A análise é do Investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL(CEI-IUL) Eugénio Costa Almeida, a propósito da visita a Angola dos reis de Espanha, Filipe VI e Letizia, a partir de segunda-feira, na sua primeira deslocação a um país da África subsaariana.
“Houve sempre uma aproximação grande entre Espanha e Angola”, disse o analista, lembrando a permanência de José Eduardo dos Santos, o presidente angolano falecido em Julho do ano passado, em Barcelona, onde passou os seus últimos anos de vida.
Madrid e Luanda têm estreitado relações nos últimos anos, em termos diplomáticos, com visitas ao mais alto nível: João Lourenço, eleito presidente em 2017, visitou nesse mesmo ano Espanha, ainda na qualidade de ministro da Defesa Nacional, e repetiu a passagem pelo país, já como chefe do executivo, em 2021, ano em que recebeu também o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez em Angola.
“Esta visita também terá essa função de afirmar institucionalmente, diplomaticamente, a boa relação que existe entre o reino de Espanha e a República de Angola”, sublinhou o investigador.
Mas também no plano económico e políticos a aproximação é evidente.
É um espanhol que lidera actualmente a companhia de bandeira angolana TAAG, foi uma empresa espanhola que foi escolhida para assegurar a logística eleitoral das eleições do ano passado (apesar da contestação da oposição), e foi em Espanha que se disputou o corpo de José Eduardo dos Santos.
Em alguns aspectos, o analista considera até que há uma melhor relação institucional entre Luanda e Madrid do que entre Luanda e Lisboa, sublinhando que Madrid está mais perto do centro da Europa do que Lisboa.
Enquanto Portugal mantém uma relação “mais familiar” com Angola, onde há “altos e baixos, arrufos, zangas”, outras relações são mais institucionais, centradas em interesses económicos e político-partidários, disse, considerando ainda que João Lourenço tende a aproximar-se cada vez mais do bloco ocidental.
“Madrid está muito mais próxima do eixo Paris-Berlim, que é quem gere a União Europeia do que Lisboa, e aí compreende-se a posição do governo de Angola. Portugal poderá achar que está a ficar subalternizado, mas é o governo de António Costa que tem de saber o que tem de fazer. Os países têm interesses a defender”, observou.
Segundo o programa a que a Lusa teve acesso, a chegada dos monarcas espanhóis está prevista para segunda-feira, mas a visita oficial inicia-se apenas na terça-feira com uma deslocação à Praça da Republica – onde se encontra o Memorial António Agostinho Neto e o jazigo do ex-Presidente José Eduardo dos Santos – a anteceder um encontro com João Lourenço.
No Palácio Presidencial está prevista uma cerimónia de condecorações e a assinatura de acordos, seguindo-se, na parte da tarde, uma passagem pelo edifício do Banco Económico, onde será inaugurada uma exposição do pintor catalão Joan Miró, e um encontro com a comunidade espanhola.
O fórum empresarial, que reúne empresários dos dois países, terá lugar na quarta-feira.
No mesmo dia, os reis de Espanha visitam ainda a Assembleia Nacional e o Museu de História Militar, antes de regressarem ao país na parte da tarde.