram e as forças eritreias são acusadas de conduzirem vários massacres e crimes sexuais.
Em 28 de Junho, Adis Abeba anunciou um cessar-fogo unilateral, aceite, em princípio, pelas forças de Tigray.
No início de Julho, as Nações Unidas alertaram para a deterioração "dramática" da situação humanitária na região, destacando que há cerca de 400.000 pessoas em situação de fome e 1,8 milhões em risco.
A Etiópia ocupa actualmente a posição 101 entre os 180 países que integram o índice anual de Liberdade de Imprensa da RSF.