Numa entrevista à agência de notícias Europa Press, o diretor de inclusão social da Cruz Vermelha espanhola, José Javier Sánchez Espinosa, declarou que se trata de uma emergência humanitária causada pelo aumento de migrantes que atravessam as ilhas Canárias.
A Cruz Vermelha espanhola é uma das 19 organizações não-governamentais (ONG) que trabalham no mecanismo de acolhimento de emergência em conjunto com o Ministério da Inclusão, Segurança Social e Migração de Espanha.
Sobre a operação realizada pela Cruz Vermelha para atender às necessidades dos migrantes que chegam às Canárias, Sánchez Espinosa sublinhou que em outubro "as chegadas estão a ser muito numerosas", mas acrescentou que, desde junho, tem-se confirmado um "nível de chegadas superiores" ao registado até agora.
Neste contexto, o funcionário da Cruz Vermelha declarou "que, inicialmente, as primeiras chegadas, tanto ao continente como às ilhas Canárias, foram acolhidas no sistema habitual de assistência humanitária" da ONG.
"Como o volume tem sido muito elevado, neste momento o que estamos fundamentalmente a fazer é expandir os locais de acolhimento, sobretudo aqui na Península. É verdade que também expandimos um pouco nas Canárias", esclareceu.
A Cruz Vermelha colabora na organização das transferências de migrantes para o continente, embora o encaminhamento dependa da secretaria de Estado das Migrações do Ministério da Inclusão espanhol.
Assim, Sánchez Espinosa explica que, uma vez encaminhados para os novos centros, "a forma de cuidar deles será a mesma" que nos centros do sistema de assistência humanitária.
Especificamente, detalhou que "haverá uma primeira receção, onde a primeira coisa é verificar quais as necessidades básicas que devem ser atendidas e o alojamento em si".
O objetivo final da abordagem da Cruz Vermelha é detetar os variados tipos de situações e resolvê-los, bem como determinar que redes de apoio social podem prestar ajuda em Espanha. A ONG também está em processo de expansão de pessoal.
Sobre o perfil de quem chega a Espanha, Sánchez Espinosa destacou que, numa comparação com o mesmo período de 2022, a percentagem de mulheres diminuiu "consideravelmente", o que significa que o perfil maioritário é de jovens entre os 18 e os 40 anos, que vêm sozinhos, "um número significativo de origem senegalesa".
Normalmente, não passam mais de um mês nos centros das ONG, pois "continuam os seus projetos de migração com as redes de apoio a que possam recorrer", relatou. No caso dos perfis mais vulneráveis, famílias que normalmente são mulheres e com filhos dependentes, a atenção dada é diferenciada.
Entre 01 de janeiro e 15 de outubro, chegaram às Canárias, em embarcações precárias e em situação irregular, 23.537 pessoas, um número só superado pelo de todo o ano de 2006 (31.678 migrantes), segundo os dados do Ministério da Administração Interna de Espanha.
Só na primeira quinzena de outubro, as autoridades espanholas registaram a chegada de 8.561 pessoas ao arquipélago, mais 79% do que no mesmo período do ano passado.
Durante 2022 e no primeiro semestre de 2023, a designada "rota das Canárias" das migrações, uma das mais perigosas a partir do continente africano, parecia estar a dar sinais de estabilização ou mesmo de descida no número de chegadas. No entanto, nos meses do verão, a tendência de descida alterou-se e os números de chegada começaram a subir.
Espanha é um dos países europeus que lida com maior número de entradas de migrantes em situação irregular na Europa, através das costas do Mediterrâneo e dos arquipélagos das Canárias e das Baleares.