NATO. Macron falou em "morte cerebral" mas aliados estão mais envolvidos

PorExpresso das Ilhas, Lusa,7 jul 2023 8:01

Em Vílnius os Estados-membros da NATO querem reforçar a ideia de que a Aliança Atlântica está longe da "morte cerebral" preconizada em 2019 por Macron e demonstrar que todos têm consciência de que esta é a "década decisiva".

Dentro de uma organização que tem, por vezes, dificuldade em encontrar consensos, o "apoio inequívoco" à Ucrânia, como referiu inúmeras vezes o secretário-geral, Jens Stoltenberg, é proclamado em uníssono pelos 31 países que hoje compõem a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

Mas não é apenas esta a mensagem que os Estados-membros querem transmitir para os adversários e para outros países que um dia ambicionem integrar a Aliança Atlântica.

Em 2019, o Presidente da França, Emmanuel Macron, abalou os alicerces da organização quando preconizou a "morte cerebral" da NATO, apontando a perda de influência e importância no panorama geopolítico internacional.

O contexto da altura importa. Donald Trump era então o Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), o país que encabeça a Aliança Atlântica desde o início e cuja orientação tem mais peso nas decisões da organização político-militar.

Trump foi um ávido crítico durante o seu mandato em relação ao quanto Washington investia na NATO em comparação com os outros Estados-membros e chegou a colocar em causa a permanência dos EUA.

Do outro lado do Atlântico, Emmanuel Macron olhou para o cepticismo do homólogo norte-americano como uma oportunidade para introduzir uma agenda da União Europeia (UE) na NATO e apresentá-la como um polo de liderança. Hoje 22 dos 27 Estados-membros da UE estão na NATO, que é composta por 31 países.

Uma agenda mais europeia faria com que Paris ganhasse outra preponderância dentro da organização, à semelhança do que já acontece quando as decisões são concertadas ao nível da UE.

Mas a "morte cerebral" foi encarada pelo NATO como uma mensagem que poderia ganhar tracção em países adversários, nomeadamente, a China, Rússia ou o Irão. E que era necessário contrariar.

Por essa razão, os esforços que estavam a ser encetados desde 2014 com a invasão da Crimeia, na Ucrânia, pela Rússia ganharam outro fôlego. A partir dessa altura Jens Stoltenberg começou a insistir com maior veemência na necessidade de os Estados-membros investirem mais na Defesa, para uniformizar o mais possível as capacidades dos países e demonstrar que as declarações de "morte cerebral" estavam erradas.

Oficiais da NATO consideraram que o apoio, ainda que pouco declarado, que começou a ser prestado à Ucrânia depois do 'ensaio' na Crimeia acabou por compensar e impediu a queda do país nos primeiros dias da invasão que começou em Fevereiro de 2022.

A Presidência de Joe Biden, sucessor de Trump, desfez os receios de uma saída dos EUA da Aliança Atlântica e reforçou a posição de Washington como o 'cabeça-de-cartaz'.

Em Setembro de 2021, nas Nações Unidas, Biden falou de uma "década decisiva" para o mundo e anunciou que queria revitalizar a NATO para fazer face um mundo que estava em profundas alterações e que meses mais acordaria para uma invasão em larga escala da Rússia.

A guerra forçou inevitavelmente a preponderância europeia na NATO, por haver preocupações de que o conflito na Ucrânia pudesse alastrar, por exemplo, à Lituânia e outros países da região do Báltico.

Por isso, a organização começou a reforço das posições nesta área geográfica para se reenquadrar à ameaça russa. Em 2022, durante a cimeira de Madrid, os Estados-membros, na altura ainda 30, concordaram em aumentar o número de militares em prontidão e em reforçar aquele flanco que faz fronteira com a Rússia.

Os batalhões dariam lugar às brigadas e é expectável que na cimeira da próxima semana haja avanços para aumentar o número de soldados que, se a circunstâncias assim o ditarem, rapidamente possam estar ao serviço do Comando Supremo Aliado da NATO. São 40.000 actualmente, mas o objectivo é atingir os 300.000 o quanto antes.

Paralelamente à NATO, os 27 Estados-membros da União Europeia, muitos dos quais, como Portugal, ainda aquém dos 2% do Produto Interno Bruto (PIB) como mínimo de investimento da Defesa, querem reforçar a sua indústria de armamento e tecnológica nesta área, para que a Europa não fique atrás dos outros aliados, ainda para mais agora, que a guerra está "às portas".

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,7 jul 2023 8:01

Editado porAndre Amaral  em  1 abr 2024 23:29

pub.

pub.

pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.