O que representa o novo governo alemão para a União Europeia?

PorExpresso das Ilhas,9 dez 2021 8:51

Ao fim de 16 anos aos comandos do futuro da Alemanha, Angela Merkel deixará de ser chanceler esta quarta-feira. Deixa o lugar à disposição de Olaf Scholz, o quarto líder socialista na história pós-guerra do país.

Sob a batuta do social-democrata Scholz, o novo governo de coligação resulta de uma aliança entre os verdes, o partido liberal democrático (FDP) e o partido social-democrata (SPD).

É a primeira vez que uma "coligação semáforo" - assim designada por causa das cores dos três partidos (o vermelho do SPD, o amarelo do FDP e o verde) - vai governar o país.

Com o fim da era Merkel, o chanceler social-democrata e os aliados de coligação têm grandes desafios pela frente.

Neste momento, há muitas interrogações sobre até que ponto se verificará uma mudança de abordagem da Alemanha em relação às principais questões europeias.

No acordo de coligação firmado esta terça-feira, os partidos falam numa "responsabilidade especial" para servir a Europa, mas ainda está por perceber de que forma é que o continente será servido de modo tão especial

China

Não há como negar que, a cada ano que passa, a ascensão da China está a começar a moldar cada vez mais a agenda da política externa de Bruxelas.

A abordagem europeia de Merkel em relação à China foi geralmente pontuada pelo interesse próprio alemão. No entanto, isso pode mudar nos próximos anos.

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, descreveu recentemente Pequim como "um concorrente económico e um rival sistémico", mas também "um parceiro necessário para enfrentar os desafios do século XXI."

A este propósito, as visões de Berlim e de Bruxelas estão alinhadas, com o acordo de coligação a dizer que as relações da Alemanha com a China devem ser baseadas em “parceria, concorrência e rivalidade sistémica.”

Mas não é assim tão simples, de acordo com o investigador Markus Ziener, bolseiro do think tank German Marshall Fund (GMF).

“A China é provavelmente uma das principais linhas de conflito no seio do novo governo porque a Alemanha é um país que exporta e importa muito [para a China] e a relação com a China é essencial para a economia. Do ponto de vista económico, o afastamento da China seria muito mau para a economia," sublinhou Ziener à Euronews.

Ziener ressalvou que esse é o lado económico, mas que o lado político pode revelar ainda mais tensão.

“Se falarmos de política, penso que veremos uma mudança porque a nova ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, Annalena Baerbock, dos verdes, quer seguir a via da diplomacia baseada em valores, o que significa que está a dar mais ênfase aos direitos humanos e a fortalecer as forças da democracia”, lembrou o investigador do GMF.

Rússia, Ucrânia e Nord Stream 2

Outra questão que se levanta é: O que fazer em relação à Rússia?

Há várias questões que continuam por resolver com Moscovo e o presidente Vladimir Putin, mas o problema mais actual encontra-se na fronteira da Rússia com a Ucrânia.

O reforço de tropas por parte de Moscovo na zona de fronteira provocou um aumento da tensão e colocou a Ucrânia e a Rússia em pé-de-guerra.

O partido social-democrata alemão (SPD) tem adoptado, geralmente, uma linha mais branda em relação à Rússia, mas Markus Ziener referiu que qualquer incursão de Moscovo em território ucraniano seria impossível de ignorar.

“O partido verde apoia muito a Ucrânia. Por isso, se realmente virmos uma acção militar a acontecer nas próximas semanas ou meses, tenho a certeza de que haverá uma linha mais dura em relação à Rússia,” disse o investigador.

“Não importa se os sociais-democratas são mais brandos com a Rússia. Penso que, neste caso, não há outra maneira a não ser ter uma linha mais dura no que diz respeito a sanções”, acrescentou.

O gasoduto Nord Stream 2, destinado a transportar gás natural da Rússia para a Alemanha, é outra questão complicada com que o governo de Scholz terá de lidar.

A Europa quer libertar-se dos combustíveis fósseis, especialmente vindos de fora do continente e ainda mais de países como a Rússia. Mas há quem argumente que o projecto possa ser usado por Putin contra a UE.

“O Nord Stream 2 é essencial para a Alemanha porque a Alemanha está a eliminar o carvão e, ao mesmo tempo, a energia nuclear, o que significa basicamente que temos de preencher a lacuna de energia que existe. Temos de importar gás de outros lugares. Por isso, o Nord Stream 2 é essencial”, ressalvou Ziener.

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Autoria:Expresso das Ilhas,9 dez 2021 8:51

Editado porAndre Amaral  em  9 set 2022 23:28

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