A resolução, apresentada pelos Estados Unidos da América (EUA) e apoiada pela Ucrânia e outros aliados, obteve 93 votos a favor, 24 contra e 58 abstenções entre os 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU).
Votaram contra o texto países como a Rússia, Bielorrússia, China, Cuba, Síria, Coreia do Norte, Nicarágua ou Irão, e entre os países que se abstiveram estão Brasil, Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Índia ou México.
Dos países lusófonos, apenas Portugal e Timor-Leste votaram a favor e o voto de São Tomé e Príncipe e da Guiné Equatorial não foram registados, segundo o placar da votação apresentado na Assembleia-Geral.
A maioria dos países que votaram contra ou se abstiveram argumentaram que a resolução apresenta um viés político e que os "Direitos Humanos não deveriam ser politizados".
Na história da ONU, apenas a Líbia de Muammar Kadhafi foi suspensa do Conselho de Direitos Humanos, em 2011, também na sequência de uma votação na Assembleia-Geral da ONU.
A proposta de suspensão da Rússia foi apresentada pelos EUA “em estreita coordenação com a Ucrânia e com outros Estados-membros e parceiros da ONU”, como avançou, na segunda-feira, a embaixadora norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield.
Um país que está “a subverter todos os princípios básicos” da organização, com a invasão da Ucrânia, “não pode continuar dentro do Conselho de Direitos Humanos”, afirmou a diplomata na rede social Twitter na ocasião.
Antes da votação de hoje, o embaixador da Ucrânia junto da ONU pediu aos membros da organização internacional que suspendessem a Rússia do principal órgão de Direitos Humanos, afirmando que Moscovo cometeu “horríveis violações e abusos de direitos humanos que seriam equiparados a crimes de guerra e crimes contra humanidade".
"Votem a favor desta resolução e salvem vidas na Ucrânia e ao redor do mundo. Votem 'não' e estão a premir um gatilho", disse o diplomata russo, Sergiy Kyslytsya, perante a Assembleia-Geral da ONU, acrescentando que um voto contrário à resolução seria uma demonstração de "indiferença" semelhante à que em 1993 permitiu o genocídio em Ruanda.
Já o vice-embaixador da Rússia, Gennady Kuzmin, pediu aos membros da ONU que votassem “não”.
“Hoje não é o momento para apresentações teatrais. O que estamos a ver aqui hoje é uma tentativa dos Estados Unidos de manter a sua posição dominante e de controlo total”, afirmou o representante russo.
“Rejeitamos as alegações falsas contra nós, com base em eventos encenados e falsificações amplamente divulgadas”, acrescentou Kuzmin.
Para suspender a Rússia do Conselho de Direitos Humanos era necessária uma maioria de dois terços na Assembleia-Geral, órgão onde se sentam os 193 Estados-membros das Nações Unidas, barreira que foi ultrapassada, embora o texto tenha obtido menos apoio do que as duas resoluções anteriores que condenavam a atuação de Moscovo pela guerra na Ucrânia (140 e 141 votos a favor).
O Conselho de Direitos Humanos, criado em 2006, é o principal fórum das Nações Unidas responsável por promover e monitorizar esta área, sendo composto por 47 Estados-membros, eleitos pela Assembleia-Geral das Nações Unidas.
Tanto a Ucrânia como a Rússia são atualmente membros do Conselho, sendo que o mandato russo expira em 2023.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que matou pelo menos 1.611 civis, incluindo 131 crianças, e feriu 2.227, entre os quais 191 menores, segundo os mais recentes dados da ONU, que alerta para a probabilidade de o número real de vítimas civis ser muito maior.
A guerra já causou um número indeterminado de baixas militares e a fuga de mais de 11 milhões de pessoas, das quais 4,3 milhões para os países vizinhos.
Esta é a pior crise de refugiados na Europa desde a II Guerra Mundial (1939-1945) e as Nações Unidas calculam que cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.