“Fiquem nos abrigos!", instou, na plataforma digital Telegram, o dirigente da administração militar da cidade de Kyiv, Serguiï Popko, depois de essa administração ter indicado que "12 alvos aéreos da capital foram destruídos a partir do ar".
"Todos os serviços de emergência foram accionados", escreveu, por seu lado, o presidente da câmara de Kyiv, Vitali Klitshcko, que relatou a ocorrência de explosões no bairro de Desnyanskyi, no nordeste da capital, acrescentando que um rapaz de 19 anos ficou ferido por estilhaços de vidro e foi transportado para o hospital.
Bombardeamentos ocorridos pouco antes e após a passagem de ano para 2023, a Kyiv e mais sete regiões, tinham já feito pelo menos quatro mortos e 50 feridos, segundo as autoridades ucranianas.
Por sua vez, Moscovo afirmou ter atingido instalações de fabrico de 'drones' (aeronaves não-tripuladas).
No centro de Kyiv, um míssil destruiu, na noite da passagem de ano, a fachada de um hotel, ao passo que o chefe da polícia local, Andriï Nebitov, divulgou uma fotografia na rede social Facebook mostrando o que parece ser o que resta de um 'drone' com as palavras "Bom Ano" escritas em russo.
A Força Aérea ucraniana, por seu lado, anunciou ter abatido, durante a noite de sábado para domingo, 45 'drones' explosivos Shahed, produzidos pelo Irão e lançados pela Rússia, sem precisar se alguns deles tinham atingido os respetivos alvos.
Depois, ao longo do dia de domingo, "o inimigo efectuou 35 ataques aéreos, utilizando em particular o 'drone' Shahed-136", e todos os engenhos disparados pela Rússia foram destruídos, anunciou ao fim da tarde o Estado-Maior do Exército ucraniano.
Além disso, acrescentou, "os ocupantes russos dispararam 16 vezes lança-'rockets' múltiplos, em especial sobre o hospital pediátrico de Kherson", uma cidade meridional regularmente bombardeada desde que foi recuperada, no Outono passado, pelos militares ucranianos.
"Os russos estão a perder. Os 'drones', os mísseis e tudo o resto não os ajudarão. Porque nós estamos unidos", reagiu no domingo à noite o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
"E eles não vão tirar um único ano à Ucrânia, eles não nos retirarão a nossa independência. Nós não lhes daremos nada. Responderemos a cada ataque russo [...] a todas as nossas cidades e comunidades", insistiu.
Moscovo, por sua vez, assegurou ter procedido na noite de sábado para domingo a "um ataque aéreo de precisão de longo alcance contra instalações da indústria da defesa ucraniana envolvidas no fabrico de 'drones' de ataque utilizados para levar a cabo ataques terroristas contra a Rússia".
O Kremlin classifica com frequência como "actos terroristas" as operações militares ucranianas em território russo ou contra infra-estruturas russas na Ucrânia.
O exército russo declarou ainda prosseguir a sua ofensiva na região de Donetsk, no leste da Ucrânia, onde actualmente se concentra a maioria dos combates.
O Estado-Maior do Exército ucraniano sublinhou no domingo à noite, a esse propósito, que "o inimigo [...] continuava a tentar efectuar ataques no sector de Bakhmut", uma cidade daquela região que os russos tentam tomar há mais de seis meses, com um balanço de pesadas baixas de ambos os lados e um inimaginável grau de destruição.
Os soldados envolvidos nessa batalha encontram-se num estado de "incrível fadiga" física e emocional, e, nesta guerra de desgaste sem fim à vista, alguns acabam por ver-se "como carne para canhão, que apenas serve para ser enviada para a morte certa", explicou no local um jovem capelão militar ucraniano citado pela agência francesa AFP, Mark Kuptshenenko, que todos os dias vai até à frente de batalha.
Não há ou praticamente não há rotações, "eles estão em permanente combate", sob uma pressão enorme, sob ordens que por vezes já não compreendem, disse ainda.
Do lado pró-russo, as autoridades dos territórios separatistas do leste da Ucrânia relataram a morte de um civil em bombardeamentos ucranianos no domingo em Iassynuvata, na região de Donetsk.
Segundo as autoridades pró-russas, as forças ucranianas também atacaram Donetsk e a localidade vizinha, Makiïvka, logo após a meia-noite, fazendo pelo menos 15 feridos.
A ofensiva militar lançada em 24 de Fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa - justificada pelo Presidente Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 313.º dia, 6.884 civis mortos e 10.947 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.