Israel: Jornalistas redobram cautela face a dificuldade a cobrir conflito

PorExpresso das Ilhas, Lusa,27 out 2023 14:19

Meios de comunicação social ocidentais admitiram que as dificuldades na cobertura da guerra entre Israel e o Hamas obrigaram a redobrar cautelas, face à propaganda, às redes sociais e a uma opinião pública em ebulição.

"Esta guerra é uma das histórias mais complexas e divisivas que alguma vez cobrimos", resumiu a diretora de notícias da britânica BBC, Deborah Turness.

Num trabalho sobre a questão, a AFP referiu que a primeira particularidade é que os jornalistas estrangeiros não podem ir a Gaza devido ao bloqueio israelita e à falta de acesso através do Egipto.

Os únicos que permanecem em Gaza são os jornalistas palestinianos, que fornecem imagens e informações aos meios de comunicação internacionais. Mas eles próprios estão limitados pelos bombardeamentos e pela escassez de combustível e eletricidade.

Segundo o seu sindicato, 22 jornalistas foram mortos na Faixa de Gaza desde o início da guerra, na sequência do ataque do grupo islamita palestiniano em Israel, em 07 de Outubro.

"Noutros conflitos, tivemos sempre a possibilidade de ter correspondentes especiais. Aqui, as nossas equipas em Gaza estão isoladas do mundo", disse o diretor de informação da AFP, Phil Chetwynd.

A AFP tem um escritório na cidade de Gaza, mas os cerca de 10 jornalistas tiveram de se refugiar no sul do território, onde vivem em condições precárias, alguns em tendas, segundo a agência francesa.

Em Israel, o Governo contabiliza 2.050 jornalistas a cobrir o conflito, com os norte-americanos em maior número (358), seguidos dos britânicos (281) e dos franceses (221).

A Ucrânia, que está em guerra com a Rússia, enviou dois jornalistas.

A "asfixia mediática" de Gaza - como descreveu a organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) - deixa os jornalistas mais dependentes de "fontes 'oficiais' de cada parte, sem poderem verificar a veracidade", lamentou a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ).

"Confundindo rapidez com precipitação, muitos meios de comunicação social publicaram informações e imagens falsas, não contextualizadas e não verificadas", criticou a FIJ.

A AFP destacou as alegações sobre a decapitação de bebés pelo Hamas, que foram amplamente divulgadas, mas não puderam ser verificadas, e o caso do hospital Ahli Arab, em Gaza.

Em 17 de Outubro, vários 'media', incluindo a AFP e a Lusa, noticiaram que o Ministério da Saúde do Hamas tinha anunciado a morte de centenas de pessoas num ataque ao hospital, que atribuiu a Israel.

Os números avançados pelo Hamas variaram de "200 e 300" a 500.

Israel desmentiu a informação, afirmando que se tratava de um ataque falhado do movimento palestiniano Jihad Islâmica.

Muitos meios de comunicação social têm-se inclinado para esta versão, com base em fontes de informação ou análises de vídeo, embora permaneçam incertezas sobre autores e número de vítimas.

Os jornais New York Times e Le Monde pediram desculpa publicamente.

"As primeiras versões da cobertura (...) baseavam-se demasiado nas afirmações do Hamas e não deixavam claro que essas afirmações não podiam ser imediatamente verificadas", admitiu o jornal norte-americano na segunda-feira.

"Faltou-nos prudência", concordou o diário francês na terça-feira.

A AFP também fez 'mea culpa'.

"Posso ver fraquezas na forma como apresentámos as notícias: éramos obrigados a noticiá-las, mas, em retrospetiva, poderíamos tê-las escrito com mais cautela na redação e com mais contexto sobre o que não sabíamos", admitiu Phil Chetwynd.

"É fácil fazer uma retrospetiva, mas em tempo real é menos óbvio", acrescentou.

A tarefa é ainda mais complicada pelo facto de a mais pequena declaração ou imagem poder tornar-se viral nas redes sociais, suscitando acusações de parcialidade de uma opinião pública já muito dividida.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,27 out 2023 14:19

Editado porAndre Amaral  em  28 out 2023 10:58

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